quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Elogio do Alexandrino, Souzândrade




Elogio do Alexandrino
Souzândrade

Asclepiádeo verso: à evolução do poema
Das sestas, cadenciar d'altas antigüidades,
já porque bipartido em fúlgidas metades
Reata em conjunção opostos de um dilema,
E já por ser de gala a forma do matiz
Heleno na escultura e lácio na linguagem
Reacesda, de Alexandre, em fogos de Paris:
Paris o tom da moda, o bom gosto, a roupagem;
Que desperta aos tocsins, galo às estrelas d'alva,
Que faz revoluções de Filadélfia às salvas
E o verso-luz, fardeur das formas, de grandeza,
o verso-formosura, adornos, lauta mesa
Ond' tokay, champanh', flor, copos cristal-diamantes
Sobrelevam roast-beef e os queijos e o pudding.
Porém, mens divinior, poesia é o férreo guante:
Ao das delícias tempo, o fácil verso ovante,
o verso cor de rosa, o de oiro, o de carmim,
Dos raios que o astro veste em dia azul-celeste;
E para os que têm fome e sede de justiça,
O verso condor, chama, alárum, de carniça,
D'harpas d'Ésquilus, de Hugo, a dor, a tempestade:
Que, embora contra um deus "Figaro" impiedade
Vesgo olhinho a piscar diga tambour-major,
Restruge alto acordando os cândidos espíritos
Às glórias do oceano e percutindo os gritos
Réus. Ao belo trovoar do magno Trovador
Ouve-se afinação no mundo brasileiro,
Acorde tão formoso, hodierno, hospitaleiro,
Flamívomo social, encantador. Fulgura
Luz de dia primeiro, a nota formosura,
Que ao jeová-grande-abrir faz novo Éden luzir.







Biografia: Joaquim de Sousândrade  (1833 - 1902)

 
Joaquim de Sousa Andrade, nascido na vila de Guimarães, no Maranhão, formou-se em Letras pela Sorbonne, em Paris, onde fez também o curso de engenharia de minas. Republicano convicto e militante, transfere-se, em 1870, para os Estados Unidos. Morando em Nova Iorque, funda o periódico republicano "O Novo Mundo", publicado em português. Retornando ao Maranhão, comemora com entusiasmo a Proclamação de República. Dedica-se ao ensino de Língua Grega no Liceu Maranhense e passa, no final da vida, por enormes dificuldades financeiras. Morre em São Luís, abandonado, na miséria e considerado louco. Sua obra foi esquecida durante décadas. Resgatada no início da década de 1960, pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos, revelou-se uma das mais originais e instigantes de todo o nosso Romantismo. Em Nova Iorque, publica sua maior obra, o poema longo O Guesa Errante (1874/77), em que utiliza recursos expressivos, como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte. Em 1877, escreveu: "Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50 anos depois; entristeci - decepção de quem escreve 50 anos antes".

http://www.jornaldepoesia.jor.br/soua.html

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