WALT
WHITMAN
(31 de maio de 1819, em Long Island; Nova Iorque, EUA, 26 de março de 1923 - Poeta e humanista estadunidense).
- Vejo os navios (eles durarão alguns anos), / As grandes fábricas com seus capatazes e empregados, / E ouço a aprovação a tudo isso, e a isso não me oponho".
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Lágrimas! Lágrimas! Lágrimas! / À noite, na solidão, lágrimas".
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Ó com o que devo decorar as paredes da câmara mortuária? / E quais serão os quadros que pendurarei nas paredes, / Para adornar a casa funérea daquele que amo?"
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Para que haja grandes poetas é preciso que haja também um grande público".
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Uma mulher espera-me, tem tudo, não falta nada. Mas faltaria tudo se faltasse o sexo".
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Se há alguma coisa sagrada é o corpo humano".
- Fonte: "Folhas de Relva"
- "Celebro a mim mesmo / e canto a mim mesmo".
-Fonte: "Canto a mim mesmo"
- "Estes são realmente pensamentos / de todo homem em qualquer tempo e lugar, / não são originais meus; / e se não são de vocês tanto quanto meus / não querem dizer nada / ou quase nada;"[...]
-Fonte: "Canto a mim mesmo"
- "Vivas àqueles que levaram a pior!".
-Fonte: "Canto a mim mesmo"
- "Existo como sou, / isso é o que basta".
-Fonte: "Canto a mim mesmo"
- "Está na hora de eu falar de mim, / vamos ficar de pé!".
-Fonte: "Canto a mim mesmo"
- "Meu espírito é amplo; eu contenho multidões."
- Fonte: livro Psicologia, E/Imigração e Cultura,
org. de A. DeBiaggi e G. de Paiva (Casa do Psicólogo).
"Não
sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor, / Tu sabes que eu sou
Tu e estás contente com isso!" Fernando
Pessoa
Walt Whitman foi um poeta norte-americano, descendente
de ingleses
e neerlandeses,[1]
nascido em West Hills, Long Island.
Contudo, quando tinha apenas quatro anos de idade, a
sua família mudou-se para Brooklyn, onde este frequentou até aos onze anos uma escola
oficial, trabalhando depois como aprendiz numa tipografia.
Em 1835 trabalhou como impressor em Nova Iorque
e no Verão do ano seguinte começou a ensinar em East Norwich, Long Island.
Entre 1836-1838 deu aulas e de 1838 a 1839 editou o semanário
Long Islander, em Huntington. Voltou ao ensino depois de participar como
jornalista na campanha presidencial de Van Buren
(1840-41).
Em Maio de 1841 regressou a Nova Iorque,
onde trabalhou novamente como impressor.
Entre 1842-1844
editou um jornal diário, Aurora, e o Evening Tatler. Regressou a Brooklyn
em 1845,
e durante um ano escreveu para o Long Island Star, tornando-se de seguida
editor do Daily Eagle de Brooklyn, lugar que ocupou de 1846 a 1848.
Em Fevereiro desse ano partiu com o irmão Jeff para Nova Orleans,
onde trabalhou no Crescent. Deixou Nova Orleans
em Maio do mesmo ano, regressando a Brooklyn
através do Mississippi e dos Grandes Lagos.
Editou o Freeman de Brooklyn entre 1848-1849 e no ano seguinte
montou uma tipografia e uma papelaria.
No início de Julho de 1855 publicou a primeira
edição de "Leaves of Grass", impressa na Rome
Brothers de Brooklyn
e cujos custos Whitman suportou. A primeira edição da obra mais importante da
sua carreira, não mencionava o nome do autor, e continha apenas 12 poemas e um
prefácio.
A obra poética de Whitman centra-se na colectânea
"Leaves of Grass", dado que ao longo da sua
vida o escritor se dedicou a rever e completar aquele livro, que teve oito
edições durante a vida do poeta.
No Verão seguinte foi publicada a segunda edição de
"Leaves of Grass" (1856), ostentando na capa
o nome do seu autor. O livro foi recebido com entusiasmo por alguns críticos,
mas mal recebido pela maioria, o que, contudo, não impediu Whitman de continuar
a trabalhar em novos poemas para aquela colectânea.
