O MELHOR LUGAR É AQUI E AGORA?
Elias
Ribeiro Pinto
“'O melhor lugar para viver no Brasil é...' Eu ia passando
pela calçada quando ouvi esse comentário vindo do pátio de uma casa."
1 “O melhor lugar para viver no Brasil...” Eu ia passando pela calçada quando ouvi esse comentário vindo do pátio de uma casa. Refreei o passo, curioso para ouvir o complemento da frase, com a citação do melhor lugar para viver no Brasil. Eu estava passando pela Benjamin, no Reduto.
2 Qual seria esse local? Uma praia? Talvez Alter do Chão, em Santarém, que já foi proclamada, pela imprensa estrangeira, a mais bela praia brasileira. Ou seria Algodoal? Taí, já quis morar em Algodoal. Pegando internet (para mim, esse negócio de pegar ainda é do tempo das ondas do rádio, pegar uma faixa para escutar o jogo da Tuna contra a seleção dos carteiros, jogo duro, os carteiros têm bom preparo físico), tudo bem, eu podia ficar dias e dias na ilha, escrevendo a coluna de uma mercearia de lá, daquelas de interior que têm um pouco de tudo, inclusive, e principalmente, cerveja gelada. O problema é a travessia, o direito de ir e vir, que, naqueles barquinhos, passa a ser mais líquido que constitucional. É, a ilha de Algodoal seria um bom lugar para uma temporada – se o barco não virar, olê olê olá.
3 Putz, lá estou eu fazendo onda. Vamos voltar para a Benjamin, ali pela esquina com a Manoel Barata. Espichei o olho para ver de quem partiria o resto da frase que anunciaria o melhor lugar do Brasil para viver. Era um homem, um senhor já entrado nos anos, entre 65 e 70 anos, por aí.
4 Então devia ser uma pessoa viajada, conhecedor de seu país. Mais um motivo para que eu encurtasse a pressa que me movia, a tempo de escutar o nome desse bendito lugar. Minha vida, quem sabe, já não seria mais a mesma e eu me devotaria, do momento em diante que ele desse a conhecer a localidade dessa Pasárgada brasileira, eu devotaria o resto dos meus dias a conhecê-la. Pela idade e possível experiência aventureira do homem, eu já pressupunha que esse “melhor lugar para viver no Brasil” seria fora do Pará.
5 A região serrana de Santa Catarina? Brasília? Papuda? Os pampas gaúchos? O belo e sinuoso litoral fluminense, Angra dos Reis incluído? Rio de Janeiro, cidade para sempre maravilhosa, apesar dos pesares? Campos do Jordão? As montanhas de Minas? O não menos belo e convidativo litoral nordestino? Manaus, será, já com a Arena da Amazônia concluída?
6 Foi quando o homem atirou o cigarro (que caiu, na calçada, quase aos meus pés), soprou a fumaça e completou a frase que, àquela altura, já me soava épica: “... é aqui em Belém do Pará”. Ou seja, unindo as duas pontas: “O melhor lugar para viver no Brasil é aqui em Belém do Pará”.
7 Confesso, aquilo me soou como um anticlímax. Belém, o melhor lugar do Brasil para viver? Pelo tanto que já escrevi sobre a nossa cidade neste espaço, vocês sabem o quanto Belém me habita, os guardados que dela trago e os desejos e propostas, aqui apresentados, visando-lhe um futuro menos devastador do que o presente já confirma. De qualquer maneira, a ululante simplicidade com que aquele senhor disse que Belém é o melhor lugar do Brasil para viver, se me soou como um anticlímax, também me desconcertou, num sentido até positivo. Estaremos sendo muito rigorosos com Belém? Qual é a opinião de vocês?
8 Bem, Belém (como diria o Manuel Bandeira), pode até ser o melhor lugar para viver do Brasil (tem gosto para tudo, como ensina a opinião deste senhor). Mas, para início de conversa, vamos ao menos tirar o bode da sala. Já ajuda.
P.S.: Dois ou três domingos atrás escrevi uma página sobre a poeta Elizabeth Bishop, destacando a viagem que ela fez até Vigia, ciceroneada pelo nosso Ruy Barata. Aliás, devo ter sido o cara que mais escreveu sobre a Beth Bispo nos jornais daqui. Pois ontem, na caminhada matinal pela maltratada Praça da República, vi um cartaz anunciando breve temporada da peça Um Porto para Elizabeth Bishop, com Regina Braga interpretando a poeta, dirigida por José Possi Neto, em texto de Marta Góes. Taí, começo a acreditar nessa história de Belém ser o melhor lugar, ou porto cenográfico, poeticamente falando. Embarque nessa.
