terça-feira, 28 de julho de 2015
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Poema para ler ao andar com cuidado, Antônio Moura
Poema para ler ao andar com cuidado
Antônio
Moura
Você que agora caminha
por este poema,
não está ouvindo, além do som das silabas,
o som de sinistros passos ecoando secos
em seu encalço, como que para encarcerá-lo,
como que para amordaçá-lo? Não está agora
pressentindo atrás de sua própria sombra
uma outra sombra, que, aos poucos, se agiganta
querendo, de forma réptil, cobrir tudo, todos,
com sua escura manta? Não está sentindo,
agora, fazer ninho eu seus ouvidos a gralha
a rasga-mortalha da histérica pregação,
que busca ensurdecê-lo com seu grasnado
para que ouça, unicamente, a voz intolerante,
a voz fanática e prepotente do deus demente?
Não está vendo uma venda que, lentamente,
cai sombria sobre seus olhos, sobre sua mente?
Você que agora caminha por este poema,
cuidado, aqui perto, no fim da Rua Extrema
a oficina do fascismo fabrica frias algemas.
não está ouvindo, além do som das silabas,
o som de sinistros passos ecoando secos
em seu encalço, como que para encarcerá-lo,
como que para amordaçá-lo? Não está agora
pressentindo atrás de sua própria sombra
uma outra sombra, que, aos poucos, se agiganta
querendo, de forma réptil, cobrir tudo, todos,
com sua escura manta? Não está sentindo,
agora, fazer ninho eu seus ouvidos a gralha
a rasga-mortalha da histérica pregação,
que busca ensurdecê-lo com seu grasnado
para que ouça, unicamente, a voz intolerante,
a voz fanática e prepotente do deus demente?
Não está vendo uma venda que, lentamente,
cai sombria sobre seus olhos, sobre sua mente?
Você que agora caminha por este poema,
cuidado, aqui perto, no fim da Rua Extrema
a oficina do fascismo fabrica frias algemas.
tercetus sunt, francisco vaz brasil
tercetus sunt
francisco
vaz brasil
A VIDA
ADOIDADO VIVENDO
ADOIDADO
VIVENDO A VIDA
VIVENDO
A VIDA ADOIDADO
nexus
plexus sexus
sexus
plexus nexus
plexus
nexus sexus
mil
sonhos contigo viver
contigo
viver mil sonhos
viver
mil sonhos contigo
me
deixam louco teus beijos
louco
teus beijos me deixam
teus
beijos me deixam louco
Sua
vida com amor viva
Com
amor viva sua vida
Viva
sua vida com amor
Todo
seu sou
Seu
sou todo
Sou
todo seu
Com
você sou feliz
Feliz
com você sou
Sou
feliz, com você!
Com
humildade, o sábio age
Age,
com humildade, o sábio
O
sábio age, com humildade
OITO "QUASE HAICAIS", Jamil Damous
OITO "QUASE HAICAIS"
Jamil
Damous
BAGAGEM
Uma folha seca
guardada na mala.
Clandestino, o outono
de Nova York
viaja para o Brasil.
Uma folha seca
guardada na mala.
Clandestino, o outono
de Nova York
viaja para o Brasil.
VERBOS
(as quatro conjugações)
(as quatro conjugações)
luar
prazer
porvir
prazer
porvir
amor
CANÇÃO PRA SIDA
Já temos um passado,
meu amor.
Já temos um passado,
meu amor.
ERRO DE REVISÃO
A vida, sempre deslocada.
Como o acento na palavra ávida.
A vida, sempre deslocada.
Como o acento na palavra ávida.
ACHO QUE A CHUVA
O dia deu em chuvoso:
acordei fernando pessoas
& caetano veloso
O dia deu em chuvoso:
acordei fernando pessoas
& caetano veloso
FOTOGRAFIA
A morte em nós ainda não nascera.
Éramos eternos ali em frente ao mar.
A morte em nós ainda não nascera.
Éramos eternos ali em frente ao mar.
ANTROPOCENTRISMO
Cada homem é o centro do mundo.
Para isso é que a Terra é redonda.
NOSTALGIA
No passado,
até o futuro
era melhor.