A segunda edição de "Leaves of
Grass" era composta por 32 poemas, intitulados e numerados.
Entre eles encontrava-se Poem of Walt Whitman, an American, o poema que haveria
de se chamar "Song of Myself"
(Canto de Mim Mesmo).
Entre a Primavera de 1857 e o Verão de 1859 Whitman editou o Times de Brooklyn,
sendo publicada a 1860, em Boston, a terceira edição da sua obra. Contudo, a editora foi
à falência em 1861 e a edição, que continha 154 poemas, foi pirateada.
Entre 1863-1864
trabalhou para o Exército em Washington,
DC, servindo entretanto como voluntário em hospitais militares.
Regressou a Brooklyn
doente e com marcas de envelhecimento prematuro causadas pela experiência da
guerra civil.
Trabalhou posteriomente como funcionário do
Departamento do Interior (1865) e publicou em Maio desse ano o livro "Drum-Taps", que continha 53 poemas
acerca da guerra civil e da experiência do autor nos hospitais militares. No
mesmo ano foi despedido pelo Secretário James Harlan, por este ter considerado
"Leaves of Grass" indecente.
Em 1867 foi publicada a quarta edição de "Leaves of
Grass", com 8 novos poemas. No ano seguinte saiu em Londres uma
seleção de poemas de Michael Rossetti, intitulada "Poems by Walt
Whitman".
A quinta edição de "Leaves of
Grass" (1870-1871) teve uma segunda
tiragem que incluía "Passage to India" e mais 71 poemas, alguns dos
quais inéditos.
Depois de publicar "Democratic Vistas",
Whitman viajou para Hannover, New Hampshire. Corria o ano de (1872). Na Faculdade de Dartmouth leu "As a Song
Bird on Pinions Free", posteriormente publicado com um prefácio. Em
Janeiro de 1873,
Whitman sofreu uma paralisia parcial. Pouco depois morreu a mãe e o escritor
deixou Washington
para se fixar em Camden, New Jersey, com o irmão George.
Em 1876 surgiu a sexta edição de "Leaves of
Grass", publicada em dois volumes. Em Agosto de 1880, Whitman reviu as
provas da sétima edição de "Leaves of
Grass", que sob ameaças do Promotor Público teve de suspender a
distribuição do livro.
A edição só foi retomada dois anos mais tarde por Rees
Welsh e depois por David McKay. Incluía 20 poemas inéditos e os títulos
definitivos e uma ordem dos poemas revista. Em 1882 foi ainda publicado o
livro "Specimen Days and Collect".
Os últimos anos de vida de Whitman foram marcados pela
pobreza, atenuada apenas pela ajuda de amigos e admiradores americanos e
europeus.
Em 1884, Whitman adquiriu uma casa em Camden, New Jersey.
Quatro anos depois, sofreu um novo ataque de paralisia e viu publicados 62
novos poemas sob o título "November Boughs" (1888). Ainda nesse ano foi
publicado "Complete Poems and Prose of Walt Whitman".
A oitava edição de "Leaves of
Grass" apareceu em 1889, e no ano seguinte o escritor começou a preparar a sua
nona edição, publicada em 1892.
Whitman morreu no dia 26 de Março de 1892 e foi sepultado em
Camden, New Jersey.
Cinco anos depois foi publicada em Boston a décima
edição de Leaves of Grass (1897), a que se juntaram os poemas póstumos
"Old Age Echoes".
Nos seus poemas, Walt Whitman elevou a condição do
homem moderno, celebrando a natureza humana e a vida em geral em termos pouco
convencionais. Na sua obra "Leaves of Grass",
Whitman exprime em poemas visionários um certo panteísmo e um ideal de unidade
cósmica que o Eu representa. Profundamente identificado com os ideais
democráticos da nação americana, Whitman não deixou de celebrar o futuro da
América.
Ficou ainda mais conhecido mundialmente a partir das
citações inseridas no enredo do filme Sociedade dos Poetas Mortos.
