E A VIOLÊNCIA COTIDIANA...
Francisco Vaz Brasil
“Enquanto a miséria cobre de cadáveres vossas ruas, de ladrões e
assassinos vossas prisões, que vemos da parte dos escroques da fina sociedade?
... os exemplos mais corruptores, o mais revoltante cinismo, o banditismo mais
desavergonhado... Não receais que o pobre que é citado ao banco dos criminosos
por ter arrancado um pedaço de pão pelas grades de uma padaria se indigne o
bastante, algum dia, para demolir pedra por pedra a Bolsa, um antro selvagem
onde se roubam impunemente os tesouros do Estado, a fortuna das famílias.”
FOUCAULT,
Michel. Vigiar e punir – História da violência nas
prisões. Petrópolis, RJ:Ed. Vozes, 17
ed. p.253
A violência domina o teu cotidiano. Não passas uma
semana sem que assistas, leias ou ouças pelos meios de comunicação notícias de assaltos,
assassinatos, sequestros e atentados. O perigo de morte violenta está em todos
os lugares. Não raro, a vítima é um dos teus amigos, vizinhos ou conhecidos.
Aos poucos, o círculo parece se fechar à tua volta e, revoltado, sem perceber
passas a alimentar, com os teus próprios sentimentos, as vibrações de
agressividade que permeiam o mundo: queres vingança, sonhas em fazer justiça
com as próprias mãos – acrescentas raiva na fogueira da agressão.
Convives com a violência, algumas vezes
em casa, mas a violência está mesmo nas ruas. A insegurança é geral. Balas
entre a polícia e os bandidos cruzam à tua frente. Com a violência escolas têm
as aulas paralisadas. O comércio fecha e sofre os prejuízos. Todos se escondem
e correm. E é privilégio das populações em quase todo o país. Convives com os
assaltos à mão armada nos ônibus, nas casas comerciais, nas ruas. com seqiestros, com
homicídios por vingança.
Estás inseguro, à mercê da criminalidade. E como transformar essa situação, aparentemente
incontrolável? Já que és responsável apenas pelos teus pensamentos, desejos e
ações, o primeiro passo é tomar consciência do teu próprio instinto de
agressividade e, direcioná-lo para atividades criativas: o trabalho, a arte, os
esportes, etc. Assim, serás um agressor
a menos no mundo.
Já sabes que a violência é um fenômeno
social muito perigoso, sabes que dezenas de pessoas morrem por causa de tiros e
golpes, e sabes que deves te cuidar. Hás que ter muito em conta que deves
tratar de reduzir a violência. O primeiro passo é saber como te controlar,
saber manejar teus impulsos negativos que tanto dano te fazem. Ao mesmo tempo, precisas aprender a te colocar no
lugar do outro e tentar entender o que o levou a atos tão insanos. Por fim,
resta-te desenvolver o dom de perdoar – única maneira de libertar-te da mágoa e
da dor que atingem as vítimas da violência.
Deves procurar uma autêntica educação, com
o desenvolvimento integral da pessoa, proporcionando-te além de conhecimentos,
valores, crenças e atitudes frente a distintas situações. Necessitas aprender a respeitar ao outro,
possibilitando-te a capacidade de aceitar o erro como incentivo para a busca de
outras alternativas válidas, superando as dificuldades que se apresentem.
A receita é
também válida para aqueles casos em que a agressão manifesta-se de forma mais
sutil, limitando-se a danos emocionais – nem por isso menos insignificantes –,
como numa briga de casal ou na discussão com um amigo ou com um desconhecido.
Seja como
for, a situação é muito complexa e exige de nós, seres tão incompletos e
inconstantes, o reflexivo exercício da boa vontade, da tolerância e do amor ao
próximo – de preferência, incondicional.
Precisamos inventar uma vacina em nosso íntimo laboratório.
Vês que a
violência não é um fenômeno novo na sociedade brasileira e os crimes, à medida
que não são resolvidos, vão se acumulando nos porões da história, comprometendo
o Estado de direito, em sua dimensão pública e privada. Os horrores se sucedem
no dia-a-dia, mas a violência não é somente aquela que produz cadáveres, que
mutila corpos e que destrói a materialidade, ela é também aterradora, quando se
reveste de desrespeito à dignidade humana.
