quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

E A VIOLÊNCIA COTIDIANA... Francisco Vaz Brasil

E A VIOLÊNCIA COTIDIANA...
Francisco Vaz Brasil



“Enquanto a miséria cobre de cadáveres vossas ruas, de ladrões e assassinos vossas prisões, que vemos da parte dos escroques da fina sociedade? ... os exemplos mais corruptores, o mais revoltante cinismo, o banditismo mais desavergonhado... Não receais que o pobre que é citado ao banco dos criminosos por ter arrancado um pedaço de pão pelas grades de uma padaria se indigne o bastante, algum dia, para demolir pedra por pedra a Bolsa, um antro selvagem onde se roubam impunemente os tesouros do Estado, a fortuna das famílias.”
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir – História da violência nas prisões. Petrópolis, RJ:Ed. Vozes, 17 ed. p.253

A violência domina o teu cotidiano. Não passas uma semana sem que assistas, leias ou ouças pelos meios de comunicação notícias de assaltos, assassinatos, seqüestros e atentados. O perigo de morte violenta está em todos os lugares. Não raro, a vítima é um dos teus amigos, vizinhos ou conhecidos. Aos poucos, o círculo parece se fechar à tua volta e, revoltado, sem perceber passas a alimentar, com os teus próprios sentimentos, as vibrações de agressividade que permeiam o mundo: queres vingança, sonhas em fazer justiça com as próprias mãos – acrescentas raiva na fogueira da agressão.
Convives com a violência, algumas vezes em casa, mas a violência está mesmo nas ruas. A insegurança é geral. Balas entre a polícia e os bandidos cruzam à tua frente. Com a violência escolas têm as aulas paralisadas. O comércio fecha e sofre os prejuízos. Todos se escondem e correm. E é privilégio das populações em quase todo o país. Convives com os assaltos à mão armada nos ônibus, nas casas comerciais, nas ruas. com seqüestros, com homicídios por vingança.
Estás inseguro, à mercê da criminalidade. E como transformar essa situação, aparentemente incontrolável? Já que és responsável apenas pelos teus pensamentos, desejos e ações, o primeiro passo é tomar consciência do teu próprio instinto de agressividade e, direcioná-lo para atividades criativas: o trabalho, a arte, os esportes, etc. Assim, serás um agressor a menos no mundo.
Já sabes que a violência é um fenômeno social muito perigoso, sabes que dezenas de pessoas morrem por causa de tiros e golpes, e sabes que deves te cuidar. Hás que ter muito em conta que deves tratar de reduzir a violência. O primeiro passo é saber como te controlar, saber manejar teus impulsos negativos que tanto dano te fazem. Ao mesmo tempo, precisas aprender a te colocar no lugar do outro e tentar entender o que o levou a atos tão insanos. Por fim, resta-te desenvolver o dom de perdoar – única maneira de libertar-te da mágoa e da dor que atingem as vítimas da violência.
Deves procurar uma autêntica educação, com o desenvolvimento integral da pessoa, proporcionando-te além de conhecimentos, valores, crenças e atitudes frente a distintas situações. Necessitas aprender a respeitar ao outro, possibilitando-te a capacidade de aceitar o erro como incentivo para a busca de outras alternativas válidas, superando as dificuldades que se apresentem.
A receita é também válida para aqueles casos em que a agressão manifesta-se de forma mais sutil, limitando-se a danos emocionais – nem por isso menos insignificantes –, como numa briga de casal ou na discussão com um amigo ou com um desconhecido.
Seja como for, a situação é muito complexa e exige de nós, seres tão incompletos e inconstantes, o reflexivo exercício da boa vontade, da tolerância e do amor ao próximo – de preferência, incondicional. Precisamos inventar uma vacina em nosso íntimo laboratório.
Vês que a violência não é um fenômeno novo na sociedade brasileira e os crimes, à medida que não são resolvidos, vão se acumulando nos porões da história, comprometendo o Estado de direito, em sua dimensão pública e privada. Os horrores se sucedem no dia-a-dia, mas a violência não é somente aquela que produz cadáveres, que mutila corpos e que destrói a materialidade, ela é também aterradora, quando se reveste de desrespeito à dignidade humana.
