Homem
e Sociedade: Migrações, identidades culturais e etnicidade: Fluxos migratórios,
a cultura (assimilação e integração), dificuldades de integração.
Alan José de
Jesus Silva
Anna Carolina
Costa Brasil
Carlos Renato
Cunha dos Santos
Diomedes
Medeiros do Nascimento Jr.
Fabrycio
Gonçalves de Oliveira
Suzanne
Rodrigues Coutinho
“Tudo
vale a pena se a alma não é pequena”
Fernando
Pessoa.
Desde os primórdios o homem procura meios para sua sobrevivência. Como
ser social, associa-se a outros, formando grupos para a cata de alimentos e
caça; refugia-se em cavernas para
escapar das intempéries e das feras. O atendimento das suas necessidades
fundamentais leva o homem às grandes migrações. No decorrer dos séculos, com a
criação das vilas e cidades, as necessidades
humanas foram aumentando e muitos homens foram em busca de seus sonhos em lugares cada vez mais longínquos.
Os emigrantes saem de seus lugares ou países em busca de vida melhor, de
renda, riqueza e, após muitos sacrifícios de adaptação, muitos pensam em voltar
e se estabelecer em seus lugares de origem com os recursos obtidos em sua
aventura.
Segundo o Wikipédia,
“A emigração é o ato e o fenômeno
espontâneo de deixar seu local de residência para se estabelecer numa outra
região ou nação.
Trata-se do mesmo fenômeno da imigração
mas visto da perspectiva do lugar de origem.A emigração é a saída de nosso país. Convenciona-se chamar os
movimentos humanos anteriores ao advento dos Estados nacionais
e, conseqüentemente, do surgimento das fronteiras de migração.
O termo migração também é comumente usado para designar os fluxos de população
dentro de um mesmo país.
As
razões que levam uma pessoa ou grupo a emigrar são muitas, como as condições políticas
desfavoráveis, a precária situação econômica,
perseguições religiosas ou guerras. Há outras razões de cunho individual, como a mudança
para o país do cônjuge estrangeiro após o casamento
ou ir para um país de clima
mais ameno após a aposentadoria.
As
emigrações tiveram um profundo impacto no mundo dos séculos XIX
e XX,
quando milhões de famílias deixaram a Europa e o Oriente Médio
para buscar uma nova vida em países como os Estados Unidos da América, o Canadá,
o Brasil,
a Argentina
ou a Austrália.”
Aqui no Brasil, os primeiros que para cá emigraram foram os portugueses,
com Pedro Álvares Cabral. Com o passar do tempo, fugindo de conflito com a Espanha,
a corte lusitana aqui se instalou. Depois, forçosamente vieram os africanos,
como escravos. Muito tempo depois, ora fugindo dos terrores da guerra, ora em
busca de dias melhores, vieram os europeus (principalmente italianos, alemães e
poloneses além de outros) que se instalaram no sul e sudeste brasileiro. Os
japoneses vieram para o Pará no começo do século XX.
A emigração pode ser interna. Exemplo disso são os nordestinos que fogem
das agruras e da pobreza de sua terra e partem em busca de trabalho em outros
lugares. Muitos morreram durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no
Acre. Outros, mais recentemente partiram para o plantio de cana-de-açúcar em
São Paulo. Os nordestinos quando retornam em visita às suas famílias, o fazem
após 8 meses na plantação. Às vezes seus filhos pequenos não os reconhecem.
Os imigrantes quer da Europa, Estados Unidos ou de qualquer outra nação
do planeta enfrentam inúmeras dificuldades, em maior ou menor grau, dependendo
do país para onde emigram. Tais dificuldades têm início com os recursos
financeiros para as viagens, os deslocamentos, estadias e alimentação. Junto a
isto vem a língua local e a comunicação com as pessoas. Deve ser extremamente
difícil para um jovem de Governador Valadares - que não sabe o inglês - entrar
nos Estados Unidos e travar os primeiros contatos com as pessoas do local onde
se encontra. Este brasileiro terá que aprender a escrita e aos poucos ter
fluência do idioma. Terá que adaptar-se aos hábitos alimentares, ao clima do
país, aos costumes, cultura e tradições da sociedade local. Terá, também, que
tomar cuidados com a crença e costumes religiosos, além de desprender-se de
qualquer preconceito racial. A título de exemplo, é interessante lembrar que
imigrantes japoneses em terras brasileiras tiveram mais dificuldades que os
imigrantes europeus, no idioma, na escrita, na alimentação, nos costumes
sociais e religiosos e também pelo preconceito racial.
A difícil
decisão de mudar de país e a realização de um desejo na nova terra são elementos
presentes na vida de todos os imigrantes. A distância e a saudade da família e
dos amigos também precisam ser vencidas a cada dia.
Segundo
a psicóloga Rejane Guerreiro, citada por SCHREIBER,
“a mudança de país é um desafio consciente. No inconsciente
está a vontade de realizar algo, que vem acompanhada de um reforço negativo em
relação às dificuldades que serão enfrentadas. “Saudade, pressão da família, ou
quando os planos de ficar por um tempo determinado precisam ser adiados”, disse
ela, enfatizando que isto acontece com a grande maioria dos imigrantes, não só
os brasileiros”.
