domingo, 2 de março de 2014

PISANDO, COM SALTO AGULHA, NOS ASTROS, DISTRAÍDA, por ELIAS RIBEIRO PINTO



PISANDO, COM SALTO AGULHA, NOS ASTROS, DISTRAÍDA
ELIAS RIBEIRO PINTO



"Me dá, me dá, me dá, me dá um black bloc aí!"

1  Você pode não ter todas as mulheres do mundo, mas pode tentar. É o que diz – dizem por aí – um provérbio russo. Acho que também vale para os livros. Não dá para ler todos os livros, mas sempre se pode tentar. E nem digo todos os livros do mundo, mas aqueles que você gostaria de ler mas percebe que seu prazo de validade já vai se aproximando da data a vencer. Neste caso, melhor mesmo se dedicar à conquista de todas as mulheres do mundo, ainda mais que o Viagra está à mão, desafiando as validades de outras partes do corpo que insistem em morrer primeiro. E cuidado aí com o primeiro batom atirado pelas feministas de plantão.

2  E lá vou, lá vou eu, estou que ‘tô’ legal. Putz, que é isso? Nada, nada, foi só uma interferência global carnavalizante. Essas coisas que grudam na gente sem querer.

3  Uma vez, e põe uma vez bem recuada, eu estava na cozinha de um ônibus, no banco de trás, quando entra uma moça bonita, de olhar agateado, que de antemão deixaria os meus nervos de aço no chão sujo do busão. Pois ela entra, mal tem tempo de se aprumar e o motora arranca. A dama do lotação perde o equilíbrio, bambeia e, desaprumada, patinando ao contrário, desaba sobre o meu colo. Irresistivelmente desalinhada, de um sem jeito de um charme só, balbucia, envergonhada: “desculpa”. E eu, de um cavalheirismo que já não se fabrica mais: “Que é isso. Nada não. Foi um prazer”.

4  Mas o que isso tem a ver com a coluna de hoje? Nada não. Aliás, a coluna de hoje tem a ver com o quê? Ah, sobre isso não me perguntem. Me incluam fora dessa.

5  Mas pera lá. Talvez tenha a ver com o fato de, em minha caminhada matinal e geraldovandrista pela Praça da República, reparei em algumas mulheres que chegavam para o trabalho – provavelmente rumo ao Basa. Aliás, sempre me admirei do fato de as mulheres, às seis e meia, sete da manhã, já estarem maquiadas, deliciosamente perfumadas e irresistivelmente vestidas (para bater o ponto). Como conseguem?

6  Pois então, como eu ia tentando dizer. Chegavam algumas mulheres para o trabalho, frescas, frutadas (não direi desfrutadas, que cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é), com notas de manga orvalhada. A maioria, claro, chegava sobre saltos mais ou menos altíssimos.

7  Há mulheres que sobre saltos (e me perdoem os sobressaltos linguísticos) parecem caminhar nos astros em saltos agulhas, distraidamente. Elegantemente retesadas, as pernas torneadas que os olhos nos deixam não menos torneados em moto contínuo – como aqueles móveis antigos cujas pernas movíamos num eterno sem fim de curvear-se ad infinitum.

8  Já outras há que, sobre saltos de plataforma da petrobrás, dão a impressão – relevem a indelicadeza – de elefantes montados sobre imensas pernas de pau, como se buscassem um precário equilíbrio sobre hashis – aqueles pauzinhos de pinçar comida oriental.

9  Enfim, como diria... Diria quem, cara-pálida? Bem, alguém aí se propõe a dizer alguma coisa? Porque, afinal, a coluna de hoje não disse a que veio. Melhor logo era o colunista apelar para o clássico: pintou um branco. Mas aí já se candidataria a ser acusado de algum tipo de preconceito racial. Contra os brancos? Contra os negros? Contra a cota racial? Contra o Joaquim Barbosa? Contra o Zé Dirceu? Ah, quer saber? Me dá, me dá, me dá, me dá um black bloc aí!

P.S. 1: E quer dizer que d. Orani Tempesta é o nosso novo Mário Faustino eclesiástico? Não entendeu? Depois t’explico.

P.S. 2: E finalmente somos o primeiro carnaval do Brasil. Nem que seja no fuso horário. Não entendeu? Ah, nem precisa, nega. Corre, pega a fantasia e te manda para a Aldeia Caramuru. O bloco M’engana que eu gosto já está na concentração.

PUBLICADO NESTA SEXTA (21/2/2014) NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ

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