sábado, 21 de novembro de 2015

Indizíveis, Francisco Vaz Brasil



Indizíveis
Francisco Vaz Brasil


No instituto médico-legal
Dissecaram o corpo da palavra
Com um ereto cinzel diamantado...
- a placa de Petri, horrorizada, observa
Paredes hirtas, tijolos escarlates
Espectros imemoriais, silêncios lancinantes
(gritos, lascívia, preguiça, prazer...)
De gesso, tosco pensamento urge:
A palavra, sonora e fria solenemente
reage, nega, renega, sonega, protesta,
em súplicas, réplicas e tréplicas;
mexe, remexe, fragmenta-se em sóis:
Pedaços de literariedade e sons de cítara escorraçada...
E o meu computador insiste em escondê-la
E agora multiplica-se, saltando como uma matrix
Projetando-se na tela
(e não sei como ordená-las
Em frases para dizer que te amo,
Nem canções que explicitem adeus)
- puras reflexões incorpóreas, sem arquitetura.
Murmúrios, marulhos, lamúrias, entretendendo-se,
originam a frase (?)
Travestida, mal-acabada entre grãos de areia multicolor,
entre verbos e pronomes, sujeitos malpredicados,
Predicativos de erros e metáforas sem rumo,
Intertextualidade arrítmica
( um rosto novo, pele nova e opressora)
A geografia de teu corpo, palavra,
Inacessível-sensaborosa-transcendental,
Está na curva, inscrita na íris do olho,
Circunspecta, onde dúvida e incerteza pairam
Numa canção do aonde se insere o onde
E o quando não tem porque,
E a seta de um seio duro
aponta
a direção
do pensamento-incoeso-incoerente-perplexo
desamparado-circunflexo
a- nexo, a-plexo,
ponto desconectado...
Silêncios perniciosos de fonemas inservíveis,
Cobras y lagartos mudos
– e tu, palavra, não sais
- você não sabe o que é sentir-se
hirto como um morto,
Náufrago do pensamento perdido:
- parir um poema é mais fácil que criá-lo.
Se bem que além-mar os peixes combinam danças
E seus colares de letras indizíveis
projetam meu olhar em tua direção - palavra...

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