Nesse
universo, inúmeras violações aos direitos dos seres humanos mais fundamentais
são cometidas no cumprimento das penas, maculando o entorno cultural da
sociedade contemporânea, sobretudo em razão de suas desigualdades, uma vez que,
dentre outros indicadores, o grau de civilização de um país é medido pelo
respeito dispensado aos seres humanos, livres e presos.
Vives um dos piores momentos da história, com a
deflagração das mais variadas crises, seja de mercado ou de mercadoria humana,
onde impera uma totalidade de problemas que passa pelo desemprego, decadência
das instituições responsáveis pela educação, saúde e moradia; corrupção
generalizada, descrédito nas ideologias, desrespeito ao meio ambiente e crime
organizado, apenas para citar alguns.
Isso tudo
gera o aumento da criminalidade, que se não for tratada de maneira adequada,
volta-se contra a própria sociedade, que passa a viver sob o signo do medo e da
insegurança. Na busca desesperada de uma suposta tranquilidade social,
advoga-se por medidas repressivas de extrema severidade e a sanção penal passou
a ser considerada como indispensável para a solução dos conflitos sociais.
Segundo estudo realizado pela Unesco, a
violência estaria classificada em três
níveis:
1. Violência “dura”: golpes,
ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismos;
2. Incivilidades: agressões,
humilhações, palavras grosseiras, desordens, falta de respeito, discriminação;
3. Violência simbólica ou
institucional: refere-se ao abuso do poder baseado no consentimento que se
estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade e que dissimula
as relações de força e poder. Ela fere e não necessariamente se utiliza de
força física.
O que está
acontecendo no Brasil é que cristalizou-se a ideia de que a punição
generalizada virou "remédio para todos os males" que afligem os
homens bons. Para chegar a esse ponto, os meios de comunicação tiveram grande
influência, pois como a violência atrai público, vendendo jornais e audiência,
deu-se enorme publicidade aos delitos de maior gravidade, como assaltos,
sequestros, homicídios, estupros, etc. A insistência do noticiário desses
crimes criou a síndrome da vitimização. Tu passas a crer que a qualquer momento
podes ser vítima de um ataque criminoso
O delito
sempre existiu e sempre existirá. Ocorre em todos os países, em todas as
civilizações, sejam quais forem os seus costumes. É impossível extingui-lo, não
quer dizer que o aceitas, podes, entretanto, senti-lo reduzido, em escalas
razoáveis e toleráveis.
As
lamentáveis condições de vida em nossas prisões, não são segredo para ninguém,
tu bem o sabes. O sistema carcerário brasileiro não tem cumprido seu principal objetivo,
que é reintegrar o condenado ao convívio social, de modo que não volte a
delinquir.
Como causas principais da violência, podes
enumerar o alcoolismo como o primeiro.
As drogas: as mais diversas, que levam ao delírio os seus consumidores e
ao enriquecimento os seus traficantes. Se a uns a droga torna ricos, a outros,
as drogam levam à desgraça e até a morte. O ciúme. O ciúme é causa de muitas
mortes, principalmente de mulheres, devido à falta de entendimento entre
casais.
Furtos e Roubos: aparentemente é a forma
mais fácil obter dinheiro e bens é roubando aplicando golpes, sequestrando.
A violência é uma ação exercida por uma ou várias
pessoas que submetem outra ou outras pessoas de maneira intencional ao
maltrato, pressão, sofrimento, manipulação e ações que atentam contra a
integridade física, psicológica e moral do indivíduo ou grupo de pessoas. A
violência é a pressão psíquica ou abuso da força exercida contra uma pessoa com
o propósito de obter fins contra a vontade da vítima. Assim, podes presenciar a violência de várias
formas:
Violência
familiar: No seio familiar, é onde
mulheres e crianças são maltratadas e submetidas a tratamentos desumanos pelos
homens. Logo na família, onde os direitos de todos deveriam ser respeitados,
onde a infância deveria ser protegida, o amor deveria imperar, pois, é aí que se originam a delinquência
infanto-juvenil, a entrada para o mundo das drogas e a prostituição. O maltrato
físico, com lesões leves ou graves, como
fratura de ossos, hemorragias, lesões internas, queimaduras,
envenenamento, hematomas, são ocorrências normais no dias atuais.
