terça-feira, 7 de outubro de 2014

ANTONIO MARIA



ANTONIO MARIA

ANTÔNIO MARIA (Antônio Maria Araújo de Morais) nasceu em Recife a 17 de março de 1921. O escritor mantinha colunas nas quais publicava suas crônicas diárias, em jornais importantes: O Jornal, onde permaneceu por 15 anos; O Globo, em 1959 (aí ficou por pouco tempo); e Última Hora.
Convidado por Assis Chateaubriand, dono da TV Tupi, que foi inaugurada em 1951, Antônio Maria assumiu o cargo de diretor de produção da emissora. No ano seguinte mudou-se para a Rádio Mayrink e daí para a TV Rio, onde, entre outras coisas, apresentou um programa com Ary Barroso durante o ano de 1957.
Na música, foi compositor, e teve como parceiros Geraldo Mendonça, Maestro Aldo Taranto, Fernando Lobo (pai de Edu Lobo). Antônio Maria também foi parceiro de Luiz Bonfá - escreveu a letra de Manhã de Carnaval, uma das músicas mais executadas no exterior, e que seria um dos temas musicais do filme franco-ítalo-brasileiro Orfeu Negro, ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Como bem salienta um artigo da revista Bravo! na edição de 100 canções essenciais da música popular brasileira (2008), a música Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá e Antônio Maria ganhou o mundo: “Com a projeção dada pelo filme e a aventura do violonista Luiz Bonfá nos Estados Unidos, a música se tornou um grande sucesso. Além disso, embarcou na carona da carreira internacional da Bossa Nova, que pouco tempo depois estouraria. Manhã de Carnaval se tornou um clássico do jazz ao ganhar uma versão em inglês chamada A day in the life of a fool”.
No dia 15 de outubro de 1964, na cidade do Rio de Janeiro, o coração desse artista versátil, que já vinha dando mostras de cansaço, não aguentou mais. Antônio Maria morreu muito cedo, aos 43 anos. Maria, como era conhecido, fez muitos amigos: Di Cavalcanti, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Carlos Heitor Cony, Aracy de Almeida, Luiz Bonfá, dentre tantos outros. Morreu o artista, mas a sua obra continua bem viva, não apenas no Brasil. Sua arte foi o seu legado.
 Segue a crônica de Antônio Maria intitulada Café com leite (In Crônicas de Antônio Maria. São Paulo: Paz e Terra, 1996, 59-60):

CAFÉ COM LEITE
(Antônio Maria)
  
É preciso amar, sabe? Ter-se uma mulher a quem se chegue, como o barco fatigado à sua enseada de retorno. O corpo lasso e confortável, de noite, pede um cais. A mulher a quem se chega, exausto e, com a força do cansaço, dá-se o espiritualíssimo amor do corpo.
Como deve ser triste a vida dos homens que têm mulheres de tarde, em apartamentos de chaves emprestadas, nos lençóis dos outros!  Como é possível deixar que a pele da amada toque os lençóis dos outros! Quem assim procede (o tom é bíblico e verdadeiro) divide a mulher com quem empresta as chaves.
Para os chamados “grandes homens”, a mulher é sempre uma aventura. De tarde, sempre. Aquela mulher, que chega se desculpando; e se despe, desculpando-se; e se crispa, ao ser tocada, e cerra os olhos, com toda força, com todo desgosto, enquanto dura o compromisso. É melhor ser-se um “pequeno homem”.
Amor não tem nada a ver com essas coisas. Amor não é de tarde, a não ser em alguns dias santos. Só é legítimo quando, depois, se pega no sono. E há um complemento venturoso, do qual alguns se descuidam. O café com leite, de manhã. O lento café com leite dos amantes, com a satisfação do dever cumprido.
No mais, tudo é menor. O socialismo, a astrofísica, a especulação imobiliária, a ioga, todo ascetismo da ioga... tudo é menor. O homem só tem duas missões importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.

http://panorama-direitoliteratura.blogspot.com.br/2014/01/cronica-antonio-maria-cafe-com-leite.html

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