domingo, 26 de julho de 2015
ÉGLOGAS PARA UM SENHOR CHAMADO CARNAVAL, Francisco Vaz Brasil
ÉGLOGAS PARA UM SENHOR CHAMADO
CARNAVAL
Francisco Vaz Brasil
Francisco Vaz Brasil
toda gente se achegou
por necessidade
por sadismo
talhando pedra e barro
aos empurrões
e palavrões
à praça
perplexa e apática
por necessidade
por sadismo
talhando pedra e barro
aos empurrões
e palavrões
à praça
perplexa e apática
os blocos
- palhaços mambembes
costelas viventes
de uma inflação muda:
punhal afiado
- palhaços mambembes
costelas viventes
de uma inflação muda:
punhal afiado
os blocos passando
- desfile macabro
corpos fantasiados
batucada fantasma
em desfile
na álgida metrópole
- desfile macabro
corpos fantasiados
batucada fantasma
em desfile
na álgida metrópole
o Teatro –da Paz –
taciturno observa,
há tempos imemoriais
na espessura do gesso
na pauta sonora e fria
no espaço da moldura
nas vozes suplicantes
das noites da belle èpoque
taciturno observa,
há tempos imemoriais
na espessura do gesso
na pauta sonora e fria
no espaço da moldura
nas vozes suplicantes
das noites da belle èpoque
no terraço dos edifícios
as pedras não entenderam e se calaram
em sua saliva de pó e calcário
as pedras não entenderam e se calaram
em sua saliva de pó e calcário
nas escolas (de samba)
surgiram equações no gesto
e dúvidas no esquadro:
os passos seriam milimétricos;
os giros do compasso eram a agonia
da porta-estandarte e o mestre-sala tremia
como quem nasce (oh, carnaval)
em círculos de bronze
rodas de samba, brazões e tradições...
surgiram equações no gesto
e dúvidas no esquadro:
os passos seriam milimétricos;
os giros do compasso eram a agonia
da porta-estandarte e o mestre-sala tremia
como quem nasce (oh, carnaval)
em círculos de bronze
rodas de samba, brazões e tradições...
as evoluções do passista
no tapete vivo de carne e asfalto
são a esperança
e a voz do crooner , desafinada,
era talho e atalho no corpo
inerte e inerme
da platéia
(que se oferece dúbia,
nas curvas, como um rio
marmóreo, límpido, onírico)
no tapete vivo de carne e asfalto
são a esperança
e a voz do crooner , desafinada,
era talho e atalho no corpo
inerte e inerme
da platéia
(que se oferece dúbia,
nas curvas, como um rio
marmóreo, límpido, onírico)
a praça sozinha,
em meio à multidão, sorri
sua forma bem lavada
em barras de suor,
lágrimas felizes
e aço em combustão
em meio à multidão, sorri
sua forma bem lavada
em barras de suor,
lágrimas felizes
e aço em combustão
mas o carnaval
nasce assim, maduro:
é o tempo
paridor de estrelas
cubos, alvoradas e cristais;
nasce assim, maduro:
é o tempo
paridor de estrelas
cubos, alvoradas e cristais;
lágrimas congeladas,
sorrisos y sorridentes
- brincantes forjados em laboratório
é o carnaval
que da estrutura dos ritmos
criou a linha do viver
e o carnaval está nas gentes
incrustado como a ostra
à espera da semente perolar
que da estrutura dos ritmos
criou a linha do viver
e o carnaval está nas gentes
incrustado como a ostra
à espera da semente perolar
está no tempo a descoberto
para o orvalho e o raio
sob a chuva e as margaridas
com prêmios de mil centavos
para o orvalho e o raio
sob a chuva e as margaridas
com prêmios de mil centavos
sim, e ele explode em nós
em glóbulos, nas artérias
e dele correm os homens tranqüilos
em rodas e pedais do esquecimento
em glóbulos, nas artérias
e dele correm os homens tranqüilos
em rodas e pedais do esquecimento
para quem amou
nele está o segredo, ou no umbigo,
o silêncio antigo, o ruído das palavras
o atrito e a entrada da lâmina
no subterrâneo do prazer!
nele está o segredo, ou no umbigo,
o silêncio antigo, o ruído das palavras
o atrito e a entrada da lâmina
no subterrâneo do prazer!
e o museu com o que se disse
e o que não se disse
e o passado em retângulos de mármore
vê o carnaval como paralelos
cravados sobre o chão
e o que não se disse
e o passado em retângulos de mármore
vê o carnaval como paralelos
cravados sobre o chão
lá estão o moço e a moça
os seus estremecimentos
e a criança
- seu medo de ser aborto e natimorta
os seus estremecimentos
e a criança
- seu medo de ser aborto e natimorta
no bar do parque, aqui sim,
aqui gasta-se o níquel
e don Juan deseja o mulher do próximo
aqui gasta-se o níquel
e don Juan deseja o mulher do próximo
- aqui se ama, se amou, se amaram
o índio e a loira sob os lençóis do horizonte
a gênese do carnaval
líquido, alegre, sujo, loucoricida,
entrementes, é imensa e única:
- de um fio faz-se o tecido,
- por um fio faz-se a massa
estonteante da mulher amada
(margens calculadas para o amor)
líquido, alegre, sujo, loucoricida,
entrementes, é imensa e única:
- de um fio faz-se o tecido,
- por um fio faz-se a massa
estonteante da mulher amada
(margens calculadas para o amor)
e por um fio fez-se o poema e a roupa
por um fio faz-se um filho e um rio
por um fio faz-se encurtar distâncias
por um fio também jorra
o sangue dos que fazem o crime, a guerra
por um fio,
podemos salvar o nosso carnaval...
podemos salvar o nosso carnaval...
[Publicado no jornal Folha do Norte, de Belém,
Em 30 de janeiro a 5 de fevereiro de 1978]
Em 30 de janeiro a 5 de fevereiro de 1978]
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