segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO - TRÊS POEMAS



JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO
TRÊS POEMAS



LARGO DO RELÓGIO

Há uma fonte
                   um repuxo de lendas
nesta praça cheia de horas.
Um cartucho de estrela
                            prestes a explodir.

Pelos bancos afásicos
o diálogo, entre dentes, do silêncio
                            consigo mesmo...

Do outro lado, fachadas de azulejos,
                                               os sobrados.
Sacadas e calçadas.
                            Namorados.
E a palavra amor voando de alto a baixo.


TÉDIO

Ah! esse torpor
         à fome insaciável do passado
desconfortável dor do que era tudo
e não é nada.
                   Ah!
esse verbo peçonhento
                            ser
a se fazer agora outrora.
                            Ah! essa hora
ruminando-me pacientissimamente.
Ah!
         essa flor abrindo-se de fora para dentro
                                                        Ah! esse...


Romance das Três Flautas
ou
de como as muiheres perderam
o dominio sobre os homens

Era no tempo naquele.
Confins do tempo. Era o tempo
tão longe. Naquele outrora
onde as mulheres viviam
na casa agora dos homens.
Tempo do tempo naquele.
Tempo na casa do sempre.

Outrora, então, nesse tempo
- oh! doce chão da memória -
os homens buscavam lenha,
o peixe e o mel, caça fresca,
enquanto as cunhãs dormiam
pousadas no ar, deitadas
entre as alvuras tecidas
da rede, como trançadas
com fios de luar e sonho.

(...)


Onde estão?  Onde desfolham
essas pétalas de ausência?
Será que costuram penas
nalgum cocar de silêncio?
Ou fazem das próprias penas
tristes pássaros no cio?
Ou se abandonam em si mesmas,
como as águas desse rio?

(...)


Onde as mulheres se escondem?
— indagem, a rosnar, os homens.
Mari — marabê pergunta.
Quem saberá responder?
Fungam vozes nas virilhas,
currais de alazões arfando
por éguas, fêmeas em cio.
Pousar de pássaro, a dúvida
avoa ruo aos “porquês”...
Onde as mulheres se vão?
Inga Mari — bumbe...
Tantas perguntas voando,
tantos “porquês” pelo chão.
Onde as mulheres se escondem,
os homens perguntam em vão.

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