A Dúvida, a Solidão, logo... a
Escrita
Marguerite
Duras
Na vida, chega um momento - e penso que ele
é fatal - ao qual não é possível escapar, em que tudo é posto em causa: o
casamento, os amigos, sobretudo os amigos do casal. Tudo menos a criança. A
criança nunca é posta em dúvida. E essa dúvida cresce à sua volta. Essa dúvida,
está só, é a da solidão. Nasce dela, da solidão. Podemos já nomear a palavra.
Creio que há muita gente que não poderia suportar o que aqui digo, que fugiria.
Talvez seja por essa razão que nem todos os homens são escritores. Sim. Essa é
a diferença. Essa é a verdade. Mais nada. A dúvida é escrever. É, portanto,
também, o escritor. E com o escritor todo o mundo escreve. É algo que sempre se
soube.
Creio também que sem esta dúvida primeira do gesto em direção à escrita não existe solidão. Nunca ninguém escreveu a duas vozes. Foi possível cantar a duas vozes, ou fazer música também, e jogar tênis, mas escrever, não. Nunca.
Marguerite Duras, in
"Escrever"
http://www.citador.pt/textos/a-duvida-a-solidao-logo-a-escrita-marguerite-duras
Nenhum comentário:
Postar um comentário