"Círio no Exílio"
Jamil Damous
outubro, domingo
as folhas do outono caindo
no exílio de um país distante e frio
me lembro que a essa hora vem vindo
numa cidade longínqua do brasil
vem vindo vem vindo
a essa hora sob o sol do equador
o andar o andor o ardor
de tanta gente na manhã quente
tão diferente desta aqui
e sinto o frio como se estive ao sol daí
e como um hambúrguer com gosto de tucupi
e onde passas te saúdo e aplaudo e é aqui
é mesmo por aqui que eu sei que passas
no asfalto negro da saudade
nas avenidas de outra cidade
eu sei que passas por aqui
eu sei que passas por aqui
e vejo então que não te devo
a promessa que fiz
de estar aí em todo círio e ser feliz
distante estou aqui e hoje bem sei
que não passas só em belém
passas aqui também
passas por onde houver um filho teu
todos os teus filhos
os crentes e os ateus
senhora de nazaré
além de toda fé
toda razão
bem dentro do coração
estás em mim e fim
um sim dentro do não
Em um dia do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o autor, que deveria estar
em Belém, naquele domingo de outubro, para pagar uma promessa, pensativo, declarou ... “E agora? Nazica vai
se aborrecer, pensei. Já me permitia a intimidade de chamá-la pelo apelido
carinhoso. Foi quando me dei conta de que estava subestimando o poder de
Nazica. E aí rezei. Nazica, tu és grande demais para só estar numa única cidade
do mundo, uma quente e úmida cidade do Norte do Brasil. Nazica, tu estás no
mundo inteiro, tu estás aqui, nesta pequena cidade do Maine, nesta fria manhã
de outono. E, caminhando sozinho, parei naquela rua cheia de casinhas de
tijolos amarelos, e na cinzenta manhã da Nova Inglaterra, Nazica passou. Voltei
para a casa dos amigos americanos com a alma limpa, o dever cumprido. Onde
comeria no almoço uma deliciosa torta de maçã. Juro que ela tinha gosto de
tucupi."”
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