Nesse universo, inúmeras violações aos direitos dos seres humanos mais fundamentais são cometidas no cumprimento das penas, maculando o entorno cultural da sociedade contemporânea, sobretudo em razão de suas desigualdades, uma vez que, dentre outros indicadores, o grau de civilização de um país é medido pelo respeito dispensado aos seres humanos, livres e presos.
Vives um dos piores momentos da história, com a deflagração das mais variadas crises, seja de mercado ou de mercadoria humana, onde impera uma totalidade de problemas que passa pelo desemprego, decadência das instituições responsáveis pela educação, saúde e moradia; corrupção generalizada, descrédito nas ideologias, desrespeito ao meio ambiente e crime organizado, apenas para citar alguns.
Isso tudo gera o aumento da criminalidade, que se não for tratada de maneira adequada, volta-se contra a própria sociedade, que passa a viver sob o signo do medo e da insegurança. Na busca desesperada de uma suposta tranqüilidade social, advoga-se por medidas repressivas de extrema severidade e a sanção penal passou a ser considerada como indispensável para a solução dos conflitos sociais.
Segundo estudo realizado pela Unesco, a violência estaria classificada em três níveis:
1. Violência “dura”: golpes, ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismos;
2. Incivilidades: agressões, humilhações, palavras grosseiras, desordens, falta de respeito, discriminação;
3. Violência simbólica ou institucional: refere-se ao abuso do poder baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade e que dissimula as relações de força e poder. Ela fere e não necessariamente se utiliza de força física.
O que está acontecendo no Brasil é que cristalizou-se a idéia de que a punição generalizada virou "remédio para todos os males" que afligem os homens bons. Para chegar a esse ponto, os meios de comunicação tiveram grande influência, pois como a violência atrai público, vendendo jornais e audiência, deu-se enorme publicidade aos delitos de maior gravidade, como assaltos, seqüestros, homicídios, estupros, etc. A insistência do noticiário desses crimes criou a síndrome da vitimização. Tu passas a crer que a qualquer momento podes ser vítima de um ataque criminoso
O delito sempre existiu e sempre existirá. Ocorre em todos os países, em todas as civilizações, sejam quais forem os seus costumes. É impossível extingui-lo, não quer dizer que o aceitas, podes, entretanto, senti-lo reduzido, em escalas razoáveis e toleráveis.
As lamentáveis condições de vida em nossas prisões, não são segredo para ninguém, tu bem o sabes. O sistema carcerário brasileiro não tem cumprido seu principal objetivo, que é reintegrar o condenado ao convívio social, de modo que não volte a delinqüir.
Como causas principais da violência, podes enumerar o alcoolismo como o primeiro. As drogas: as mais diversas, que levam ao delírio os seus consumidores e ao enriquecimento os seus traficantes. Se a uns a droga torna ricos, a outros, as drogam levam à desgraça e até a morte. O ciúme. O ciúme é causa de muitas mortes, principalmente de mulheres, devido à falta de entendimento entre casais.
Furtos e Roubos: aparentemente é a forma mais fácil obter dinheiro e bens é roubando aplicando golpes, seqüestrando.
A violência é uma ação exercida por uma ou várias pessoas que submetem outra ou outras pessoas de maneira intencional ao maltrato, pressão, sofrimento, manipulação e ações que atentam contra a integridade física, psicológica e moral do indivíduo ou grupo de pessoas. A violência é a pressão psíquica ou abuso da força exercida contra uma pessoa com o propósito de obter fins contra a vontade da vítima. Assim, podes presenciar a violência de várias formas:
Violência familiar: No seio familiar, é onde mulheres e crianças são maltratadas e submetidas a tratamentos desumanos pelos homens. Logo na família, onde os direitos de todos deveriam ser respeitados, onde a infância deveria ser protegida, o amor deveria imperar, pois, é aí que se originam a delinqüência infanto-juvenil, a entrada para o mundo das drogas e a prostituição. O maltrato físico, com lesões leves ou graves, como fratura de ossos, hemorragias, lesões internas, queimaduras, envenenamento, hematomas, são ocorrências normais no dias atuais.