As migrações
internacionais, atualmente, constituem um espelho das assimetrias das relações
sócio-econômicas vigentes no cenário planetário. São termômetros que apontam as
contradições das relações internacionais e da globalização neoliberal.
Numa perspectiva sociológica, as migrações são percebidas sob a ótica
estruturalista como uma das conseqüências da crise neoliberal contemporânea. No
contexto do sistema econômico atual, verifica-se o crescimento econômico sem o
aumento da oferta de emprego. O desemprego passa a ser uma característica
estrutural do neoliberalismo, e as pessoas, então, migram em busca,
fundamentalmente, de trabalho. E isto se verifica tanto no plano interno como
no internacional. Sobre a lógica do progresso econômico e do desenvolvimento
social impera a lógica do lucro, onde todos os bens, objetos e valores são
passíveis de negociação, como as pessoas e até os seus órgãos, a educação, a sexualidade
e, inevitavelmente, os migrantes. Tomando por base o referencial demográfico,
tem-se que os deslocamentos migratórios fazem parte da natureza humana, mas são
estimulados, quando não forçados, nos dias de hoje, pelo advento da tecnologia
e pelo impacto da problemática econômica, nesta lógica inversa de sua
preponderância em relação ao ser humano.
Na ótica jurídica, de acordo com MARINUCCI e MILESI,
“um
olhar rápido sobre a regulamentação da matéria evidencia as mudanças: No século
XIX, muitos países não adotavam diferenças entre os direitos dos nacionais e os
dos estrangeiros. Assim, o código Civil holandês (1839), o Código Civil chileno
(1855), o Código Civil Argentino (1869) e o Código Civil Italiano (1865) eram
legislações que equiparavam direitos. Com as guerras mundiais ocorridas nas
décadas de ’20 e ’30 houve um retrocesso em relação à compreensão dos direitos
do migrante e muitos países estabeleceram restrições aos direitos dos
estrangeiros em suas legislações.”
Já a Constituição de
1988 abre-se para outra visão. Assegura
caráter hegemônico ao conceito de que os estrangeiros residentes no país estão
em condição jurídica paritária à dos brasileiros no que concerne à aquisição e
gozo de direitos civis, como afirma o art. 5º, caput 38, que assegura a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança.
Entretanto, o Brasil convive, ainda em nossos dias, com um já ultrapassado
Estatuto do Estrangeiro, editado em pleno regime militar, ou seja, a Lei
6815/80.
No Art. 5º da Constituição Brasileira, consta:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)”
Na visão de DA SILVA,
“ao estrangeiro
correspondem, igualmente, os direitos sociais, especialmente os trabalhistas.
Ao outorgar direitos aos trabalhadores urbanos e rurais, por certo aí a
Constituição alberga também o trabalhador estrangeiro residente no País, e
assim se há de entender em relação aos outros direitos sociais: seria contrário
aos direitos fundamentais do ser humano negá-los aos estrangeiros residentes
aqui”.
Atualmente alguns países europeus têm criado sérios
problemas aos seus imigrantes. Segundo artigo publicado pelo jornalista Isaac
Bigio,
Perto
do dia dos pais o euro-parlamento aprovou dispositivos que permitirá encarcerar
e deportar em massa a milhões de ‘sem papéis’ [imigrantes ilegais]. Os
estrangeiros sem documento poderão ser detidos por até 18 meses e serem banidos
de voltar à UE por cinco anos, ainda que ele seja um pai e que ali tenha
filhos. Também poderá deportar meninos (ainda que tenham nascido ali, deverão
ser deportados ainda que não estejam acompanhados por algum parente).
Desde
cinco séculos atrás, as Américas absorveram dezenas de milhões de europeus.
Inclusive, após expulsar às coroas européias, o novo mundo seguiu recebendo
imigrantes do velho mundo que fugiam de crise, guerras e perseguições. Hoje,
quiçá, há mais descendentes de espanhóis, portugueses, italianos ou irlandeses
vivendo nas Américas, do que nesses mesmos países.
Na
Europa vivem poucos milhões de latino-americanos, que só fluíram em massa para
ali há duas décadas. Entretanto, com essas novas leis põe-se em risco a estadia
de muitos deles ou de seus familiares e também a economia de vários países
pobres que se beneficiam de suas remessas e de seus contatos comerciais.
Hoje,
cerca de 12 milhões de andinos estão vivendo fora de sua pátria (população
igual ou maior que a de dois dos quatro membros da comunidade andina). Uma
carta do presidente boliviano chamando essa lei de ‘vergonha’ foi muito
difundida em Europa, ainda que seus homólogos do Peru e Colômbia (que têm na UE
mais compatriotas que a população da Bolívia) preferem não protestar muito,
pensando que assim, conseguirão mais investimentos.”
O Brasil passou de País de imigração a
País de emigração. O fluxo emigratório teve início nos anos ’80, tendo como
causas centrais a falta de trabalho, de perspectivas, de condições de
sobrevivência e de um futuro melhor, bem como a oferta de empregos e as
perspectivas de melhores salários nos países do norte.
