segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Era um três de Outubro por Francisco Vaz Brasil


Era um três de Outubro
                                                                                    Francisco Vaz Brasil

Era um três de outubro,
- manhã de domingo.
Transeuntes y caminhantes,
canoeiros y caminhoneiros,
mais de dois milhões,
como carneirinhos doutrinados
com seu dentes careados
e indumentárias suadas,
apressadamente surgiam.

Muitos pensavam (?)
em mudanças. Outros,
radicalmente contrários.
Eram milhares –como enxames,
Naquela andança de outubro:
ricos/pobres/negros/brancos,
desnutridos/falidos/enlouquecidos
-reféns de sonhos.

Sob o sol equatorial - o rio de gente.
Sorrisos amarelos,
óculos escuros,
lábios contorcidos
hálitos odorosos,
cáries e próteses expostas,
- formigas transeuntes de um outubro
inimaginavelmente amazônico
pelas ruas e rios do gigante chamado Pará...

Nos muros, despedaçados resquícios
da batalha pelo voto:
- fotografias y nomes gravados
à tinta e sangue dos donos das geografias
- os nobilíssimos sócios do ócio.

Nas tevês/rádios/altofalantes,
frescas notícias eleitorais...
Candidatos oníricos/satíricos,
pesquisas capciosas y parábolas
de amor y ódio.

E toda gente foi chegando
sadicamente portando
canetas coloridas de ilusão
e documentos pudicamente verdes
de ignorância e desejo...

O mendigo, no chão sentado,
com um par de olhos vermelhos
e mãos crispadas aos céus
daquele três de outubro,
taciturno, perplexo/apático,
murmurava em mudez esperançada:
- serão todos andróides,  portadores
de promessas do melhor dia?

Portas e vitrines fechadas,
cacos de Coca-Cola no chão,
muros e “out doors” sujos,
cidades revoltas em pó de esquecimento...

Corruptíveis e corruptores
-mãos dadas, punhos cerrados
Em rapinada calculada
Avançavam sansânicamente
Em direção às urnas nos prédios/palácios
(cujas portas estavam dubiamente abertas
como suaves coxas morenas)
para a consecução do ato – do voto.

Um vendedor de sonhos
falava ao proletário retardatário:
Preste muita atenção na sua indicação
E pense. Pense nas crianças
violentadas/sem pão;
nas pessoas sem lar/labor/educação;
nas meninas inocentes/prostituídas.
Pense em quem tem comprometimento
com o salário do médico e do professor,
-que trazem educação e saúde ao teu filho-
pois cada parlamentar custa ao país
centenas de vezes mais
que estes profissionais...

Pense em você, reflita seu voto,
Porque há homens que pouco
se importam  se você vai à capela ou ao banheiro.

E o carpinteiro (em disponibilidade),
não terá tempo
para consertar a porta de teu Pará,
ou o fundo de teu País.

Pense: era um três de outubro
- de chances para você...