UM PASTOR CHAMADO CARNAVAL E SEUS
VINTE E OITO CARNEIRINHOS
Francisco Vaz Brasil
VINTE E OITO CARNEIRINHOS
Francisco Vaz Brasil
era uma vez entre outras
um velho que com seu cajado
abria corações de concreto.
um velho que com seu cajado
abria corações de concreto.
seu mastim era grande e
calmo
como uma manhã deserta de multidões
- gerando seios
como uma manhã deserta de multidões
- gerando seios
então, ele teve a ideia de
cruzar
meridianos e paralelos do inferno
arcar a terra inteira
impregnar seu peito alado e melancólico
com todo o húmus de deuses e geografias
meridianos e paralelos do inferno
arcar a terra inteira
impregnar seu peito alado e melancólico
com todo o húmus de deuses e geografias
enquanto batia o cajado
seus vinte e oito carneirinhos
saltavam o latifúndio do espaço
como nas noites álgidas
o elétrico carro macabro
seus vinte e oito carneirinhos
saltavam o latifúndio do espaço
como nas noites álgidas
o elétrico carro macabro
daí, os senhores foliões
surgiram nos asfaltos
(tempos mais amenos)
com um frevo andróide tresloucado
embebedando as auroras
com serpentinas de sorrisos
e ânforas de mentira e alegria!
(tempos mais amenos)
com um frevo andróide tresloucado
embebedando as auroras
com serpentinas de sorrisos
e ânforas de mentira e alegria!
- vamos batuqueiros
machuquem bem forte os tamborins do ócio
que os esqueletos balançam seus corpos nus
ante um júri de fantasmas
machuquem bem forte os tamborins do ócio
que os esqueletos balançam seus corpos nus
ante um júri de fantasmas
- vamos pierrot – retrato frustrado
da indizível realidade,
tente o nexo da frágil columbina
da indizível realidade,
tente o nexo da frágil columbina
- olhem o bloco de sujos
com a fantasia feita de sonho e miséria,
burguesmente fedendo a cachaça!
com a fantasia feita de sonho e miséria,
burguesmente fedendo a cachaça!
- olhem o rei momo
com sua barriga de féretros carnavais
tentando adentrar a quarta-feira!
com sua barriga de féretros carnavais
tentando adentrar a quarta-feira!
- look at here my girl...
desnude a máscara, sorva de um só gole
seu amor de carnaval!
desnude a máscara, sorva de um só gole
seu amor de carnaval!
e vamos senhoras e senhores
que o poeta fotografa seus bailarinos atos
que o poeta fotografa seus bailarinos atos
- o flácido asfalto
passo a passo vai parindo no samba
ventres crescidos
– foliões com signos de finados!
- e agora sambista do bloco
do esquecimento?
- e agora mestre-sala
(resumindo a vida num só cálculo,
exprimindo tua esperança no ritmo de um só pé)?
- e agora mestre-sala
(resumindo a vida num só cálculo,
exprimindo tua esperança no ritmo de um só pé)?
- e agora brincantes dos
sujos?
as parábolas se espalham na avenida
unidas apenas por um cordão
de palavrões bem ritmados por sorrisos!
as parábolas se espalham na avenida
unidas apenas por um cordão
de palavrões bem ritmados por sorrisos!
como o senhor carnaval
morreu
na quarta-feira
a esquálida porta-estandarte
caída numa poça de confetes chora
enrolada por uma bandeira de molambos
como um trapo esquecido num varal
do teatro de tristezas de antigos carnavais...
na quarta-feira
a esquálida porta-estandarte
caída numa poça de confetes chora
enrolada por uma bandeira de molambos
como um trapo esquecido num varal
do teatro de tristezas de antigos carnavais...
[publicado em Poemática, 3º caderno do
jornal
O Liberal, em 3 de março de 1974, p.15]
O Liberal, em 3 de março de 1974, p.15]
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