(trad. William Lagos)
Adaptado
três vezes para o cinema e outras três vezes para a TV, o
romance O Grande Gatsby (1925) ganhará nova versão cinematográfica em 2013. Ela será, com certeza,
estonteante, reluzente, exagerada e diabolicamente excitante, já que virá pelas
mãos do diretor de Moulin Rouge (2001), Baz Luhrmann. Então
parece apropriado reler a história para, quando formos assistir ao filme,
suprimirmos dele toda a falta de sensatez que o diretor certamente injetará nas
cenas fulcrais do livro, como a primeira festa no palacete de Gatsby a que Nick
Carraway comparece. Mas, pelo que já pode ser visto no trailer, Baz também
deverá oferecer doses generosas de diálogos literais extraídos do livro, como a
insólita frase que Daisy dirige a Gatsby no reencontro dos dois, a coisa mais
estúpida que uma mulher poderia dizer ao grande amor de sua vida: “Certamente
tenho um imenso prazer em vê-lo de novo.”
Fitzgerald
(1896-1940) , o autor do livro, é uma unanimidade dentro e fora dos Estados
Unidos, uma sombra que persegue – junto com tudo o mais que aconteceu no Entre
Guerras – , todos aqueles que idealizam uma vida com liberdade, riqueza,
inteligência e fígado blindado contra porres homéricos. Antes de O Grande
Gatsby – concluído na França quando Fitzgerald já estava casado com Zelda
Sayre – , ele já tinha publicado dois romances que o tornaram famoso: Este Lado do Paraíso (1920) e Os Belos e Malditos (1922). Mas em 1925 ele tiraria
todo o excesso e arrastado que houvera em Os Belos e Malditos, manteria
a temática da vida irresponsável e libertina de jovens norte-americanos ricos,
e criaria Gatsby, uma pequena joia feita de ritmo alucinante com
interrupções para solos estridentes. Como alguns dizem, a tradução, em letras,
do jazz.
A
história, você bem sabe, é narrada por Nick Carraway, um interiorano que chega
em Nova York para trabalhar na Bolsa de Valores e, graças a parentes distantes,
acaba frequentando a alta e suspeita sociedade que mantinha mansões e festas no
litoral de Long Island. Uma dessas mansões, que vinha a ser vizinha do modesto
sobrado onde ele morava, pertencia Gatsby. Quando se conhecem, Gatsby
descobre que Nick era parente de um antigo amor que ele abandonou para ir à
Primeira Guerra e pede que ele dê uma de cupido, reatando o romance dos dois.
O
impactante da narrativa é nem tanto o mistério que envolve Gatsby, porque não
se sabe ao certo de onde ele veio nem como enriqueceu, apenas que enriqueceu
por meios ilícitos, mas a ingênua defesa que Nick tenta fazer do gênero humano,
mostrando que, por trás das aparências, como lhe ensinou seu pai, as pessoas
têm suas boas razões. Em 2013, Nick será vivido por Tobey Maguire, que já foi o
homem-aranha no cinema. Não consigo pensar em escolha mais confiável. Tobey tem
o rosto certo para transmitir a mensagem de que a vida dos que nasceram ricos é
muito boa, muito invejável e sedutora mas, obrigado, prefiro continuar pegando
o trem para trabalhar porque não quero que nada de trágico aconteça comigo.
Abaixo
selecionei algumas partes bacanas. A tradução que usei foi de William Lagos,
compilada para a edição de bolso da L&PM. Mas a Penguin Cia. das Letras lançou
a sua também,
feita por Vanessa Barbara em 2011. Como houve várias versões do romance para as
telas, creio que valha a pena ler as várias traduções que há para o português.
Gatsby
“Sorriu
com compreensão, com muito mais do que compreensão. Era um desses raros
sorrisos que trazem em si algo de segurança e de conforto; um desses sorrisos
que você encontra umas quatro ou cinco vezes em toda uma vida. Um sorriso que
parecia encarar todo o mundo, a eternidade, e então se concentrava sobre você,
transmitindo-lhe uma simpatia irresistível. Era um sorriso que o compreendia
até o ponto em que você queria ser compreendido, acreditava em você como você
gostaria de acreditar em si mesmo e lhe garantia que tinha de você a impressão
mais favorável que você teria a esperança de comunicar.” (p. 59)
Sabedoria
“Ele
disse, e eu repito com a mesma pretensão, que um fato fundamental da vida é que
qualidades como decência e dignidade são distribuídas aos homens com grande
desigualdade ao nasceram.” (p. 8)
“No
crepúsculo encantado da metrópole, sentia algumas vezes uma solidão assombrosa
e percebia que outros também a sentiam jovens pobres, que gastavam o tempo em
qualquer restaurante; jovens funcionários de escritório perdidos no crepúsculo,
desperdiçando em noites vazias os momentos mais pungentes de suas vidas.” (p. 68)
“Não há
intensidade de ardor ou de euforia que possa desafiar aquilo que um ser humano
é capaz de armazenar em seu fantasmagórico coração.” (p. 111)
“E
invariavelmente nos entristece contemplar com novos olhos qualquer coisa a que
já estamos adaptados.” (p. 120)
O verniz
da sociedade
“Agora
pretendia trazer toda essa cultura de volta à minha vida e tornar-me o mais
limitado dos especialistas, o ‘homem bem informado’.” (p. 11)
“(…) a
melhor coisa que pode acontecer a uma menina boba neste mundo, ser um linda
bobinha.” (p. 26)
“ (…) – E
eu gosto de festas grandes. São tão íntimas. Quando há pouca gente, não se tem
qualquer privacidade.” (p. 60)
“Desonestidade
em uma mulher é uma coisa que nunca se condena profundamente.” (p. 70)
“Os
americanos, embora dispostos e até ansiosos por servirem a alguém, sempre se
obstinaram contra a possibilidade de serem considerados camponeses.” (p.
102-103)
O sucesso
dos outros
“Era um daqueles
homens que atingem um grau tal de excelência aos 21 de idade que tudo que lhes
acontece depois tem um sabor de anticlímax.” (p. 13)
“Alguma
coisa em seus movimentos tranquilos e a posição firme de seus pés sobre o
gramado sugeria que era o próprio sr. Gatsby, que havia saído de casa para
determinar qual porção do céu lhe pertencia.” (p. 30)
“Ele
estava se equilibrando sobre o para-lama lateral do carro com a agilidade de
movimentos que é tão peculiarmente americana e que nos vem, suponho eu, da ausência
de trabalho braçal pesado na juventude (…)” (p. 75)
revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012
http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/12/o-grande-gatsby-f-scott-fitzgerald-trad.html
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