SYLVIA
PLATH
Sylvia Plath nasceu em Boston, EUA, em 1932. Teve uma
passagem melancólica por Nova York, tentou o suicídio por mais de uma vez,
casou em 1956 com o poeta inglês Ted Hughes, foi com ele para Cambridge,
Inglaterra. Teve dois filhos. Descasou em 1962, escreveu seus poemas capitais,
publicados postumamente no volume Ariel
(1965), sua obra mais importante. Dois anos antes, em 1960, lançara o seu
primeiro livro, Colossus.
Em
11 de fevereiro de 1963, Sylvia Plath aos 30 anos de idade cometeu suicídio
inspirando gás na cozinha de sua residência.
(publicado no jornal "A Província do Pará"
em 1983,
na coluna literária GRÁPHO do poeta Age de Carvalho)
na coluna literária GRÁPHO do poeta Age de Carvalho)
PALAVRAS
Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e
rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas
palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
(tradução
de Ana
Cristina César)
ARIEL
Estancamento
no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do
Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e
passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro,
doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Sombra,
Um outro vôo
Me
arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre
pela parede.
E eu
Sou a flexa,
E eu
Sou a flexa,
O orvalho
que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho,
caldeirão da manhã.
(tradução
de Ana Cândida Perez e Ana
Cristina César)
A CHEGADA
DA CAIXA DE ABELHAS
Encomendei
esta caixa de madeira
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
Está
trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Espio
pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.
Como
deixá-las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!
Escuto
esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.
Me
pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.
Poderiam
imediatamente ignorar-me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.
A caixa é
apenas temporária.
(tradução
de Ana Cândida Perez e Ana
Cristina César )
40 GRAUS
DE FEBRE
Pura? Que
vem a ser isso?
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices
Línguas
do apático, gordo Cérbero
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente
O febril
tendão, o pecado, o pecado.
Crepita a chama.
O indelével aroma
Crepita a chama.
O indelével aroma
De
espevitada vela!
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo
Que uma
das bandas venha a prender-se na roda.
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto
Mas
rolará em redor do globo
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil
E
delicado bebê no seu berço,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,
Diabólico
leopardo!
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.
Engordurar
os corpos dos adúlteros
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los.
O pecado. O pecado.
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los.
O pecado. O pecado.
Querido,
a noite inteira
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.
Três
dias. Três noites.
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.
Sou por
demais pura para ti ou para alguém.
Teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna —
Teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna —
Minha
cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.
Não te
assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.
Creio que
vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma
virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,
De acetileno
Acompanhada de rosas,
De
beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele
Não ele,
nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.
(tradução
de Afonso Félix de Souza)
ESPELHO
Sou prata
e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou
um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
(tradução
de Vinicius Dantas)
OUTONO DE
RÃ
O verão
envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
As manhas
se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
A geada
cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
(tradução
de Jorge Wanderley)
PAPOULAS
DE JULHO
Ó
papoulinhas pequenas flamas do inferno,
Então não fazem mal?
Então não fazem mal?
Vocês
vibram. É impossível tocá-las.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.
E me
fatiga ficar a olhá-las
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Uma boca
sangrando.
Pequenas franjas sangrentas!
Pequenas franjas sangrentas!
Há
vapores que não posso tocar.
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?
Se eu
pudesse sangrar, ou dormir !
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida !
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida !
Ou que
seus licores filtrem-se em mim, nessa cápsula de vidro,
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.
(
tradução de Afonso Félix de Souza )
http://www.culturapara.art.br/opoema/sylviaplath/sylviaplath.htm
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