CONTO DE MISTÉRIO –
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Com a gola do
paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros,
era quase impossível a qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que
tinham já estipulado à guisa de senha. Parou debaixo do poste, acendeu um
cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas. Imediatamente um sujeito mal-encarado,
que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.
Era aquele. Atravessou cautelosamente a
rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou:
Siga-me! - foi a ordem dada com voz
cava. Deu apenas um gole no guaraná e saiu.
O outro entrou num beco úmido e
mal-iluminado e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.
Ali parecia não haver ninguém. O
silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se
de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça
gemeu e a porta abriu-se discretamente.
Entraram os dois e deram
numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de
pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e
ar de agricultor parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando
o homem
que entrara na
frente apontou para o que entrara em seguida e disse:
"É
este".
O que estava por trás da mesa pegou um
dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e
perguntou se trouxera o dinheiro. Um aceno de cabeça foi a resposta. Enfiou a
mão no bolso, tirou um bolo de notas e entregou ao parceiro. Depois virou-se
para sair. O que entrara com ele disse que ficaria ali.
Saiu então sozinho, caminhando rente às
paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um táxi que
passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista
obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:
- Julieta! Ó Julieta... consegui.
A mulher veio lá de dentro euxugando as
mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a
mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira
mesmo. Ali estava: ???????????
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