segunda-feira, 3 de maio de 2010

Num 4 de maio, aos 80 por francisco vaz brasil

 Num 4 de maio, aos 80
        francisco vaz brasil

   Foi em meados do século passado. Janeiro de 1953. Naquele 26, vi, pela primeira vez meu grande herói e incentivador. Aquele que quando eu era bem pequeno me levava nas costas e nadava muitos metros pelas praias de São Luís. Excelente nadador. um dos melhores que vi dando braçadas em rios e mares, vencendo seus amigos nas apostas que eles faziam, mesmo com um defeito na perna (teve paralisia infantil). Muitas manhãs de domingo levou-me a fazer pescarias. Eu chorava para ir. Quando voltava, alegre por haver fisgado uns peixinhos, estava mais vermelho que os famosos camarões que palmilhavam naquelas marés de minha terra e ele morria de cuidados por mim.
     Foi jogador de futebol. Era goleiro - e dos bons. Torcia pelo Fluminense. Tricolor de coração.  Foi técnico dos times que organizava. Um vez fui escalado por ele. Fiz dois gols naquele jogo e o deixei muito feliz. Fui chamado de revelação. E ele me realizou.
   Um dos melhores linotipistas (você sabe o que é um linotipista?) do norte e nordeste deste Brasil. Sempre requisitado por grandes jornais e gráficas de São Luís e de Belém. Foi amigo de Sarney, de Lago Burnett, de Jackson Lago. 
   Herdeiro de uma grande área no município de Itaituba - a fazenda Monte Cristo, de lá nada quis (nem podia). Seus pais morreram quando ele era uma criança e, claro, ele não poderia cuidar de tamanha terra. Seus tios assumiram a propriedade.
   Ele era um senhor de gosto apuradíssimo. Gostava de bacalhau que fazia questão de comprar na Casa Carioca e, devido à profissão também apreciava um bom vinho, uma boa vodka e, na boemia (quando acompanhava os companheiros de trabalho) uma boa cervejinha.
   Um dia conheceu a Mocinha (Dona Elvira). Na época não havia televisão na cidade. Logo eu apareci com os cabelos loiros, pele clara e muito forte. Fui chamado de Alemão. Cresci um pouco e logo acompanhei com ele a vitória da seleção brasileira de 58 por um potente rádio (um Transglobe) e os vizinhos iam para nossa casa para vibrar com as jogadas de Garrincha e Pelé. Brasil, campeão mundial de futebol, pela primeira vez. Depois, em 62, no Chile, deu Brasil, de novo e eu lá, ao lado dele. Ele comprou uma televisão - uma Teleking - 1963. Tanto tempo, mas parece que foi ontem. Ouvíamos "O Direito de Nascer", "Jerônimo, o Herói do Sertão" - era emocionante. Parece que víamos o que nossa imaginação criava ao ouvir a voz e os trejeitos dos personagens e os sons criados pelos contrarregras. E aí veio a TV, preto e branco. E nós assistíamos os seriados "Combate" e "Bonanza". 
     Deixamos São Luís com destino a Belém. A vida mudou um pouco. Casa alugada. Um monte de irmãos. Ele, sempre esforçado e muito trabalhador. Sempre comprando o bacalhau norueguês da Carioca. Mudei de colégio. Fui para o Dr. Freitas, colégio onde ele, na infância, também havia estudado. E ele sempre me dando incentivo. Lia meus escritos à noite e pela manhã dizia qualquer coisa. Ganhei dois Salões de Poesia no Meira e ele fez questão de ver. Duas Maratonas Intelectuais e ele lá. Quando fui aprovado na FCAP ele me disse para ir buscar um dinheiro com ele, em seu trabalho (na época, na Gráfica Falângola e Editora. (as publicações de lá eram de primeiríssima apresentação e acabamento) para fazer promover a festa, afinal seu filho seria doutor - ele teria um filho engenheiro.
   Este senhor, seu Francisco A. de Mendonça Brasil - Meu Pai e Pai de meus 12 irmãos e irmãs, todos vivos - neste 4 de Maio, completaria 80 anos! Saudades!
   Que Deus o tenha meu Grande Amigo e Incentivador!

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