Mário Pedrosa, figura basilar da arte brasileira,
ganha coleção de sete livros
Antonio
Gonçalves Filho
-
O Estado de S. Paulo
Estadão - 07 Março 2015
Textos antológicos do crítico, analista militante que promoveu a arte brasileira, são reunidos em nova coleção
Arauto
da abstração construtiva no Brasil, o crítico Mário Pedrosa (1900-1981) está
para o Brasil como o italiano Giulio Carlo Argan (1909-1992) para a Europa e o
norte-americano Clement Greenberg (1909- 1994) para os EUA. A exemplo dos dois,
ele teve um papel crucial na evolução de importantes movimentos artísticos,
entre eles o neoconcreto, que deu ao mundo artistas como Lygia Clark
(1920-1988), hoje reverenciada pelo MoMA de Nova York. Mas é com o
contemporâneo Argan que Pedrosa mais se identifica, não só por ter sido um
militante de esquerda como por suas intervenções em defesa da arquitetura
moderna - Niemeyer e Brasília, em especial - e da abstração, fortalecendo o
debate em torno da arte gestáltica e da produção artística de confinados em
instituições psiquiátricas.
É
esse o homem que a editora Cosac Naify homenageia com o lançamento de uma
coleção de sete volumes - passível de ampliação, como adianta o editor Milton
Ohata - dividida em quatro núcleos temáticos: arte, arquitetura, cultura geral
e política. A reedição se baseia nos livros organizados e publicados
anteriormente pela professora e filósofa Otília Arantes (Edusp) e a crítica
Aracy Amaral (para a Perspectiva).
No
dia 27, chegam às livrarias os dois primeiros volumes: Mário Pedrosa: Arte/Ensaios
e Mário Pedrosa:
Arquitetura/Ensaios Críticos. O primeiro foi organizado pelo
crítico Lorenzo Mammì e o último, pelo crítico de arquitetura Guilherme Wisnik.
Pedrosa não chegou a publicar um livro sobre arquitetura, nem mesmo um ensaio
mais longo sobre o tema, como lembra Wisnik, mas publicou vários artigos em
jornais (inclusive no Estado),
textos corsários de um militante da arquitetura moderna que não temia o
confronto com militares conservadores como Renato Guillobel (1892-1975),
ministro da Marinha de Vargas que só autorizava a construção de prédios
neoclássicos (leia trecho abaixo).
O
crítico Paulo Herkenhoff, que prepara com a colega Glória Ferreira um livro
sobre Pedrosa para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), já disse dele
que “a crítica se divide entre antes e depois de Pedrosa”. Sem dúvida. Suas
experiências de exílio político (uma no Estado Novo e outra durante a ditadura
militar de 1964) possibilitaram que ele convivesse com os maiores teóricos e
artistas de importantes movimentos, como o surrealismo, o novo realismo e o
neoconcretismo, que apadrinhou. Nascido em Pernambuco, cresceu paraibano,
passou a adolescência nos alpes suíços e retornou ao Brasil, com o fim da
guerra, em 1945, para defender as vanguardas artísticas.
Agitador
cultural, dirigiu o Museu de Arte Moderna de São Paulo, foi um dos
organizadores das bienais de 1953 e 1955 e promoveu tanto defensores do
conteúdo social da arte - entre eles Portinari (1903-1962) - como criadores
fora desse circuito, sendo o mais lembrado o norte-americano Alexander Calder
(1898-1976), pioneiro na exploração do movimento na escultura que levou Pedrosa
a se aproximar da abstração.
O
volume de ensaios sobre arte foi organizado em ordem cronológica, o que permite
ao leitor contato com o primeiro texto de Pedrosa sobre o tema, uma conferência
sobre a artista alemã Käthe Kollwitz (1867-1945), proferida em 1933, em que
analisa o conteúdo de sua arte expressionista focada na classe operária, nos
desastres da guerra e na pobreza. A diferença entre a sua abordagem e a de
Argan - os dois de formação marxista -, observa Mammì, é que Pedrosa “encarava
a arte como um fato natural, espontâneo, o que o identificava com os
surrealistas, e não como uma ciência europeia”. Tanto que, nos anos 1940, ele
se afasta de Portinari e se aproxima de Calder. Mas, a exemplo de Argan, ele se
mostrou resistente ao movimento pop, perdendo nos últimos anos o interesse pela
arte.
O
historiador Francisco Alambert, que organiza o volume sobre cultura geral,
adianta que o livro vai mostrar como, além de crítico, “Pedrosa foi um pensador
da cultura, avesso ao desenvolvimentismo, que confessa sua estranheza sobre as
novas formas de arte surgidas depois da pop, como a performance e a body art”.
ARQUITETURA: ENSAIOS
CRÍTICOS
Autor: Mário
Pedrosa
Organização: Guilherme
Wisnik
Editora: Cosac
Naify (210 págs., R$ 49,90)
http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,mario-pedrosa-figura-basilar-da-arte-brasileira-ganha-colecao-de-sete-livros,1645972
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