SUPERBERINJELA x MANIÇOBA ADUBADA
Elias
Ribeiro Pinto
COLUNA
DESTA SEXTA (10/10/14) NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ
Resumo da
neura: na dúvida, depois de navegar nos densos mares de maniçobas e tucupis,
rebata com um duplo de berinjela. Sem perder a fé no milagre da ressurreição
depois de mais uma comilança do Círio
1 Dias atrás visitei um amigo. Era hora do almoço (juro que não fui
filar a boia) e dei com umas lâminas de berinjela imersas numa jarra d’água.
Ele já me falara do recurso ao legume para baixar o colesterol.
2 Claro, brasileiro como nós, ele não chegou a consultar nenhum médico.
Decifrador dos humores do próprio organismo, esculápio de si mesmo, tratou de
automedicar-se na linha mais que naturalista, caseira, do tempo da vovó. E tome
berinjela.
3 Muito bem. Passei quase uma semana berinjelando, tentando lembrar o
que tinha a ver a berinjela com um passado mais ou menos recente. Não, nada que
me tivesse mudado a vida, assim como quem se depara com A Grande Berinjela, e a
sua existência passa a ser dividida em antes e depois dessa visão.
4 Pois então – o “então” é ótimo, é uma daquelas muletas que serve à
fala quando a mente manquitola. Como sói acontecer nessa rotação cabalística
que me rege, jogando uns papéis velhos de um canto para o outro, à guisa de
arrumação doméstica, uma casa cor básica, o tal passado recente ressurgiu-me em
forma de recorte.
5 Era uma notícia do início deste ano. Não sei bem por que a guardei. O
recorte diz o seguinte: que berinjela não reduz o colesterol. A informação era
transmitida por pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas
de São Paulo. Gente séria. O que não quer dizer que, daqui a pouco, nova
pesquisa anuncie que berinjela, sim, baixa o colesterol. A rotação cabalística
também parece reger o mundo dos aventais médicos.
6 E por falar em cabala, acabo de lembrar por que recortei a notícia. É
que até ontem eu era um hipocondríaco à beira de um ataque de segundo turno. E
tenho, neste momento, uma recaída. Quero saber mais sobre a relação
berinjela/colesterol. Meu reino – que é a minha biblioteca – por um sinal de
salvação da berinjela alcalinizante e levemente laxante.
7 A resposta está na própria biblioteca, a maior prova da minha
hipocondria. Num rápido arrastão, consigo arrecadar uns dez livros sobre
medicina, saúde, alimentação. Tenho para mais de 70, 80 livros na área, volumes
fornidos, taludos, que muito médico de verdade gostaria de ter.
8 Com eles, e com os conhecimentos que adquiri ao longo da minha
hipocondria, daria para converter este espaço numa coluna médica. Só não sei se
o Conselho Regional de Medicina veria a coisa com bons olhos, oculisticamente
falando, ainda mais se eu decidir seguir o caminho daquele bicho do mato. Sabe
quem é, né? Ligue os pontos: médico (de araque), prefeito, senador, agora
candidato fragorosamente derrotado.
9 Se tenho, feito o Dr. Jekyll, minha porção médica, salutar, nos
últimos tempos minha porção monstro tem predominado. Chutei o balde das
vitaminas e dos antioxidantes. Agora remanso-me na boemia.
10 Uma vez hipocondríaco, sempre hipocondríaco. Pego um livro aqui das
redondezas: “Alimentação: Perguntas Inquietantes & Respostas
Tranquilizadoras”. É dele que transcrevo o tópico a seguir, sob o título:
“Berinjela crua com laranja em jejum é bom para baixar o colesterol?”. Espero
que a resposta sirva aos companheiros que cultuam a beberagem.
11 “Algumas pessoas têm relatado diminuição nos níveis de colesterol
após ingestão contínua de suco de berinjela com laranja. Entretanto, este
efeito ainda não tem explicação científica em humanos. Por outro lado, uma
possível explicação é a de que este suco contém substâncias antioxidantes que
podem diminuir o ‘mau colesterol’ (o LDL-colesterol), além de conter fibras
que, comprovadamente, auxiliam na redução do colesterol total. Acredita-se que outros
fatores associados, tais como mudanças nos hábitos alimentares e prática de
exercícios físicos, mais do que a ingestão do referido suco, é que estejam
contribuindo para a redução da taxa de colesterol sanguíneo.”
12 Resumo da neura: na dúvida, depois de navegar nos densos mares de
maniçobas e tucupis, rebata com um duplo de berinjela. Sem perder a fé no
milagre da ressurreição depois de mais uma comilança do Círio.
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