Capitalismo
selvagem: Globalização, de quê?
por
Francisco Vaz Brasil
A
globalização econômica é um processo histórico,
resultado da inovação humana e do progresso tecnológico. Refere-se à
crescente integração das economias de todo o mundo, especialmente através do
comércio e dos fluxos financeiros. Em alguns casos este termo faz alusão ao
deslocamento de pessoas (mão de obra) e a transferência de conhecimentos
(tecnologia) através das fronteiras internacionais. A globalização compreende,
também, aspectos culturais, políticos e ambientais mais amplos.
Em seu
aspecto mais básico a globalização não encerra nenhum mistério. Este termo é
utilizado desde os anos oitenta, ou melhor, desde que os avanços tecnológicos
têm facilitado e acelerado as transações internacionais comerciais e
financeiras. Refere-se ao prolongamento para mais além das fronteiras nacionais
das mesmas forças do mercado que durante séculos tem operado em todos os
estágios da atividade econômica humana: nos mercados rurais, nas indústrias urbanas
ou nos centros financeiros.
Os
mercados promovem a eficiência por meio da competência e da divisão do
trabalho, ou seja, há uma especialização, que permite às pessoas e economias
centrar-se no melhor que sabem e podem fazer. Graças à globalização, é possível
beneficiar-se de mercados cada vez mais vastos em todo o mundo e ter maior
acesso aos fluxos de capital e à tecnologia e, beneficiar-se de importações
mais baratas e mercados de exportação mais amplos. Mas os mercados não garantem
necessariamente que a maior eficiência beneficiará a todos. Os países devem
estar dispostos a adotar as políticas necessárias e, no caso dos países mais
pobres, possivelmente venham a precisar do respaldo da comunidade internacional
para tal efeito.
Então, a
globalização vem a ser o processo político, econômico, social e ecológico que
está ganhando lugar em nosso planeta, pelo qual cada vez mais existe uma maior
inter-relação econômica entre uns lugares e outros por mais distantes que
estejam, sob o controle das grandes empresas capitalistas, as multinacionais.
A
globalização econômica implica que cada vez mais âmbitos da vida são regulados
pelo chamado livre mercado, como a saúde, a educação, a informação, etc.
Observa-se que a expansão da ideologia neoliberal (ultra-capitalista) se aplica a quase todos os países com cada
vez maior intensidade. As grandes empresas conseguem amealhar mais poder e
espaço à custa da cidadania e do monopólio dos mercados.
Um outro
aspecto que a globalização econômica está interferindo enormemente é sentido no
meio ambiente e no bem estar social, que se subordinam aos imperativos do
sistema econômico, cujo fim é a acumulação por parte de uma minoria.
A
globalização tem sido marcada pela crítica como sendo a incrementadora da
pobreza e da exclusão social na maioria dos países não alinhados ao bloco dos
países ricos.
Ela supõe
indubitáveis vantagens, mas também grandes desvantagens. Entre os mais
beneficiados estão as instituições financeiras, as empresas multinacionais, as
chamadas organizações não governamentais e aquela mão de obra altamente
qualificada.
A
globalização não contempla nenhum mecanismo de redistribuição de renda. Para
atenuar o desastre da globalização da pobreza, foram propostas algumas medidas,
como o perdão da dívida extrema dos países mais pobres e o aumento da ajuda
financeira a estes países.
Algumas
das iniqüidades da globalização são conseqüência das mesmas faltas de igualdade
entre países ricos e pobres, ou entre as populações ricas e pobres dentre eles.
Conforme o PNUD, 20% da população mundial mais rica, controla 86% do PIB
mundial e 82% das exportações de bens e serviços, enquanto que os 20% mais
pobre apenas 1% do PIB e as exportações. A globalização indica também um
aumento da exclusão social, marginalizando a grupos sociais completos de toda
participação real, com o aumento do desemprego e da pobreza. Hoje, São Paulo, a
maior cidade brasileira tem 20% de sua população ativa relegada ao desemprego.
Na América
Latina, segunda a CEPAL, o número de pobres que em 1980 era de 135 milhões,
chegou a 200 milhões em 1990 e, em 1997, apesar do crescimento econômico
experimentado nesse período, alcançou o número de 204 milhões, e, deles, cerca
de 90 milhões são indigentes, vivendo em uma pobreza extrema.
Uma nova
forma de iniqüidade pode ser vista na integração das comunicações. A internet
une as pessoas em uma nova rede global, mas o acesso se concentra entre as
pessoas dos países ricos.
Com a
globalização econômica, o aumento do comércio exterior se vê favorecido pela
abertura e liberalização dos mercados e pelo impacto da atual revolução
tecnológica sobre as comunicações tanto físicas (transportes), como eletrônicas
(informação). Um dos aspectos chave é a grande mobilidade do capital
financeiro, a existência de um mercado planetário, onde diariamente e à
instantânea velocidade da luz, as redes eletrônicas movimentam e intercambiam
sem controle, 1,5 milhões de dólares.
Entretanto,
a palavra globalização não se usa somente à referida globalização econômica ou
financeira, mas que abrange outros aspectos, como já vistos, como um processo
que integra as atividades econômicas, sociais, ambientais e das questões
trabalhistas. A globalização supõe também o desaparecimento das fronteiras
geográficas, materiais e espaciais. As redes de comunicação, da internet aos
telefones móveis, põem em relação e interdependência a todos os países e a
todas as economias do mundo, tornando realidade a chamada aldeia global.
Globalização e neoliberalismo não são termos sinônimos, mas atualmente se
produz uma repetida concordância entre o fenômeno físico da globalização e o
fenômeno ideológico do neoliberalismo. A redistribuição da renda, em escala
nacional e mundial se relega completamente, e a única esperança é uma utópica
saída. A quem recorrer: ao FMI, à Organização Mundial do Comércio ou à
mercearia da esquina?
Capitalismo selvagem, globalização de quê?
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