A RAZÃO NA
CULTURA ILUMINISTA
ANNA CAROLINA
COSTA BRASIL
BENEDITA DE
SOUZA ALMEIDA
MARIA DE
NAZARÉ ARAÚJO VAZ
MARIA ELZA
PINHEIRO DA COSTA BRASIL
PAULINA DE
JESUS PAIXÃO DE FREITAS
SELSON
FERNANDO FERREIRA
1. O lema do
iluminismo: "tem a coragem de
servir-te de tua própria inteligência!"
Em sua
resposta à pergunta "o que é
iluminismo", Kant ensina que o
iluminismo é a saída do homem
de seu estado de minoridade, por seus próprios meios, fazendo uso de sua inteligência,
adotando uma atitude crítica em relação ao mundo, deixando de ser guiado pelo
outro.
Somente a consciência, pelo uso crítico
da razão pode libertar o homem da servidão dos juízos pré-concebidos, dos dogmas metafísicos, dos preconceitos
morais, das superstições religiosas, das
relações desumanas e das tiranias políticas.
O programa do iluminismo: acabar com o medo dos homens, tornando-os
senhores; libertar o mundo da magia, propondo-se a dissolver os mitos e
derrubar a imaginação, com a ciência.
Os iluministas se configuraram como um
exército em luta contra todos os pré-preconceitos onde a razão humana é a única
fonte da verdade e autoridade. Logo o iluminismo tomou o papel de filosofia
hegemônica na Europa do século XVIII constituindo-se em um articulado movimento
filosófico, pedagógico e político que conquistou as camadas cultas e a ativa
burguesia em ascensão pregando a confiança na razão humana, cujo
desenvolvimento representa o progresso da humanidade e libertação frente a
ignorância, a tradição, a superstição, ao mito e a opressão.
A razão dos iluministas se volta a
defesa do conhecimento científico e da técnica enquanto instrumentos de
transformação do mundo e de melhoria progressiva das condições espirituais e
materiais da humanidade.
2.
A
"razão" dos iluministas
O iluminismo se caracteriza por ser uma
filosofia otimista que por ser adotada pela burguesia assumiu papel de ciência que se
empenha e trabalha pelo progresso humano. Onde os iluministas põem na base
desse progresso espiritual, material e político o uso crítico e construtivo da
razão.
Mas que razão é essa? Segundo Cassirrer
no século XVII para Descartes e Malebranche, para Spinoza e Leibniz, a razão é
o território das verdades eternas, as quais são comuns ao espírito humano e ao
espírito divino. Já no século XVIII a razão não é tanto uma posse mas muito
mais uma determinada forma de aquisição, é a força originária do espírito, que
leva a descoberta da verdade e à sua determinação, com isso o conceito de razão
se caracteriza por ser o conceito de um fazer e não de um ser, o fazer voltado
à experiência e fiscalizado pela experiência que não busca a causa ou essência
das coisas mas sim procura desvendar as leis de seu funcionamento e as submete
à prova.
3.
A
"razão iluminista" contra os sistemas metafísicos
A razão iluminista está limitada à
experiência e controlada pela experiência, limitada em seus poderes e
progressiva em seu desenvolvimento não excluindo nenhum campo de investigação,
é uma razão que diz respeito a natureza e, ao mesmo tempo, também o homem, onde
o homem não se reduz apenas à razão mas tudo aquilo que lhe diz respeito pode
ser indagado através da razão dos princípios do conhecimento, comportamentos
éticos, estruturas e instituições políticas entre outros.
A razão iluminista tem caráter crítico
enquanto empirista e devido apresentar idéias "experimentais" e
"indutivas" o racionalismo iluminista começa por infringir a forma
anterior de conhecimento filosófico baseado nos sistemas metafísicos não
acreditando mais no direito e no rendimento do espírito do sistema encarando-o
como um limite e u obstáculo à razão filosófica.
Assim a filosofia não é um bloco de
conhecimentos que se colocam além ou acima dos outros conhecimentos, sendo
assim a filosofia não se separa mais da ciência natural e social, mas de certo
modo constitui para todas elas a respiração vivificante, a única atmosfera na
qual podem existir ou atuar. Para o iluminismo, a filosofia não é o próprio
tempo apreendido com o pensamento e a filosofia iluminista não é um modo de
acompanhar a vida e refletir sobre ela na reflexão, o iluminismo atribui ao
pensamento não apenas méritos secundários e imitativos, mas também a força e a
tarefa de plasmar a vida.
4.
O
ataque contra as superstições das religiões positivas
Ligado à experiência e contrário aos
sistemas metafísicos, o racionalismo iluminista ironiza com desprezo sarcástico
as religiões positivas através de uma postura cética e até mesmo irreverente
caracterizando-se como um grande processo de secularização do pensamento, porém
a filosofia iluminista através das vertentes inglesa e francesa trouxeram a
idéia do filosofia do deísmo que é parte integrante do iluminismo como religião
racional e natural sendo tudo aquilo e só aquilo que a razão humana pode
admitir como a existência de Deus, a criação e o governo do mundo por Deus na
vertente inglesa visto como governador do mundo físico e moral e a vida futura
em que recebe a paga pelo bem e pelo mal.
Voltaire defende a existência de um ser
supremo "Deus", porém ataca a aceitação dos conteúdos, dos ritos, as
histórias sagradas e as instituições das religiões positivas como as
superstições, fruto do medo e ignorância, sendo tarefa do iluminismo iluminar
as trevas das religiões positivas mostrando a variedade dessas religiões,
analisando suas origens históricas e seus usos sociais evidenciando toda a sua
humanidade.