"Introduziu uma nova subjetividade na concepção poética e fez da sua poesia um hino à vida. A técnica inovadora dos seus poemas, nos quais a idéia de totalidade se traduziu no verso livre, influenciou não apenas a literatura americana posterior, mas todo o lirismo moderno, incluindo o poeta e ensaísta português Fernando Pessoa."
Walt Whitman, Marx e a revolução de 1848
Há mais que um paralelismo histórico entre o poema
“Resurgemus”, o primeiro publicado por Walt Whitman, que publicamos a seguir na
tradução de Rodrigo Garcia Lopes e o “Manifesto Comunista” de Marx e Engels.
Marx tinha, então, 30 anos e aquele que, segundo Ezra Pound, “é para a América
o que Dante é para a Itália”, 29 anos. Ambas as peças, o poema e o manifesto,
têm inspiração direta nas revoluções européias de 1848, que têm como epicentro
a França.
Walt Whitman está, então, em New Orleans, cidade sulista povoada de refugiados europeus e que pulsa forte com as notícias do além-mar. “Todo o mundo está em comoção”, escreve Whitman: “em toda parte o povo se levantou contra as tiranias que o oprimem.” O poeta americano, sintonizado com o crescente movimento abolicionista, chega a editar um jornal (“Freeman”, do Brooklin em New York) e chega a participar como delegado na histórica convenção nacional do “Solo Livre”, quando 30 mil delegados de todo o país celebram o movimento que lutava pela aprovação de uma lei de abolição da escravidão em todo o território novo anexado.
Marx, em 1848, exilado na Bélgica, tem a sua entrada agora permitida na França revolucionária e, em abril, desloca-se para Colônia, na Alemanha, onde em junho, com Engels, prepara a criação de um jornal diário, a “Nova Gazeta Renana”, “órgão da democracia”.
Paul Zweig, autor do belíssimo “Walt Whitman. A formação do poeta” (Jorge Zahar Editor, 1988), mostra como “o estilhaçamento do sonho democrático trouxe mudanças ao pensamento de Whitman, que foram definitivas e que, em última instância, fizeram dele um poeta.” Marx termina o ano de 1848, com o luto das revoluções frustradas, afirmando que “na Alemanha uma revolução puramente burguesa (...) é impossível” e que “só é possível a contra-revolução absolutista feudal ou a revolução social-republicana”.
Para Marx, os anos 50 seriam anos penosos de construção da sua obra magna “O Capital”. Para Whitman, seriam os anos mais fecundos da sua vida, resultando na criação de “Folhas da relva”, a mais alta utopia cósmica e erótica democrática da poesia moderna.
Resurgemus
De repente de seu covil urinado
e sonolento, covil de escravos
A Europa desperta feito um relâmpago... meio surpresa consigo,
Pés sobre cinzas e farrapos... Suas mãos esganando a garganta dos reis.
Ah, fé e esperança! Ah, doloridos fechos de vidas!” Tantos doentes de coração!
Concentrem-se neste hoje, e se refaçam.
E vocês, pagos para corromper o Povo... prestem atenção, mentirosos:
Não foi por agonias infinitas, assassinatos, luxúrias,
Para a corte roubar em suas miríades de formas mesquinhas,
Parasitando os salários de fome dos pobres;
Promessas demais foram juradas pelos lábios dos reis, E quebradas, por isso motivo de riso
E que estando no poder, não foi por isso que ressoamos golpes de vingança pessoal
...ou rolam as cabeças dos nobres;
O Povo tinha nojo da ferocidade dos reis.
Mas a doçura do perdão destilou uma destruição amarga, e os regentes assustados retornaram:
Cada um paramentado com seu séqüito... carrasco, padre e coletor de impostos... soldado, advogado, carcereiro e delator.
Por trás de tudo, repare, tem uma Forma,
Vaga como a noite, interminavelmente drapejada, testa e forma em dobras Escarlates,
Com face e olhos que ninguém pode ver,
Fora de seu manto apenas isso... os mantos mesmos, vermelhos, erguidos
pelo braço,
Um dedo aponta longe para cima, como cabeça de serpente aparecendo.
