segunda-feira, 23 de março de 2015

TARDE NA ILHA, Moacyr Félix



TARDE NA ILHA,
                                            Moacyr Félix

 

Não sei por quê,
mas tenho
uma vontade mansa de tomar chá
com Thomas Stearns Eliot,
de não dizer nada
de não perguntar nada,
e ficar olhando
todas as manchetes e todas as capas
de todos os livros,
olhando de olhos vazios
não como os do morto, mas vazios
como o luar que orvalha a tamareira e o poço.

Uma vez ou outra, ouvirei
a colherinha pousar na porcelana frágil,
e é tudo que eu ouvirei, a colherinha de prata.

Talvez até lhe dissesse uma coisa qualquer, uma
                                                     [ coisa
só para quebrar o silêncio, só para isso,
uma coisa sem importância, simples, como por
                                                     [ exemplo:
Você sabe, ó T.S. Eliot, minha mãe já foi muito
                                                     [ bonita...

                                   Paris, 1950
"Tarde na Ilha
    In Invenção de Crença e Descrença
   
Civ. Brasileira, Rio de Janeiro, 1978


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