HISTÓRIAS DO TURI (3)
CABACINHA DE LUZ
CABACINHA DE LUZ
Jamil Damous
CABACINHA DE LUZ
- O que eu mais gostei foi ver aquele paideguão de alumínio subindo naquele campão de cimento pro rumo de meu Deus...
Assim Dário Mandu descreveu sua emoção ao ver pela primeira vez, no Aeroporto do Tirirical um avião de verdade, não esses teco-tecos que três vezes por semana pousavam no Campo do Canário.
Ele fora pela primeira vez a São Luís, para fazer compras e ver de perto as maravilhas da capital. Percorreu a Rua Grande de cima a baixo. Tudo o que o Coronel Raimundo Estrela tinha, ele haveria de ter também. A começar pelas “cabacinhas de luz”, como chamava as lâmpadas elétricas que tanto o deslumbraram, acesas na grande casa da Praça da Igreja, com a inacreditável luz que não tremeluzia como a dos candeeiros e fazia milagrosamente a noite turiense virar dia claro.
Antes mesmo da luz elétrica chegar a Turiaçu, com a inauguração da usina, o coronel Raimundo Estrela comprou um gerador. Da horinha que escurecia até 10 da noite, as lâmpadas se acendiam e encantavam o povo do Turi.
Um mês depois, Dario Mandu pedia a uma atônita balconista uma dúzia de cabacinhas de luz. De volta a Turiaçu, mandou pendurá-las por toda a casa. Chamou o pessoal da redondeza para, juntos, esperar o cair da noite e constatar que o Coronel não era o proprietário exclusivo da luz. A escuridão chegou e, para a suprema humilhação de Dario, as lâmpadas não se acenderam.
Mas ele não se deu por vencido. Iria mostrar a todos outra maravilha do mundo moderno, o rádio, “falador que nem o do meu Compadre Raimundo”, como ele também exigira da moça da loja lá em São Luís. O pessoal se reuniu para ouvir o rádio falador pela primeira vez. O incrédulo Chico Mucura resmungou que duvidava muito que aquela caixa preta falasse, que quem fala é gente, que esse negócio de coisa falar é arte do demo. O tempo passava e parecia dar razão a Chico, pois dali só saía o barulho das ondas hertzianas e nada do bicho falar. Com os sinais de impaciência e incredulidade, Dario resolve dar uma satisfação:
Pessoal, é que agora o meu Compadre Raimundo deve tá ouvindo o dele lá. Vamos esperar mais um pouquinho. Quando o dele se calar lá, vocês vão ver, o nosso bichinho aqui vai falar que nem um papagaio!
Mas Dario Mandu ainda não estava satisfeito. Fez outra vagem à capital, desta vez para comprar um ventilador.
- O que eu mais gostei foi ver aquele paideguão de alumínio subindo naquele campão de cimento pro rumo de meu Deus...
Assim Dário Mandu descreveu sua emoção ao ver pela primeira vez, no Aeroporto do Tirirical um avião de verdade, não esses teco-tecos que três vezes por semana pousavam no Campo do Canário.
Ele fora pela primeira vez a São Luís, para fazer compras e ver de perto as maravilhas da capital. Percorreu a Rua Grande de cima a baixo. Tudo o que o Coronel Raimundo Estrela tinha, ele haveria de ter também. A começar pelas “cabacinhas de luz”, como chamava as lâmpadas elétricas que tanto o deslumbraram, acesas na grande casa da Praça da Igreja, com a inacreditável luz que não tremeluzia como a dos candeeiros e fazia milagrosamente a noite turiense virar dia claro.
Antes mesmo da luz elétrica chegar a Turiaçu, com a inauguração da usina, o coronel Raimundo Estrela comprou um gerador. Da horinha que escurecia até 10 da noite, as lâmpadas se acendiam e encantavam o povo do Turi.
Um mês depois, Dario Mandu pedia a uma atônita balconista uma dúzia de cabacinhas de luz. De volta a Turiaçu, mandou pendurá-las por toda a casa. Chamou o pessoal da redondeza para, juntos, esperar o cair da noite e constatar que o Coronel não era o proprietário exclusivo da luz. A escuridão chegou e, para a suprema humilhação de Dario, as lâmpadas não se acenderam.
Mas ele não se deu por vencido. Iria mostrar a todos outra maravilha do mundo moderno, o rádio, “falador que nem o do meu Compadre Raimundo”, como ele também exigira da moça da loja lá em São Luís. O pessoal se reuniu para ouvir o rádio falador pela primeira vez. O incrédulo Chico Mucura resmungou que duvidava muito que aquela caixa preta falasse, que quem fala é gente, que esse negócio de coisa falar é arte do demo. O tempo passava e parecia dar razão a Chico, pois dali só saía o barulho das ondas hertzianas e nada do bicho falar. Com os sinais de impaciência e incredulidade, Dario resolve dar uma satisfação:
Pessoal, é que agora o meu Compadre Raimundo deve tá ouvindo o dele lá. Vamos esperar mais um pouquinho. Quando o dele se calar lá, vocês vão ver, o nosso bichinho aqui vai falar que nem um papagaio!
Mas Dario Mandu ainda não estava satisfeito. Fez outra vagem à capital, desta vez para comprar um ventilador.
- Moça, eu também quero um ventilador percurador que nem o do meu compadre Raimundo.
- Como assim, percurador?
- Um desses¬ que ficam percurando a gente.
E, para não restar dúvida, fez com as mãos o movimento lateral do ir e vir dos ventiladores giratórios.
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