Violência sexual: É um crime muito comum praticado contra mulheres, crianças e adolescentes. Às vezes a vítima oculta ter sido vítima por vergonha, isolando-se, por medo de expor-se e, afinal, cair no mundo da amargura e da miséria das ruas. Ao ocultar tal fato, a vítima está favorecendo ao agressor e ajudando-o a cometer novos delitos. É uma experiência muito traumática, onde a vítima não tem a quem recorrer.
Violência cotidiana: É a que sofremos diariamente e se caracteriza pelo desrespeito às regras sociais, ao péssimo transporte público, a não atendimento médico e social e as longas esperas pelos doentes em hospitais. A indiferença ao sofrimento humano. Insegurança Acidentes de trânsito. Somos as vítimas diuturnas e as partes mais fracas de uma luta cujo cenário dos corpos desta selva urbana..
Violência econômica: refletida pela pobreza e marginalidade de grandes grupos da população, o desemprego, o subemprego, informalidade, tudo isto basicamente refletido na falta ou desigualdade de oportunidade de acesso à educação, segurança e saúde.
Violência delinquencial: Roubos, fraudes, narcotráfico, quer dizer, condutas que assumem meios ilegítimos para alcançar bens materiais. Milhares de menores se organizam em grupos para roubar, para fumar maconha, cheirar crack e se prostituir.
Milhares de pessoas vivem em casas comerciais ou particulares protegidas por grades. As crianças de hoje já não podem brincar nas calçadas.
Violência policial: Esta é caracterizada por homens despreparados, inescrupulosos que usam a farda para extorquir pessoas, empresas e praticam toda a forma de crimes contra inocentes, os desprotegidos. Maus policiais agem em benefício próprio, rapinando os cidadãos de bem. Muitos foram demitidos das instituições. Muitos continuam agindo e por falta de provas não recebem o julgamento justo. Muitos foram os que formaram grupos de extermínio. Invadem tua casa sem licença, sem mandado de busca, sem respeito a velhos e crianças. É preciso mudar. Muita coisa, inclusive o homem.
Outras formas de Violência: A violência contra a pessoa está banalizada. E parece que vale a pena cometer crimes, pois a impunidade impera. Ficas triste ao ver juízes indiciados por vendas de sentenças, soltarem presos perigosos e nunca mandar para a prisão pessoas que metem a mão nos cofres públicos. Liberação de presos perigosos que a polícia jamais recapturará.. Juízes afastados mas continuarão recebendo seu alto salário como aposentado. A propina corre solta. E viva o Brasil, terra da contravenção, da corrupção, onde o crime compensa e só vai para a cadeia ladrão de galinha, portadores de pacotinhos de maconha e cocaína. Ver cadáveres é coisa banal. Saber que um amigo ou vizinho foi assaltado é comum. Os jornais todos os santos dias publicam a foto de alguém morto em frente às casas da periferia. A lei do silêncio impera. A impunidade impera. Aliado a isso há a violência no trânsito, onde a imprudência adicionada ao álcool e às drogas, deixam vítimas e os infratores ficam, na maioria dos casos, impunes. A indústria do seqüestro cresce e atinge principalmente as famílias de classe média e alta. Os sequestradores mantém os reféns em lugares lúgubres e cobram verdadeiras fortunas pelo resgate. A polícia age com muito sigilo e muitos cativeiros são desmantelados e os membros das quadrilhas, presos. Há resgates pagos mas, vez por outra o refém não é encontrado com vida. É comum hoje os bandidos comandarem seqüestros de dentro das prisões, graças à presença de aparelhos telefônicos dentro das penitenciárias. Os falsos seqüestros têm feito muitas vítimas a pessoas incautas, que não atentam ao que realmente está ocorrendo ao seu redor. O seqüestro é, também, considerado crime hediondo e está ao alcance das autoridades policiais a solução. Basta querer realmente eliminar as várias formas de entrada de celulares nas prisões. E por falar em segurança ou vigilância carcerária, como é que entram nas celas armas, facas, punhais, estiletes, cordas e outros objetos que são utilizados em fugas, e em rebeliões nos presídios? Por que será, hein?
Está bem na hora de leis bem mais severas serem editadas para coibir ou reduzir a criminalidade neste País.  É hora de agir, doa a quem doer.

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