quarta-feira, 15 de maio de 2013

Era um três de outubro, francisco vaz brasil



Era um três de outubro
                              francisco vaz brasil


era um três de outubro,
manhã de domingo.

Transeuntes y caminhantes,
canoeiros y caminhoneiros,
-mais de dois milhões,
como carneirinhos doutrinados
com suas sandálias calçados,
surradas indumentárias,
apressadamente surgiam.

E muitos pensavam (?)
em mudanças, 
outros, radicalmente contrários.

Eram milhares
naquela andança em outubro:
ricos, pobres, pretos, brancos,
desnutridos, falidos, loucos,
- reféns  de sonhos.

Sob o sol equatorial,
um rio de gente
com seus sorrisos amarelos
óculos escuros
pensamentos obscuros,
lábios contorcidos
bílis escarlate,
hálitos odorosos,
cáries e próteses expostas
- transeuntes de um outubro
inimaginavelmente amazônico
de um continente chamado Pará...

Nos muros, espelhados,
os resquícios de uma batalha:
outdoors com fotografias
e nomes gravados a tinta y sangue
dos deuses das geografias,
dos nobilíssimos sócios do ócio;

Nas tevês, rádios, jornais, alto-falantes,
frescas manchetes do dia,
horóscopos oníricos/satíricos,
bombardeios de beijos e abraços,
pesquisas capciosas/indecisas
y parábolas de amor e ódio.

E toda gente foi chegando,
sadicamente portando
canetas coloridas de ilusão
e títulos pudicamente verdes
na ignorância e desejo...

Um poeta menino
Com seus olhinhos vermelhos
e mãos já crispadas 
rogando aos céus
daquele três de outubro,
- taciturno/perplexo/apático,
murmurava em mudez esperançada:
- serão todos andróides
das promessas de melhor dia?

Portas e vitrines fechadas,
cacos de Coca Cola no chão
cartazes e santinhos espalhados
sujos de escárnio e promessas
a não cumprir;

Cidades revoltas em pó,
de fome, pneus, esquecimentos...
Corruptíveis e corruptores,
Mãos dadas, punhos cerrados
Em rapinada calculada
Avançam sansanicamente
Em direção aos prédios e palácios
(cujas portas se abriam mansamente
como suaves coxas morenas,
para a penetração do rio,
em fúria/ânsia/saciar o cio).

Dali a cem metros das manhãs,
um proletário, 
partidário da poesia
implorava o voto
do andante retardatário:

- Pense nas crianças
violentadas/sem pão;
- Pense nas pessoas
sem labor/lar/educação;
- Pense nas meninas
inocentes/prostituídas;
- Pense em você,
porque teu voto vai te afetar.
e porque há homens que pouco
se importam se você
vai à capela ou ao banheiro.

- Há um carpinteiro (em disponibilidade)
para consertar a porta do teu Pará.

- Este é um três de outubro
de chances para você...

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