PROFESSOR
Francisco Vaz Brasil
Nossos pais são nossos primeiros professores, ainda
no ventre da mãe, quando iniciamos a vida. E, então nascemos. Aprendemos as
primeiras letras e, em seguida, um mundo novo se descortina, quando descobrimos
a leitura e a escrita, com as palavras e as frases. Logo, somos enviados àquilo
que se chama escola, no ensino formal. Ali, encontramos nossos primeiros
mestres até então desconhecidos: os professores. É o nosso primeiro contato com
o sistema de ensino-aprendizagem. E o nosso conhecimento de mundo vai se
ampliando. Observamos que a complexidade
do mundo e da cultura é um desafio para quem busca decifrar seus significados e
descrevê-los. A presença do Professor nos engendra em situações-problemas, onde
ele não nos ensina, mas arranja modos de nós mesmos descobrirmos as soluções,
inclusive, porque, segundo o mestre Paulo Freire, “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. Por reflexão, aprendemos, então, que devemos empregar os nossos
próprios esforços para a aquisição dos conhecimentos ali recebidos, cheios de
incertezas. E, com elevado grau de atenção, percebemos que as trilhas do labirinto do conhecimento são inúmeras,
mas talvez essa multiplicidade esconda na verdade, a existência de apenas uma
única trilha que nos leva com segurança à saída que buscamos, às vezes
desesperadamente. A história se move a partir dessas incertezas, de uma memória
que guarda lembranças confusas de um passado aparentemente perdido, que nos
persegue e nos alimenta, como mito fundador que nos atrai para um ponto de
origem. E, logo ali, em frente, notamos a figura onipresente do professor, mergulhado
em suas pesquisas... O moderno então nos aponta para o futuro, procura desviar
nosso olhar das imagens pretéritas, desfazer nossas lembranças, ora
substituindo-as por utopias, ora pela busca constante do novo. A modernidade,
coisa onírica, inaugura a crítica radical ao tempo que se contempla a si mesmo
e se acha definitivo. Mexe com o narcisismo e termina por se deixar levar por
suas armadilhas. Elas evidenciam que algo foi perdido, talvez a harmonia entre
o homem e a natureza ou a identidade entre a palavra e a coisa, na perspectiva
da linguagem. E, mais uma vez, ali está, o professor, munido de sua
experiência, acalma-nos, mostrando-nos um novo caminho. Ítalo Calvino, numa síntese preciosa, mostra-nos os
diálogos entre Marco Polo e Kublai Kan e as possibilidades e a importância de
se conhecer o mundo e as coisas, sem desprezar a relação entre forma e
conteúdo.
- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra - responde Marco -, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
- Por que falas das pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
- Sem pedras o arco não existe”.
E, assim,
aprendemos que aquilo que o professor na realidade nos mostra é, que o nosso
aprendizado, que é construído pela justaposição contínua de pedra sobre pedra.
A minha
homenagem a todos os mestres que tive nesta vida e, aos que virão!
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