domingo, 27 de julho de 2008

Historinha 2, por francisco vaz brasil

Historinha 2

francisco vaz brasil

Ele saiu da selva amazônica

Em busca de um sonho inatingível

- percorreu o Amazonas

Numa canoa de casca de Jatobá,

Para pescar com anzol

O pirarucu do jantar

Burilou palavras indizíveis e poematizou o poema

-como o fez João Cabral-

Para falar-lhe de ternura

& emoções mais íntimas d’alma

Revolveu os Andes, oceanos, gramáticas,

Física quântica, vulcões, tempestades & paradoxos

Na busca da tiara de flores que mais enfeitasse

Os cabelos da princesa...

Correu quilômetros inimagináveis

Da Transamazônica às calçadas de Andaluzia

Para trazer-lhe a gema mais valorosa...

Vestiu um Armani azul marinho

Virou Dom Quixote de La Mancha

Invadiu os nove infernos de Dante,

Mergulhou as águas do Sena, tal Celan

Entortou chifres de touros nas arenas de Madri,

Fechou o Canal da Mancha, banhou na Baía do Guajará,

Entupiu poços de petróleo no Oriente Médio...

Pela princesa invadiu as noites de Damasco e Paris,

Catou as estrelas de Exupéry junto ao luar do sertão

Para enfeitar seu olhar com as cores mais multicores

Por ela roubou dos pássaros canoros

A canção mais ternamente linda y sensual

Para enternecer-lhe os momentos...

Por ela, fez curso de poeta

Para escrever-lhe os versos mais belos

e eternizar em fonemas & frases

De um rock and roll pra lá de onírico

e dizer que a adorava princesa...


Era um três de outubro, por francisco vaz brasil

Era um três de outubro

francisco vaz brasil

era um três de outubro,

manhã de domingo.

Transeuntes y caminhantes,

canoeiros y caminhoneiros,

-mais de dois milhões,

como carneirinhos doutrinados

com suas sandálias calçados,

surradas indumentárias,

apressadamente surgiam.

E muitos pensavam (?)

em mudanças, outros,

radicalmente contrários.

Eram milhares

naquela andança em outubro:

ricos, pobres, pretos brancos,

desnutridos, falidos, loucos,

- reféns de sonhos.

Sob o sol equatorial,

um rio de gente

com seus sorrisos amarelos

óculos escuros

óbulos obscuros,

lábios contorcidos

bílis escarlate,

hálitos odorosos,

cáries e próteses expostas

transeuntes de um outubro

inimaginavelmente amazônico

de um continente chamado Pará...

Nos muros, espelhados,

os resquícios de uma batalha:

outdoors com fotografias

e nomes gravados a tinta y sangue

dos deuses das geografias,

dos nobilíssimos sócios do ócio;

Nas tevês, rádios, alto-falantes,

frescas notícias iraquianas,

horóscopos oníricos/satíricos,

bombardeios de beijos e abraços,

pesquisas capciosas/indecisas

y parábolas de amor e ódio.

E toda gente foi chegando,

sadicamente portando

canetas coloridas de ilusão

e títulos pudicamente verdes

na ignorância e desejo...

Um poeta menino

com seus olhinhos vermelhos

e mãos crispadas aos céus

daquele três de outubro,

taciturno/perplexo/apático,

murmurava em mudez esperançada:

- serão todos andróides

das promessas de melhor dia?

Portas e vitrines fechadas,

cacos de Coca Cola no chão

cartazes e santinhos espalhados

sujos de escárnio e promessas

a não cumprir;

Cidades revoltas em pó,

de fome, pneus, esquecimentos...

Corruptíveis e corruptores,

mãos dadas, punhos cerrados

em rapinada calculada

avançam sansanicamente

em direção aos prédio e palácios

(cujas portas se abriam mansamente

como suaves coxas morenas,

para a penetração do rio,

em fúria/ânsia/saciar o cio).

A cem metros das manhãs,

um proletário, partidário da poesia

implorava o voto

do andante retardatário:

- Pense nas crianças

violentadas/sem pão;

- Pense nas pessoas

sem labor/lar/educação;

- Pense nas meninas

inocentes/prostituídas;

- Pense em você,

porque teu voto vai te afetar.

Porque há homens que pouco

Se importam se você

vai à capela ou ao banheiro.

Há um carpinteiro (em disponibilidade)

para consertar a porta do teu Pará.

- Este é um três de outubro

de chances para você...

