Como se
faz uma crônica
Por Fernanda
Pompeu
Mente Aberta – qui, 22 de jan de 2015
Em três fases.
Pois tudo sobre a Terra - abaixo e acima dela - tem três etapas. Nossa própria
existência: nascer, viver, morrer. Todas as narrativas: começo, meio, fim.
Prato brasileiríssimo: arroz, feijão, farinha. Do mestre Lao-Tsé: “O Tao gerou
Um. Um gerou Dois. Dois gerou Três. Três gerou todas as coisas”.
Primeira
fase:
Encontrar o tema. Nem sempre é difícil, às vezes ele vem como um santo
que baixa. Você está tomando um copo d´água e, antes de terminar, surge o
assunto. Num dia de sorte, pode até despontar inteiro, perfeito, redondo. Mas
nem sempre é fácil, de repente, vem a pergunta: Escrever sobre o
quê? Silêncio de sepulcro. Aí a orientação é ir para a rua
e esticar os ouvidos para frases alheias. Também ajuda assistir a um filme.
Quem sabe um cena, um diálogo acenda uma luzinha na sua cabeça. Ou se inspirar
no vídeo do cartunista Alpino mostrando como se faz uma
charge. Também vale se refugiar no Dom Casmurro,
do Machado de Assis. Todas as ideias estão lá. Se nada disso adiantar (e muitas
vezes não adianta), a dica infalível é olhar para dentro de você e aguardar que
o tema venha. Ele virá alegre ou tristemente. Mas virá.
Segunda
fase:
Moldar a forma da ideia. O assunto será tratado de jeito engraçado?
Trágico? Ele é sério ou risonho? Em geral, o tratamento crônico mistura as
categorias acima. Pois a crônica é um gênero do cotidiano, das chamadas coisas
pequenas. Uma crônica não se dispõe a mudar o mundo, quando muito, ela muda seu
estado de espírito enquanto você lê. Dos pesos da literatura, ela é categoria peso
leve. Tudo isso é certo para o leitor, pois para a pobre da
cronista ela dá um trabalhão. Por exemplo, escrever sobre a morte, o amor, o
desespero, o frescor de maneira leve. Crônica tem que ter leveza, antes de
tudo. Nela, cada frase tem o efeito de um parágrafo.
Terceira
fase:
Soltar
os dedos no teclado. Chamo esse momento de a hora da verdade. O acaso
e a teoria ficaram para trás. Agora é você e a língua portuguesa. Todas as
decisões são suas. As consequências da escolha do tema, do formato da ideia, da
escrita propriamente dita também. Comece, continue e termine. Depois vem a
revisão: checagem de ortografias, nexos sintáticos, resultados semânticos. Aqui
você deixa de ser cronista para se tornar carpinteiro. Cortar, lixar, polir.
Pronto, agora é postar. O passo seguinte é com o leitor.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/como-se-faz-uma-cronica-085833368.html
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