1 “O melhor lugar para viver no Brasil...” Eu ia passando pela calçada quando ouvi esse comentário vindo do pátio de uma casa. Refreei o passo, curioso para ouvir o complemento da frase, com a citação do melhor lugar para viver no Brasil. Eu estava passando pela Benjamin, no Reduto.
2 Qual seria esse local? Uma praia? Talvez Alter do Chão, em Santarém, que já foi proclamada, pela imprensa estrangeira, a mais bela praia brasileira. Ou seria Algodoal? Taí, já quis morar em Algodoal. Pegando internet (para mim, esse negócio de pegar ainda é do tempo das ondas do rádio, pegar uma faixa para escutar o jogo da Tuna contra a seleção dos carteiros, jogo duro, os carteiros têm bom preparo físico), tudo bem, eu podia ficar dias e dias na ilha, escrevendo a coluna de uma mercearia de lá, daquelas de interior que têm um pouco de tudo, inclusive, e principalmente, cerveja gelada. O problema é a travessia, o direito de ir e vir, que, naqueles barquinhos, passa a ser mais líquido que constitucional. É, a ilha de Algodoal seria um bom lugar para uma temporada – se o barco não virar, olê olê olá.
3 Putz, lá estou eu fazendo onda. Vamos voltar para a Benjamin, ali pela esquina com a Manoel Barata. Espichei o olho para ver de quem partiria o resto da frase que anunciaria o melhor lugar do Brasil para viver. Era um homem, um senhor já entrado nos anos, entre 65 e 70 anos, por aí.
4 Então devia ser uma pessoa viajada, conhecedor de seu país. Mais um motivo para que eu encurtasse a pressa que me movia, a tempo de escutar o nome desse bendito lugar. Minha vida, quem sabe, já não seria mais a mesma e eu me devotaria, do momento em diante que ele desse a conhecer a localidade dessa Pasárgada brasileira, eu devotaria o resto dos meus dias a conhecê-la. Pela idade e possível experiência aventureira do homem, eu já pressupunha que esse “melhor lugar para viver no Brasil” seria fora do Pará.
5 A região serrana de Santa Catarina? Brasília? Papuda? Os pampas gaúchos? O belo e sinuoso litoral fluminense, Angra dos Reis incluído? Rio de Janeiro, cidade para sempre maravilhosa, apesar dos pesares? Campos do Jordão? As montanhas de Minas? O não menos belo e convidativo litoral nordestino? Manaus, será, já com a Arena da Amazônia concluída?
6 Foi quando o homem atirou o cigarro (que caiu, na calçada, quase aos meus pés), soprou a fumaça e completou a frase que, àquela altura, já me soava épica: “... é aqui em Belém do Pará”. Ou seja, unindo as duas pontas: “O melhor lugar para viver no Brasil é aqui em Belém do Pará”.
7 Confesso, aquilo me soou como um anticlímax. Belém, o melhor lugar do Brasil para viver? Pelo tanto que já escrevi sobre a nossa cidade neste espaço, vocês sabem o quanto Belém me habita, os guardados que dela trago e os desejos e propostas, aqui apresentados, visando-lhe um futuro menos devastador do que o presente já confirma. De qualquer maneira, a ululante simplicidade com que aquele senhor disse que Belém é o melhor lugar do Brasil para viver, se me soou como um anticlímax, também me desconcertou, num sentido até positivo. Estaremos sendo muito rigorosos com Belém? Qual é a opinião de vocês?
8 Bem, Belém (como diria o Manuel Bandeira), pode até ser o melhor lugar para viver do Brasil (tem gosto para tudo, como ensina a opinião deste senhor). Mas, para início de conversa, vamos ao menos tirar o bode da sala. Já ajuda.
P.S.: Dois ou três domingos atrás escrevi uma página sobre a poeta Elizabeth Bishop, destacando a viagem que ela fez até Vigia, ciceroneada pelo nosso Ruy Barata. Aliás, devo ter sido o cara que mais escreveu sobre a Beth Bispo nos jornais daqui. Pois ontem, na caminhada matinal pela maltratada Praça da República, vi um cartaz anunciando breve temporada da peça Um Porto para Elizabeth Bishop, com Regina Braga interpretando a poeta, dirigida por José Possi Neto, em texto de Marta Góes. Taí, começo a acreditar nessa história de Belém ser o melhor lugar, ou porto cenográfico, poeticamente falando. Embarque nessa.
JORNAL DIÁRIO DO PARÁ, COLUNA +VOCÊ. - SEXTA (7/3/2014)
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