Viagem através do tempo do homem, por francisco vaz brasil

Viagem através do tempo do homem

francisco vaz brasil

“i don’t wanna be a soldier mamma,

i don’t wanna die…”

eu não quero ser soldado, mamãe,

eu não quero morrer,

ser mais uma vítima

da eterna intolerância humana...

preciso contar às crianças vindouras

alguma história das belas manhãs de janeiro

e dos memoráveis idílios y factos das humanas eras...

primeiro fui nômade, inventei a roda;

fiz fogo atritando pedras;

inventei a ólvora;

senti fome e cacei;

senti frio e criei abrigo, choupanas, vilas e cidades;

organizei linguagens e gramáticas;

decifrei a pedra da roseta egípcia;

criei bulas, calendário, bússola, caleidoscópio;

fomentei o escambo e organizei mercados e bolsas...

eu não quero ser soldado mamãe,

não quero morrer entrincheirado na lama,

ser alvo de metralhadoras e mísseis assassinos,

alimento de ratos e piolhos ou vítima da peste negra...

tuaregue no Saara, lá amei Cleópatra;

tive riquezas no antigo Mali;

em 1324 Mansa Mali fez-me companhia

na peregrinação à Meca,

dever muçulmano uma vez na vida...

vi

Napoleão sonhar com Waterloo,

Ghandi libertar a Índia,

Joana D’Arc vencer os ingleses em Reims

e ser queimada em praça, com a bênção da Inquisição.

Vi

A cabeça de João Batista na bandeja de Salomé;

os cafezais venezuelanos de Simon Bolívar;

a abertura do Suez, entre Europa e Índia;

Murasaki Shikibu contando A História de Genji;

o índio e a loira amando-se na linha do horizonte

e Coca Cola sendo saboreada em Shanghai...

quero contar às crianças vindouras

como o sultão Maomé conquistou Constantinopla em 1453;

porque Santos Dumont pilotou o 14-Bis e suicidou-se;

sobre as lições de anatomia de Andréas Vesalius, em Pádua;

o Ser ou Não Ser, de Hamlet, em Shakespeare;

sobre Henry Ford e o Ford T;

sobre as guilhotinas da Bastilha na Revolução Francesa;

sobre a locomotiva de George Stephenson;

sobre Alexander Graham Bell e o telefone;

do mofo que salva, na penicilina de Fleming;

sobre Openheimer e a bomba atômica no dia

em que a Terra parou sob o bombardeiro Enola Gay

ignorando as crianças de Hiroshima e Nagasaki...

eu não quero ser soldado mamãe;

eu não quero morrer sem bancar o sofista;

sem poder rever Anaxímenes, Sócrates, Aristóteles, Platão.

Eu preciso dizer às crianças vindouras,

de Sapho, Shelley, Sheldon, Celan, Drummond e Cabral;

de Cecília, Paes Loureiro, Max Martins, Neruda e Cervantes;

dos infernos de Dante na Divina Comédia;

da Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud;

do telégrafo de Guglielmo Marconi;

comentar com elas as Leis de Newton e as teorias de Einstein;

estudar com elas a Origem das Espécies de Charles Darwin,

os trabalhos de Vital Brasil e a Lei das Doze Tábuas...

eu preciso viajar com as crianças vindouras

as trilhas de Marco Pólo, Colombo e Pedro Álvares Cabral;

de Ibn Battuta, Zheng He, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães,

Hernán Cortés, Matteo Ricci, Edwin Hubble e Jacques Custeau...

preciso falar-lhes de Guilherme, o Conquistador;

de Napoleão Bonaparte, do Papa Inocêncio, de Kublah Khan,

de Suleimã, o Magnífico, de catarina de Médicis, de Elizabeth de Akbar,

de Otto von Bismarck, Frederick Douglass, Susan Anthony, Florence Nightingale, John D. Rockefeller, Jane Addams, Mohandas Ghandi, Vladimir Lênin, Helen Keller, Adolf Hitler, Mão Tse-Tung, Kwame Nkrumah, Nelson Mandela, Martin Luther King, John Kennedy, Ruy Barbosa...

eu não quero ser soldado mamãe,

eu vi muita gente morta na Riachuelo, de Canudos;

em Bruxelas, nos campos de concentração alemães;

nem no Vietnã, em Bombaim ou nas Malvinas.

mamãe eu não quero morrer

de napalm, de gás mostarda, de gás cloro, ou pó anthrax

e muito menos sob mísseis ou fuzis AR 15 ou em fogo cruzado

nos morros do Rio de Janeiro;

eu preciso mamãe, falar às crianças vindouras,

sobre Fan Kuan, Guido de Arezzo, Dante Alighiere, Hemingway,

Da Vinci, Michelangelo, Rafael, Andréa Palladio, Lous Armstrong,

Shakespeare, Monteverdi, Cao Xueqin, Hokusai, Beethoven, Tolstoi, Picasso, Walt Disney, Cézanne, Rousseau, Marx, Engels, Adam Smith,

Kipling, Vinicius de Moraes, Beatles, Queen, Rolling Stones, Woodstock, Ibn Sina, Zhu Xin, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lampião, Ibn-Khaldun, Lutero, Descartes, Foucault, Locke, Kant, Simone de Beauvoir, Madre Tereza, Jobim, Charles Dickens, Walt Whitman, Marguerite Duras, Albert Camus, Fernando Pessoa, Emile Dickinson, Noel Rosa, Borges, Márquez, Parra, Kerouac, e mais...

