domingo, 17 de julho de 2016

Se você não tem tempo para praticar um hobby, então você não tem tempo para ser você mesmo. Por Rebeca Bedone



Se você não tem tempo para praticar um hobby, então você não tem tempo para ser você mesmo




Revista Bula, em Colunistas


Um dia você deixou de ser criança. Foi preciso trabalhar e ajudar com as contas de casa. Você estudou para entrar na faculdade. Tornou-se independente. Teve filhos. E deixou definitivamente o seu mundo perfeito para trás, junto com as princesas no castelo e as lutas contra o Darth Vader. Esqueceu-se daquelas guerras imaginárias em que o herói sempre foi você.
Você aprendeu que o mundo de verdade é cruel, e que guerras reais derramam sangue e espalham tristeza. Você se acostumou com as injustiças do mundo. Também descobriu que nem sempre seria o vencedor de suas batalhas pessoais.
Sem perceber, às vezes, você vive no automático. Mas, um dia, pisca os olhos e se assusta com o tempo que passou rápido demais. Nesse momento de íntima revelação inquieta, você se lamenta. Chora. Lembra-se de suas derrotas e seus desamores. E percebe que o tempo não espera para que você se recupere de suas dores.
Porque vivemos apressados. Estressados. O trânsito caótico é o reflexo de nossas emoções. O sinal está fechado. Abre. Enquanto você pisa no acelerador para seguir com seu carro, o cara de trás buzina. Esse ocorrido é irritante. Você volta pra casa sem ânimo. Não é somente cansaço físico. Há uma angústia acumulada por causa de noites mal dormidas, refeições puladas que foram substituídas por qualquer fast-food e preocupações com o orçamento da casa.
Quando as coisas não estão claras dentro de você, tudo fica nebuloso lá fora. Não é possível olhar para a vida com fé e boa vontade enquanto você não souber lidar com os seus próprios tormentos. É preciso sair do túnel extenso e sem luz por onde você tem caminhado em terreno incerto e curvas duvidosas.
Você precisa mudar o rumo do seu percurso: a vida não é só trabalhar. Não vivemos somente para pagar contas. Não é possível que estejamos no mundo só de passagem. Precisamos fazer parte dele, olhando ao nosso redor e estimulando os nossos sentidos. Quando estamos felizes, o convívio entre nós fica bem mais tranquilo. Não precisaremos buzinar na cabeça um do outro por qualquer bobagem.
A maioria das pessoas se assusta com o que sente. É aí que está o segredo: permitir sentir. Abrir os olhos do coração e deixar fluir o que vem de dentro.
Como? Praticando um hobby.
Não é preciso ser especialista e nem querer ser o melhor no que irá desenvolver, só é preciso ser sincero com você mesmo. Os hobbies que praticamos tornam a vida mais leve, o trabalho mais prazeroso e os relacionamentos mais sinceros.
Faça jardinagem, pintura ou bordado. Escreva, cante, dance. Comece a velejar, pedalar ou correr. Transpire. Desabafe. Invente. Volte a ser criança em seus pensamentos. Resgate a infância que lhe fazia crer no impossível. Seja o herói de si mesmo. Deixe a alma repousar tranquila enquanto você encontra luz em seu subterrâneo.
Acredite, o suor tomará o lugar de suas lágrimas. O silêncio da alma fará música em sua imaginação, acalentando a inquietude no peito e suas aflições. E a inspiração fará transcender o sentimento ainda inominado oriundo de seus vazios.
Um dia, o hobby que você pratica deixará de ser um simples passatempo. Ele será o caminho por onde você deve continuar seguindo a si mesmo.

http://www.revistabula.com/6575-se-voce-nao-tem-tempo-para-praticar-um-hobby-entao-voce-nao-tem-tempo-para-ser-voce-mesmo/

Aprendizagem, Flávio Carneiro



Aprendizagem

Flávio Carneiro



- Mãe, cabelo demora quanto tempo pra crescer?
- Hã?
- Se eu cortar meu cabelo hoje, quando é que ele vai crescer de novo?
- Cabelo está sempre crescendo, Beatriz. É que nem unha.
A comparação deixa a menina meio confusa. Ela não está preocupada com unhas.
- Todo dia, mãe?
- É, só que a gente não repara.
- Por quê?
- Porque as pessoas têm mais o que fazer, não acha?
A menina não sabe se essa é uma pergunta do tipo que precisa ser respondida ou é daquelas que a gente ouve e pronto. Prefere não responder.
- Você é muito ocupada, não é, mãe?
- Hã?
- Nada, não.
A mãe termina de passar a roupa e vai guardando tudo no armário.
Enquanto isso, Beatriz corre até o quartinho de costura, pega a fita métrica e mede novamente o cabelo da boneca. Ela tinha cortado aquele cabelo com todo o cuidado do mundo, pra ficar parecido com o da mãe, mas a verdade é que ficou meio torto.
"Nada, não cresceu nada", ela conclui, guardando a fita. E já tem uma semana!
Depois volta para onde está a mãe, que agora lustra os móveis.
- Mãe, existe alguma doença que faz o cabelo da gente não crescer?
- Mas de novo essa conversa de cabelo! Não tem outra coisa pra pensar não, criatura?
Sobre essa pergunta não há dúvida: é do tipo que você não deve responder.
A mãe continua trabalhando. Precisa se apressar. Dali a pouco a patroa chega da rua e o almoço nem está pronto ainda.
- Mãe!
- O que foi?
- É que eu estava aqui pensando.
- Pensando o quê?
Beatriz não responde. Espera um pouco, tentando achar as palavras certas.
- Vai, fala logo.
- Quando a gente faz uma coisa, sabe, e não dá mais para voltar atrás, entendeu?
- Não, não entendi.
Ela abaixa a cabeça, dá um tempinho e resolve arriscar:
- Então, se você não entendeu, posso continuar perguntando sobre cabelo?
- Ai, meu Deus!
Beatriz deixa a mãe trabalhando e vai procurar de novo sua boneca.
Pega a boneca no colo e diz no ouvido dela:
- Não liga, não. Cabelo de boneca é assim mesmo, cresce devagar, viu?
E com um carinho:
- Foi minha mãe que me ensinou.

Flávio Carneiro, autor deste conto, é roteirista, ensaísta e professor de Literatura. Tem 11 livros publicados, dentre eles, A Distância das Coisas (Editora SM), vencedor do III Prêmio Barco a Vapor.
Ilustração: Eva Uviedo

Fonte...

Um Canto Oculto, Francisco Vaz Brasil





Um Canto Oculto
Francisco Vaz Brasil



Sou eu quem quando estás triste, canto para alegrar e mudar teu dia. 
 
Sou eu que neste canto procuro fazer-te perceber que há outras coisas na vida além do dinheiro e da vaidade mundana. 

Sou eu que aqui do alto tento te mostrar que há outros caminhos a serem seguidos, mas tu, tu não consegues perceber nada. 

Um dia, quem sabe ouvirás minhas melodias - aquelas que te faziam parar e volver teu olhar para uma realidade que nunca te abandonou: 

Eu sou o teu pássaro, o teu canto, o teu amor!