Após Voltaire sempre continuou sendo
destacada a crença em Deus, as religiões positivas e Igrejas, onde ambas as
vertentes passaram a ser encaradas como obstáculos frente ao progresso do
conhecimento servindo como instrumentos de opressão e geradores de
intolerância, sendo assim passíveis de discriminação.
5.
"Razão"
e direito natural
O racionalismo iluminista estabeleceu a
razão como base das normas jurídicas e
das concepções do Estado. Ao referir-se
à religião e moral naturais, refere-se, também a direito natural, significando
natural, também, racional.
Os direitos do homem e do cidadão,
originaram-se na França, durante a sua revolução, por uma declaração
jusnaturalista estruturada no iluminismo jurídico-político.
O iluminismo orienta a pesquisa cognoscitiva,
para fins práticos, objetivando tornar melhor a condição do homem, em bases
racionais.
Em O espírito das Leis, Montesquieu
declara que "em seu significado mais amplo, as leis são relações
necessárias que derivam da natureza das coisas". São leis imutáveis, como
as leis matemáticas.
Em Voltaire, temos que "Deus deu
ao homem sentimentos que nunca poderá renegar: são os vínculos eternos e as
primeiras leis da sociedade humana".
Mário Cattaneo, um filósofo do
direito, ensina que as características
gerais da doutrina iluminista são
"uma atitude racionalista em
relação ao direito natural e uma atitude voluntarista, em relação ao direito
positivo".
Os direitos naturais do homem e do
cidadão, conforme a Assembléia Constituinte Francesa, de 1789, são a liberdade, a igualdade, a propriedade, a segurança e a resistência à
opressão. A propriedade privada e a livre concorrência são "naturais".
6.
Iluminismo
e burguesia
O desenvolvimento do
iluminismo é simultâneo ao desenvolvimento variado da burguesia nos vários
países europeus. O interesse dos
intelectuais voltou-se para a classe burguesa que era o agente desse pro-gresso
– o desenvolvimento do comércio e do artesanato fez nascer uma classe de homens
ricos.
A luta travada contra um poder incapaz
de interpretá-la, e deixar que fosse
feita, contra os privilégios feudais da nobreza e do clero, a burguesia iria
utilizar como poderosa arma as idéias propugnadas pelos iluministas, que, por
seu turno, haviam visto nessa classe o agente de progresso e em suas
iniciativas os efetivos passos adianta no caminho da realização de tal
progresso.
7.
Como
os iluministas difundiram as "luzes".
As idéias iluministas não
penetraram nas classes populares da Europa do século XVIII, que permane-
ceram ao movimento, enquanto os
iluministas conseguiam difundir as novas idéias nas camadas intelectuais e
entre a burguesia avançada de toda a Europa, interessando, cultural e
politicamente nações muito diferentes entre si no continente europeu.
Os
philosophes, como eram chamados os expoentes das "luzes",
consideravam-se mestres da sabedo-ria, conselheiros natos dos monarcas e gurus
da classe média, utilizaram como meios
para divulgar e cir-cular as idéias iluministas, as academias, a maçonaria, os salões, a Enciclopédia, o
epistolário (as cartas e os ensaios) este constituindo-se um meio rápido para
os iluministas difundirem suas idéias e o apreço pelas luzes da razão.
8.
Iluminismo,
história e tradição.
O Iluminismo assumiu uma
atitude altamente crítica, chegando a rejeitar à tradição filosófica, religio-
sa
e política em defesa de uma razão que se ergue como um tribunal a-histórico de
qualquer acontecimento histórico; as próprias idéias de natureza humana, de
estado natural ou de direitos naturais em seu conjunto, fizeram com que os
pensadores românticos acusassem o século XVIII como um século anti-histórico. O
iluminismo seria a filosofia de uma razão abstrata, de uma razão sem história,
de uma razão em que os valores éticos,
as teorias filosóficas, os princípios teológicos ou as normas jurídicas seriam
desprovidos de dimensão histórica.
Para o marxismo "o iluminismo é um movimento de
progresso e emancipação humana no plano ideológico, ao passo em que a burguesia
é uma força social revolucionária, mas é um movimento de compromisso ideológico
e de conservação".
Abstrato para os românticos ou
superficial e incapaz de captar o verdadeiro sentido da história, conforme
Hegel, o "reino da razão" iluminista é para o marxista Lukács, como o
"reino da burguesia". Assim, também críticos aos iluministas foram os
tradicionalistas e os neo-idealistas. Muitos autores foram incisivos em
"emascular o século XVIII para cancelá-lo da história da cultura".
Na verdade, foi precisamente a filosofia
iluminista que conquistou aquele mundo histórico do qual tanto o romantismo
iria se vangloriar, com justa razão.
W. Dilthey escreveu que foi com o
Iluminismo que, pela primeira vez, a história universal alcançou uma conexão
que nascia da própria consideração empírica: ela era racional em virtude da
concatenação de todos os acontecimentos segundo o princípio de causa e efeito e
era criticamente superior em virtude da rejeição de qualquer superação da
realidade dada em representações que a transcendessem. Os fundamentos de tal
construção estavam no emprego inteiramente despreconceituoso da crítica
histórica, que não se detinha sequer diante das mais sagradas relíquias do
passado, e em um método comparativo que se estendia a todos os estágios da
humanidade".
Junho, 2002.
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