“i don’t wanna be a soldier mamma,

i don’t wanna die…”

eu preciso, também, botar meu bloco na rua,

agarrar a primeira colombina,

levá-la ao meu Jardim da Babilônia

e agitar no bloco Jacaré No Sê-KuhAnda;

depois sairemos no Há Jacob no Pau de Arara

e amar-nos-emos até a quarta-feira de cinzas

e nos embeberemos nas madrugadas de janeiro

e tocaremos as trombetas & acordaremos os cavaleiros do apocalipse.

agora, mamãe, eu quero é botar meu bloco na rua.

mas, antes preciso conversar com as criancinhas vindouras

eu tenho uma esmeralda na algibeira e muita história pra contar.

“i don’t wanna be a soldier mamma,

i don’t wanna die…”

sábado, 26 de julho de 2008

Historinha, por francisco vaz brasil

Historinha

francisco vaz brasil

Era uma vez um catador de lixo

Que desde que viu a princesinha

Teve o mundo virado de cabeça para baixo

E todos os caminhos

Com seus paralelos e meridianos

Convergiram em direção à princesinha

O catador tinha gravado na mente

A ternura daquela voz, daquele semblante,

Do rebolar das ancas estonteantes,

Do sorriso arrebatador

A simples lembrança da princesinha

Ficou lapidada na íris dos olhos do catador

E seu mundo mudou de topografia

Ante as curvas daquele corpo

A filosofia das palavras da princesinha

Encantou-o em seus séculos de espera

E ao seu simples rastro

Entregou-se por inteiro

E o catador passou a sentir

O vento penteando a montanha,

O mar alisando a praia

As folhas espalhando lembranças

E anjos em colos maternos

E o mundo do catador de lixo mudou

Desde que viu a princesinha pela única vez...

Bombas y pronombres, por francisco vaz brasil

Bombas y pronombres

francisco vaz brasil

Dios mio, Dios mio,

¿porqué permites la existência

de otros dioses,

esos que permiten a sus hijos

que atan bombas a sus cuerpos

para matarse y a sus semejantes?

¿ya no bastaba murir

“de hambre, de bala o vicio”,

Y ahora por fanatismo e intolerancia?

Cotidiano, por francisco vaz brasil

Cotidiano

francisco vaz brasil

No açougue,

Ah, no açougue

As carnes, como estandartes,

Sorriem ante a agonia

Do meu bolso.

Embaixo, refiladas,

Lágrimas em barras,

Meus olhos estupefatos

Na ente-sala

Os sócios em ócio

Discutem os preços

E os destinos

Enquanto cigarros

Criam cinzas de lembranças.

Na rua os transeuntes

Admiram as vitrines,

enquanto isso, queimam-se

os campos de trigo

inflacionando o preço do pão

há milhões de fêmeas

parindo futuros finados

[nos cemitérios somos

Pacientemente aguardados]

Es preciso reinventar el hombre, por francisco vaz brasil

Es preciso reinventar el hombre

francisco vaz brasil

El mundo está cambiado,

Y, con él, el hombre.

Las rosas ya no son rosas,

Son plasticas rosas atónitas

Pétalos químicos.

Hoy el hombre muere

No sólo de cáncer,

sida, tuberculosis o neumonia;

no más por el amor;

pero y principalmente

por su intolerancia.

Es preciso cambiar el rumbo del mundo

Es preciso reinventar el amor

Es preciso reinventar el hombre...

Preferências, por francisco vaz brasil

preferências

francisco vaz brasil

gosto do silêncio da mata, de secas folhas caindo;

da solidão do rio que à vida, solenemente, multiplica;

gosto do cemitério, pois muito saber encerra;

da praça arbórea, e o ar que me perpetua;

gosto mais de janeiro, que a mim alegria traz.

gosto da manga amarela que meu coração maturou;

prefiro a índia morena, da boca carnuda, não de gesso,

de peito alti-pontudo, de púbis que não tem bronze,

de seu hálito de hortelã amanhecido

detesto a intolerância

que o mundo de hoje ensina

detesto a ignorância

de quem o nariz me empina.


De(Sen)Terras, por francisco vaz brasil

De(Sen)Terras

francisco vaz brasil

eles vieram de várias partes

de geografias várias

esgotos/pontes/campos/religiões

ilhas/reformatórios

& favelas condominiais

alojaram-se em frente ao palácio

& deitaram sobre interrogações

forrando grama e calçada

pela palavra de ordem

da assembléia geral

decidiram invadir o palácio

e contestar o poder

plantaram paralelos de rebeldia

apontaram seus olhos vermelhos

& seus esquálidos dedos enrugados

& sorriram seus cariados dentes

& discursaram frases de ponta

& seus ventres retos velavam a fome

na calçada, o livro ideológico, aberto pelo vento,

continha em uma página que teimava em afirmar:

no agri-sofrimento, o futuro do país...

eneros de sueños, por francisco vaz brasil



eneros de sueños

francisco vaz brasil


quiero tener muchos eneros

para vivir muchas morenas

soy caballero errante

de muchas plagas pisadas

de cuchillo doble amolada

gitano de la vida amante

soy caballero errante

y quiero muchos eneros

para abrazar las morenitas

besar sus bocas carnudas

en las tardes más calientes

trezentas chicas morenas

rosas blancas en las manos

muchos eneros yo quiero

hasta los fines del tiempo