PAUL
CELAN - poemas
CANÇÃO
DE UMA DAMA NA SOMBRA
Quando vem a taciturna e
poda as tulipas:
Quem sai ganhando? Quem perde? Quem aparece na janela? Quem diz primeiro o nome dela?
É alguém que carrega meus
cabelos.
Carrega-os como quem carrega mortos nos braços. Carrega-os como o céu carregou meus cabelos no ano em [que amei. Carrega-os assim por vaidade.
E ganha.
E não perde. E não aparece na janela. E não diz o nome dela. É alguém que tem meus olhos. Tem-nos desde quando portas se fecham. Carrega-os no dedo, como anéis. Carrega-os como cacos de desejo e safira: era já meu irmão no outono; conta já os dias e noites.
E ganha.
E não perde.
E não aparece na janela.
E diz por último o nome
dela.
É alguém que tem o que eu disse. Carrega-o debaixo do braço como um embrulho. Carrega-o como o relógio a sua pior hora. Carrega-o de limiar a limiar, não o joga fora.
E não ganha.
E perde. E aparece na janela. E diz primeiro o nome dela.
E é podado com as tulipas.
(tradução: Claudia Cavalcanti )
CORONA
Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar: o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme, a boca não mente.
Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos, dizemo-nos o obscuro, amamo-nos como ópio e memória, dormimos como vinho nas conchas, como o mar no raio sangrento da lua.
Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber! Tempo da pedra dispor-se a florescer, de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo do tempo ser.. É tempo.
(tradução: Flávio Klothe)
CRISTAL
Não procura nos meus lábios
tua boca,
não diante da porta o forasteiro, não no olho a lágrima.
Sete noites acima caminha o
vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta, sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.
( tradução: Claudia Cavalcanti )
DO
AZUL que ainda busca seu rosto,
sou o primeiro a beber.
Vejo e bebo de teu rastro: Deslizas pelos meus dedos, pérolas, e cresces! Cresces como todos os esquecidos Deslizas: o granizo negro da melancolia Cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.
( tradução: Claudia Cavalcanti )
DISTÂNCIAS
Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim: juntos deixa-nos respirar o véu que nos esconde um do outro, quando a noite se dispõe a medir o que ainda falta chegar de cada forma que ela toma para cada forma que ela a nós dois emprestou.
( tradução: Claudia Cavalcanti )
ERRÁTICO
As noites se fixam
sob teu olho. As sílabas re- colhidas pelos lábios — belo, silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro. A pedra, um dia perto da fronte, abre-se aqui: ante todos os espalhados sóis, alma, estavas, no éter.
( tradução: Claudia Cavalcanti )
QUANDO
ME ABANDONEI EM TI,
eras pensamento,
algo
murmura entre nós dois: do mundo a primeira das últimas asas,
em mim cresce
a pele sobre tempestuosa boca, tu não chegas até ti.
( tradução:
Claudia Cavalcanti )
COMO
TE EXTINGUES em
mim:
ainda no último
e gasto nó de ar estás lá com uma faísca de vida.
( tradução: Claudia Cavalcanti )
http://www.culturapara.art.br/opoema/paulcelan/paulcelan.htm
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