Violência
sexual: É um crime muito comum
praticado contra mulheres, crianças e adolescentes. Às vezes a vítima oculta
ter sido vítima por vergonha, isolando-se, por medo de expor-se e, afinal, cair
no mundo da amargura e da miséria das ruas. Ao ocultar tal fato, a vítima está favorecendo
ao agressor e ajudando-o a cometer novos delitos. É uma experiência muito
traumática, onde a vítima não tem a quem recorrer.
Violência
cotidiana: É
a que sofremos diariamente e se caracteriza pelo desrespeito às regras sociais,
ao péssimo transporte público, a não atendimento médico e social e as longas
esperas pelos doentes em hospitais. A indiferença ao sofrimento humano. Insegurança
Acidentes de trânsito. Somos as vítimas diuturnas
e as partes mais fracas de uma luta cujo cenário dos corpos desta selva
urbana..
Violência econômica: refletida pela pobreza e
marginalidade de grandes grupos da população, o desemprego, o subemprego,
informalidade, tudo isto basicamente refletido na falta ou desigualdade de
oportunidade de acesso à educação, segurança e saúde.
Violência delinquencial: Roubos, fraudes, narcotráfico, quer dizer, condutas
que assumem meios ilegítimos para alcançar bens materiais. Milhares de menores
se organizam em grupos para roubar, para fumar maconha, cheirar crack e se prostituir.
Milhares de pessoas vivem
em casas comerciais ou particulares protegidas por grades. As crianças de hoje
já não podem brincar nas calçadas.
Violência policial: Esta é caracterizada por homens
despreparados, inescrupulosos que usam a farda para extorquir pessoas, empresas
e praticam toda a forma de crimes contra inocentes, os desprotegidos. Maus
policiais agem em benefício próprio, rapinando os cidadãos de bem. Muitos foram
demitidos das instituições. Muitos continuam agindo e por falta de provas não
recebem o julgamento justo. Muitos foram os que formaram grupos de extermínio.
Invadem tua casa sem licença, sem mandado de busca, sem respeito a velhos e
crianças. É preciso mudar. Muita coisa, inclusive o homem.
Outras formas de Violência: A violência contra a pessoa está banalizada. E
parece que vale a pena cometer crimes, pois a impunidade impera. Ficas triste
ao ver juízes indiciados por vendas de
sentenças, soltarem presos perigosos e nunca mandar para a prisão pessoas que metem a mão nos cofres públicos. Liberação
de presos perigosos que a polícia jamais recapturará.. Juízes afastados mas
continuarão recebendo seu alto salário como aposentado. A propina corre solta. E viva o Brasil, terra da contravenção,
da corrupção, onde o crime compensa e só vai para a cadeia ladrão de galinha,
portadores de pacotinhos de maconha e cocaína. Ver cadáveres é coisa banal.
Saber que um amigo ou vizinho foi assaltado é comum. Os jornais todos os santos
dias publicam a foto de alguém morto em frente às casas da periferia. A lei do
silêncio impera. A impunidade impera. Aliado
a isso há a violência no trânsito,
onde a imprudência adicionada ao álcool e às drogas, deixam vítimas e os
infratores ficam, na maioria dos casos, impunes. A indústria do sequestro cresce e atinge principalmente as famílias de classe
média e alta. Os sequestradores mantém os reféns em lugares lúgubres e cobram
verdadeiras fortunas pelo resgate. A polícia age com muito sigilo e muitos
cativeiros são desmantelados e os membros das quadrilhas, presos. Há resgates pagos mas, vez por outra o
refém não é encontrado com vida. É comum hoje os bandidos comandarem sequestros
de dentro das prisões, graças à presença de aparelhos telefônicos dentro das
penitenciárias. Os falsos sequestros têm feito muitas vítimas a pessoas
incautas, que não atentam ao que realmente está ocorrendo ao seu redor. O
sequestro é, também, considerado crime hediondo e está ao alcance das
autoridades policiais a solução. Basta querer realmente eliminar as várias
formas de entrada de celulares nas prisões. E por falar em segurança ou
vigilância carcerária, como é que entram nas celas armas, facas, punhais, estiletes,
cordas e outros objetos que são utilizados em fugas, e em rebeliões nos
presídios? Por que será, hein?
Está bem na hora de leis bem mais severas
serem editadas para coibir ou reduzir a criminalidade neste País. Já é tardio o
tempo da redução da idade de tantos malfeitores que cometem crimes e ficam
impunes e a sociedade sofrendo. É hora de agir, doa a quem doer.
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