Uma
celebração do amor
Kenneth Maxwell
Folha de São Paulo - 25/12/2014
Elizabeth Barrett Browning
(1806-1861) foi uma das maiores poetas da Inglaterra. Seus "Sonnets from
the Portuguese "" A Celebration of Love" estão entre os mais
memoráveis da língua inglesa. E também do português. O soneto XLIII foi
traduzido maravilhosamente por Manuel Bandeira:
Amo-te quanto em largo, alto e
profundo/ Minh'alma alcança quando, transportada,/ Sente, alongando os olhos
deste mundo, /Os fins do Ser, a Graça entressonhada. /Amo-te em cada dia, hora
e segundo: /À luz do Sol, na noite sossegada. /E é tão pura a paixão de que me
inundo/ Quanto o pudor dos que não pedem nada./ Amo-te com o doer das velhas
penas;/ Com sorrisos, com lágrimas de prece,/ E a fé da minha infância, ingênua
e forte./ Amo-te até nas coisas mais pequenas./ Por toda a vida. E, assim Deus
o quiser,/ Ainda mais te amarei depois da morte.
Elizabeth Barrett Browning era
casada com o poeta Robert Browning (1812-1880). Ele morreu em Veneza e está
sepultado no Poets Corner da Abadia de Westminster, em Londres. Visitei a
abadia na semana passada. Havia esquecido que excêntrica ela é, como uma velha
loja de quinquilharias, repleta de tumbas de reis e rainhas e de figurões
britânicos, mortos há muito tempo.
O canto dos poetas é igualmente
estranho. O túmulo de Browning é marcado por uma grande laje de pedra no chão.
O nome de Elizabeth Barrett Browning está inscrito aos pés do poeta, mas uma
coroa de flores esmaecidas o obscurecia. Ela está sepultada na Itália, no
Cemitério Protestante de Florença, onde morreu.
Elizabeth conheceu Robert
Browning em 1845, em Londres. Ele era seis anos mais novo. Ela vivia como
reclusa e era viciada em morfina, receitada por seus médicos por conta de dores
crônicas nas costas e pulmões fracos. Estava de luto pela morte de um irmão
muito amado, que se afogou velejando em Torquay, no condado de Devon. Na época,
sua família vivia em Sidmouth, na costa de Devon.
Robert e Elizabeth tiveram o
mais célebre dos romances e casamentos silenciosos da literatura. Renegada pelo
pai e irmãos ricos, ela se mudou para Florença. Robert a chamava de "minha
pequena portuguesa", por conta do amor dela pela obra de Luís de Camões.
Elizabeth era ardorosa defensora dos direitos da mulher, inimiga do trabalho
infantil e abolicionista fervorosa, apesar de as origens da fortuna de sua
família estarem nas plantações de açúcar e na escravatura da Jamaica.
Ela escreveu para Robert os
poemas de amor mais comoventes desde Shakespeare. Na tradução de Manuel
Bandeira, lhes ofereço o seu mais belo soneto como presente neste dia de Natal.
O soneto original:
Now do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being an ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, - I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being an ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, - I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/kennethmaxwell/2014/12/1566949-uma-celebracao-do-amor.shtml
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