Em 2002, as estimativas do Ministério das
Relações Exteriores já apontavam a
existência de aproximadamente 2 milhões e meio de emigrantes brasileiros, dado
este que hoje, sempre como estimativa, supera os 3.000.000 de brasileiros
emigrados.
Segundo
o site Comunidade News, “somente em
2010, mais de 8.800 brasileiros se naturalizaram norte-americanos”. Facilidade.
Esta é a principal razão que os brasileiros apontam quando decidem se tornarem
cidadãos norte-americanos. Viajar sem precisar de vistos para diversos países
do mundo, não precisar de renovar o green
card, ficar no Brasil por tempo indeterminado e ter benefícios sociais são
alguns dos benefícios de ter um passaporte “azul” apontado por brasileiros
entrevistados pelo Comunidade News.
Alencar
Castello mora nos Estados Unidos há 22 anos obtendo a sua cidadania em 1996.
Para ele, que já tentou morar no Brasil por dois anos e não se readaptou. Ter o
passaporte norte-americano traz benefícios que tornam a vida mais fácil.
Alencar gosta de viajar pelo mundo. Cada vez que programa uma viagem, uma
preocupação que ele não tem é quanto ao visto de entrada em vários países que
pretende conhecer. Outra razão apontada pelo brasileiro é poder se aposentar.
“Com a cidadania norte-americana você também tem o benefício de poder legalizar
parentes, como esposa e os pais”, diz ele. No entanto, ele não deixa de apontar
que gosta dos Estados Unidos e por isso também se naturalizou. “Eu gosto daqui,
é um país completo”, afirma. Alencar não está sozinho. Todos os anos, o número
de brasileiros buscando a cidadania norte-americana aumenta. Entre 2001 e 2003,
a quantidade de brasileiros obtendo a cidadania era de pouco mais de 3 mil por
ano. Em 2010 foram mais de 8.800 pessoas. De 2001 a 2010, o número cresceu mais
125%. Passou de 3.925 em 2001 para 8.867 no último ano.
Flórida e Massachusetts são os campeões isolados no
número de naturalizações entre brasileiros. Somente em 2010, mais de 2.200
brasileiros se tornaram norte-americanos na Flórida. Em Massachusetts o número
foi de 1.718. Os dois estados juntos representam mais de 44% das naturalizações
ano passado.
Não são apenas os benefícios que atraem os
brasileiros para as cerimônias de juramento da bandeira norte-americana. Para
alguns, poder exercer o direito pleno da cidadania é uma das razões mais importantes.
Cátia Silva, proprietária da Mirante Agency, uma agência de seguros
de Danbury, Connecticut, diz que poder participar da vida política através do
voto pesou na hora de optar pela naturalização. Morando nos Estados Unidos
desde 1987 anos, e com cidadania há oito, Cátia não esconde que os benefícios
são maiores para as pessoas naturalizadas, mas poder votar foi uma das
primeiras razões. “Para mim a razão número um foi poder votar em quem eu quero,
principalmente pelo fato de sermos imigrantes. Nós temos que votar”, diz. Poder
regularizar a situação de parentes ou até trazer do Brasil os pais, também é
outro benefício apontado por Cátia.
As migrações podem contribuir positivamente para o futuro da humanidade
e para o desenvolvimento econômico e social dos países. O fenômeno das
migrações internacionais aponta para a necessidade de repensar-se o mundo não
com base na competitividade econômica e o fechamento das fronteiras, mas, sim,
na cidadania universal, na solidariedade e nas ações humanitárias. Os países
devem adotar políticas que contemplem e integrem o contributo positivo do
migrante, vendo, assim, as migrações como um ganho e não como um problema. As
migrações são berços de inovações e transformações. Elas podem gerar
solidariedade ou discriminação; encontros ou choques; acolhida ou exclusão;
diálogo ou fundamentalismo. É dever da comunidade internacional e de cada ser
humano fazer com que o “novo” trazido pelos migrantes seja fonte de
enriquecimento recíproco na construção de uma cultura de paz e justiça. É esse
o caminho para promover e alcançar a cidadania universal.
FONTES CONSULTADAS
BIGIO, Isaac. Lei de imigração: euro-tragédia. Tradução: Pepe
Chaves. Vidas Alternativas
http://va.vidasalternativas.eu/?p=950
DA SILVA,
José Afonso. Curso de Direitos Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,
2000. Pág. 195
MARINUCCI, Roberto e MILESI, Rosita. Migrações
Internacionais Contemporâneas
http://www.migrante.org.br/as_migracoes_internacionais_contemporaneas_160505b.htm
SCHREIBER, Angela. Psicóloga brasileira aponta desafios emocionais dos imigrantes. Comunidade News Danbury, Connecticut (CT) - June 16 2011, In:
http://www.comunidadenews.com/comportamento/psicologa-brasileira-aponta-desafios-emocionais-dos-imigrantes-3896
http://www.brasileirosnosestadosunidos.com/numero-de-brasileiros-se-naturalizando-cresce-a-cada-ano/
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