domingo, 2 de outubro de 2016

A CASA, ANTONIO JURACI SIQUEIRA



A CASA,
ANTONIO JURACI SIQUEIRA



Quem casa tem que ter casa
diz um rifão popular.
Mas para que serve a casa
além do verbo morar?
Para alcovitar segredos
agasalhar sentimentos
acumular esperanças
saudades recordações?
De que se faz uma casa
fora o verbo construir?
De palha de pau a pique
de barro areia tijolo
pedra cal cimento armado
tábua lona papelão?
E a casa feita se sonhos
com paredes de ilusão?
E a construída de insônias
em suadas prestações?
E a casa de mãe joana
onde todos põem a mão?
Quantos nomes tem a casa
e quantas casas num nome?
Palácio choça cabana
pensão castelo caverna
rancho maloca barraco
banco de praça prisão...
Mas haverá diferença
da casa em que nós moramos
daquela que mora em nós?
E quem habita uma casa
além do verbo habitar?
Em cada casa uma história
em cada canto um mistério
em cada copa um sabor
em cada quarto um gemido
de gozo renúncia ou dor.
Cada parede um segredo
cada teto uma goteira
cada janela um sorriso
cada porta uma surpresa
num abraço de chegada
num adeus de despedida.
                                                           Mas existe mesmo a casa
                                          além do verbo casar?
* * *
(Do livro: NA TEIA DO POEMA, Belém, 2011)

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