CHURRASCO
GREGO E CARAPINHADA
Elias Ribeiro Pinto
DIÁRIO DO PARÁ, 20 de maio 2014
Há
sempre uma clientela caninamente fiel diante do espeto de carne e gordura
O
filho de um amigo disse que é tarado por sanduíche feito com os cortes de
churrasco grego, um amontoado de carne e gordura em torno de um espeto
vertical, giratório. Já o vi, o tal churrasco, de passagem, na Presidente
Vargas, sempre com uma clientela fiel ao redor – quase me escapou, “caninamente
fiel”.
Falei
caninamente fiel e disse-o bem. Literalmente. Outro dia flagrei um cachorro
sentado defronte do espeto giratório, pacientemente, devotadamente.
De
minha parte, não arrisco. Já não conto com a proteção do mesmo ferro que por
certo reveste o estômago do filho do meu amigo. Se bem, companheiros e
companheiras, que depois de umas e outras (como se já não bastassem essas umas
e outras tantas), a nossa porção gourmet aceita cada bucho – ou buchada, vai do
gosto.
Jovenzinho,
quando saía da aula no Colégio do Carmo, jamais caí na tentação de abocanhar um
pão doce com abacatada (puxada na concha de uma jarra de vidro e despejada no
copo) naquelas vendas próximas ao Ver-o-Peso.
Falando
na saída de aula no Colégio do Carmo, confesso, genuflexo, que um dia caí de
boca na carapinhada. Não sei o que vocês imaginam onde minha boca tenha caído.
Carapinhada é o mesmo que abacatada (ou qualquer fruta batida, com formação de
flocos).
Pois
foi depois de uma manhã de aulas com os professores Farias, de geografia, José
Veríssimo, de literatura, Bicolor (não sei se ele era Paissandu, mas tinha um
olho de cada cor, daí o apelido), de biologia, Eduardo Costa, de química, e com
o supervisor Moraes, apelidado de Calango Balado (espero que hoje não me leia),
circulando pelo corredor, pronto a nos encaminhar para a punitiva secretaria
por qualquer deslize.
Pois foi depois de uma manhã de sabatina com esses queridos mestres que meu pai, um fato raro, me aguardava no Yara, lanchonete, bar e restaurante que ficava na esquina do quarteirão do Carmo.
Pois foi depois de uma manhã de sabatina com esses queridos mestres que meu pai, um fato raro, me aguardava no Yara, lanchonete, bar e restaurante que ficava na esquina do quarteirão do Carmo.
Cheguei
à mesa do Yara acompanhado de um colega de sala de aula. Papai me propôs a tal
carapinhada, com direito a um pastel – de camarão? de creme? de queijo? de
carne? Num copo duplo, chegou-me o abacate batido, o pastel crocante no
pratinho. Olhei com um misto (quente? frio?) de dó e soberba (esta
predominando) para o colega ao lado, cujos olhos (estávamos na hora do almoço)
lagrimaram ao testemunhar o banquete que o garçom dispunha à minha frente.
Magnânimo,
já me preparava para oferecer um tiquinho, uma prova, quando papai perguntou se
meu parceiro não queria o mesmo. Ele obviamente aceitou, e seus olhos
lagrimaram outra vez – agora de felicidade.
Frustraram-se,
no nascedouro, as vantagens que eu arrotaria durante uma semana no colégio,
todo prosa por ter degustado uma carapinhada dupla. Ao amigo caberia o papel do
primo pobre, confirmando-me as palavras. Espero que o Onipotente me tenha
perdoado por não sei quantos pecados acumulados nesse dia no Yara Bar, a
começar pelo da gula.
Só
não me perguntem como cheguei do churrasco grego (na Grécia se come assim?),
que vejo sempre na Presidente Vargas de hoje, caninamente contemplado, ao Yara
Bar, na Cidade Velha da minha juvenilidade.
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