O CLUBE DOS
27 E O JORNAL PESSOAL AOS 27
Elias
Ribeiro Pinto
COLUNA DESTA TERÇA (9/9/14) NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ.
Mesmo
com toda bala (não diria com toda brahma, que seu editor, no ramo, se abstém),
com toda pancada (literal), o JP e seu exército de um homem só colheram também
flores em meio aos espinhos (perdoem-me a desgracida metáfora ajardinada)
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Pesa sobre a mitologia trágica do rock uma maldição: a maldição dos 27. Deve-se
ao fato de que alguns de seus grandes músicos deixaram o palco definitivamente
aos 27 anos, ceifados pelo acorde final da morte.
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A lista de jovens celebridades do rock que morreram nesta idade faz a fama de
qualquer cemitério: Brian Jones, um dos fundadores dos Rolling Stones, o
guitarrista Jimi Hendrix, a cantora Janis Joplin, o vocalista do The Doors, Jim
Morrison, e Kurt Cobain, líder do Nirvana. A mais recente vítima da sina
roqueira foi Amy Winehouse.
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Na verdade, essa expectativa mórbida de vida no mundo do rock cresce ainda mais
se gravitarmos em volta do Clube dos 27, para baixo e até o limite dos 30 anos
– idade acima da qual não se devia confiar, pregava uma música dos anos 1960. O
punk Sid Vicious morreu, acho, com pouco mais de 20, 21 anos. Não tenho lá um
conhecimento mais apurado no assunto (restrinjo-me aos dinossauros suspeitos de
sempre), mas lembro ainda do Tommy Bolin, do Deep Purple. De um cara do Chili
Peppers. Bem, vejam aí na aba roqueira do Google.
4
Na literatura, o corte da Indesejada ainda é mais embaixo, etariamente falando.
Basta pegar a moçada do romantismo brasileiro, do mal do século. Mundo afora,
então, a conta vai longe. Na poesia, a lista daqueles que os deuses chamam cedo
para a imortalidade daria para encher uma coluna como esta. O que, aliás, já
fiz.
5
Em versão no tucupi, também pesa sobre o Senadinho, uma confraria belenense, a
mística de que seus integrantes raramente ousam cruzar o umbral dos 70 anos de
idade. Mas essa mística, ao que parece, vem sendo desmoralizada nos últimos
anos – exatamente por não terem sido os últimos anos de muitos de seus integrantes.
Agora, convenhamos, 70 anos é um limite matusalêmico no mundo juvenil do rock.
Só mesmo um Keith Richards – tendo cheirado ou não as cinzas paternas – para
operar o milagre. Ou um Paul McCartney, que há muito superou os 60 e quebradas
que havia se imposto quando envergava o fardão de Sargento Pimenta. Que o
Serguei não vale – este já é da família de Quéops. A propósito, o Senadinho
ainda legisla, em causa própria, na celebração da vida com humor e fair-play?
6
Se 27 anos podem parecer precoces demais para morrer, mesmo no mundo acelerado
do rock’n’roll, em outros ofícios eles podem parecer bem mais longevos que os
70 anos quase provectos à cabeceira do Senadinho.
7
Criado em setembro de 1987, o “Jornal Pessoal”, de Lúcio Flávio Pinto, chega
hoje às 27 – não diria primaveras – estações de vida, às vezes abeiradas, sim,
daquela estadia no inferno rimbaudiana, mas que – e como ninguém é só de ferro,
como pensa a Vale – também podem se colorir de primavera. Afinal, mesmo com
toda bala (não diria com toda brahma, que seu editor, no ramo, se abstém), com
toda pancada (literal), o JP e seu exército de um homem só colheram também
flores em meio aos espinhos (perdoem-me a desgracida metáfora ajardinada).
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Estão aí os prêmios (alguns, exclusivos, inéditos, no Pará, no Brasil), o
reconhecimento mundo afora, a repercussão que o jornalzinho (só no tamanho) vem
ganhando.
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O “Jornal Pessoal” é motivo de orgulho para os paraenses. Mesmo para os que
combatem o JP (mas raramente se equipam para travar o bom combate), a
existência do jornal do Lúcio, acredite se quiser, torna essa gente melhor, ou,
de alguma forma, “menos pior”.
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Os 27 anos do “Jornal Pessoal”, no massacrante jornalismo chamado alternativo
em que germinou, representam uns prodigiosos 72 anos no mundo do rock. É muita
pauleira. E esses 72 anos habilitam que o JP se ajeite à cabeceira do
Senadinho, por ter cruzado a mística. Que o seu editor, às vésperas dos 65,
parece tão enxuto quanto a sua criação.
11
Criador e criatura acabam de ser agraciados com a presença na lista dos
jornalistas mais admirados do Brasil. Para um, que a vida (re)comece, logo
mais, aos 70; e que aos 27, para o outro, mais que a utopia, seja a manhã que
se reinaugure, em meio à espreita de melancolias e mercadorias. Parabéns!
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