Do coração e suas amarras
(Cantiga d´amor de refrão)
(Cantiga d´amor de refrão)
João de Jesus Paes Loureiro
Esconde o
oceano em uma lágrima,
acumula
navalhas na memória,
em óvulo
reparte o nascituro,
cala os
apelos da noite, silencia
todas as
falas orantes por amor,
apaga-me
as lembranças, retira-me
a força
de meus braços, sufoca-me
os ais!
de gozo, atira-me no abismo,
acumula
calvários em meus passos,
embaralha
equinócios, desregula
os astros
e estações, os hemisférios,
entorna o
rio-mar no vão da lua,
emudece o
cantar dos encantados,
desvirtua
o perdão dos tribunais,
desnatura
os semáforos, conflita
o
trânsito, embaralha os trilhos,
seca os
lábios de preces, degenera
a
via-láctea, aparta a unidade
da
Santíssima Trindade, cala
o Cântico
dos Cânticos, desliga
candelabros
no céu, desvaira vídeos,
refaz na
aurora a noite, desintegra
o DNA do
ser, desassossega
o sono,
afasta a mão amiga
e
desespera Deus, arranca o sol,
acumula
em meu peito as tempestades,
apaga
minha sombra, me rumina
em ódio
de cruentas profecias,
com
sílabas de sabres castra o verso,
retém o
curso ávido da vida,
sustem o
aracnídeo fio da morte,
faz do
Demónio meu Anjo da Guarda,
relega-me
vazio no ardil da sorte,
livra meu
coração de suas amarras,
desata-me
da linha do destino,
quebra os
fonemas de mim neste poema,
se eu não
morrer de amar de amor amado
se eu não morrer de amor por ti amada.
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