Enquanto isso cadáveres jazem em túmulos recentes... cadáveres
ensaguentados de jovens;
A corda da forca baqueia com força... as balas dos príncipes voam... os
Poderosos gargalham,
E todas essas coisas geram frutos... e eles são bons.
Cadáveres de jovens,
Esses mártires pendurados nas forcas... com os corações varados de Chumbo,
Frios e imóveis parecem... viver em algum lugar com um vitalidade
imassacrável.
Eles vivem em outros jovens, oh, reis,
Vivem em seus irmãos, de novo prontos pra desafiar vocês:
Foram purificados pela morte... Foram ensinados e exaltados.
Não há túmulo de alguém assassinado pela liberdade onde não
cresça a semente
da liberdade... que por sua vez gera sementes,
que o vento leva pra longe e re-semeia, sendo nutridas por chuvas
e neves.
A Europa desperta feito um relâmpago... meio surpresa consigo,
Pés sobre cinzas e farrapos... Suas mãos esganando a garganta dos reis.
Ah, fé e esperança! Ah, doloridos fechos de vidas!” Tantos doentes de coração!
Concentrem-se neste hoje, e se refaçam.
E vocês, pagos para corromper o Povo... prestem atenção, mentirosos:
Não foi por agonias infinitas, assassinatos, luxúrias,
Para a corte roubar em suas miríades de formas mesquinhas,
Parasitando os salários de fome dos pobres;
Promessas demais foram juradas pelos lábios dos reis, E quebradas, por isso motivo de riso
E que estando no poder, não foi por isso que ressoamos golpes de vingança pessoal
...ou rolam as cabeças dos nobres;
O Povo tinha nojo da ferocidade dos reis.
Mas a doçura do perdão destilou uma destruição amarga, e os regentes assustados retornaram:
Cada um paramentado com seu séqüito... carrasco, padre e coletor de impostos... soldado, advogado, carcereiro e delator.
Por trás de tudo, repare, tem uma Forma,
Vaga como a noite, interminavelmente drapejada, testa e forma em dobras Escarlates,
Com face e olhos que ninguém pode ver,
Fora de seu manto apenas isso... os mantos mesmos, vermelhos, erguidos
pelo braço,
Um dedo aponta longe para cima, como cabeça de serpente aparecendo.
Enquanto isso cadáveres jazem em túmulos recentes... cadáveres
ensaguentados de jovens;
A corda da forca baqueia com força... as balas dos príncipes voam... os
Poderosos gargalham,
E todas essas coisas geram frutos... e eles são bons.
Cadáveres de jovens,
Esses mártires pendurados nas forcas... com os corações varados de Chumbo,
Frios e imóveis parecem... viver em algum lugar com um vitalidade
imassacrável.
Eles vivem em outros jovens, oh, reis,
Vivem em seus irmãos, de novo prontos pra desafiar vocês:
Foram purificados pela morte... Foram ensinados e exaltados.
Não há túmulo de alguém assassinado pela liberdade onde não
cresça a semente
da liberdade... que por sua vez gera sementes,
que o vento leva pra longe e re-semeia, sendo nutridas por chuvas
e neves.
Não há espírito capaz de deixar livres as armas dos tiranos,
Mas se impõe invisivelmente sobre a terra... sussurando e aconselhando e
Prevenindo.
Que outros se desesperem com você, liberdade... eu nunca me desespero.
A casa está fechada? O professor saiu?
No entanto fique esperto... e não se canse de esperar,
Ele logo vai voltar...seus mensageiros estão chegando.
Walt Whitman publicou seus poemas nas sucessivas edições do livro Folhas
da Relva, sempre com o acréscimo de novos poemas, entre 1855 e 1889. Dedicou-se
a cantar o povo norte-americano: acreditava na democracia, na iniciativa
individual e na liberdade pessoal. Defendeu abertamente o homossexualismo.
Também buscou a liberdade na forma: usou o verso livre, sem métrica regular, e
o branco, sem rimas. Sua obra influenciou muito os autores do final do século
XIX e início do XX, como Oscar Wilde, Fernando Pessoa e Federico García Lorca.
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