quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PROFESSOR, Francisco Vaz Brasil



PROFESSOR
Francisco Vaz Brasil


Nossos pais são nossos primeiros professores, ainda no ventre da mãe, quando iniciamos a vida. E, então nascemos. Aprendemos as primeiras letras e, em seguida, um mundo novo se descortina, quando descobrimos a leitura e a escrita, com as palavras e as frases. Logo, somos enviados àquilo que se chama escola, no ensino formal. Ali, encontramos nossos primeiros mestres até então desconhecidos: os professores. É o nosso primeiro contato com o sistema de ensino-aprendizagem. E o nosso conhecimento de mundo vai se ampliando. Observamos que a complexidade do mundo e da cultura é um desafio para quem busca decifrar seus significados e descrevê-los. A presença do Professor nos engendra em situações-problemas, onde ele não nos ensina, mas arranja modos de nós mesmos descobrirmos as soluções, inclusive, porque, segundo o mestre Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Por reflexão, aprendemos, então, que devemos empregar os nossos próprios esforços para a aquisição dos conhecimentos ali recebidos, cheios de incertezas. E, com elevado grau de atenção, percebemos que as trilhas do labirinto do conhecimento são inúmeras, mas talvez essa multiplicidade esconda na verdade, a existência de apenas uma única trilha que nos leva com segurança à saída que buscamos, às vezes desesperadamente. A história se move a partir dessas incertezas, de uma memória que guarda lembranças confusas de um passado aparentemente perdido, que nos persegue e nos alimenta, como mito fundador que nos atrai para um ponto de origem. E, logo ali, em frente, notamos a figura onipresente do professor, mergulhado em suas pesquisas... O moderno então nos aponta para o futuro, procura desviar nosso olhar das imagens pretéritas, desfazer nossas lembranças, ora substituindo-as por utopias, ora pela busca constante do novo. A modernidade, coisa onírica, inaugura a crítica radical ao tempo que se contempla a si mesmo e se acha definitivo. Mexe com o narcisismo e termina por se deixar levar por suas armadilhas. Elas evidenciam que algo foi perdido, talvez a harmonia entre o homem e a natureza ou a identidade entre a palavra e a coisa, na perspectiva da linguagem. E, mais uma vez, ali está, o professor, munido de sua experiência, acalma-nos, mostrando-nos um novo caminho. Ítalo Calvino, numa síntese preciosa, mostra-nos os diálogos entre Marco Polo e Kublai Kan e as possibilidades e a importância de se conhecer o mundo e as coisas, sem desprezar a relação entre forma e conteúdo. 

“Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra - responde Marco -, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
- Por que falas das pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
- Sem pedras o arco não existe”.  



E, assim, aprendemos que aquilo que o professor na realidade nos mostra é, que o nosso aprendizado, que é construído pela justaposição contínua de pedra sobre pedra.


A minha homenagem a todos os mestres que tive nesta vida e, aos que virão!


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