TRES
POEMAS DE FLORBELA ESPANCA
Ser Poeta
Florbela Espanca
Ser
poeta é ser mais alto, é ser maior
Do
que os homens! Morder como quem beija!
É
ser mendigo e dar como quem seja
Rei
do Reino de Áquem e de Além Dor!
É
ter de mil desejos o esplendor
E
não saber sequer que se deseja!
É
ter cá dentro um astro que flameja,
É
ter garras e asas de condor!
É
ter fome, é ter sede de Infinito!
Por
elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É
condensar o mundo num só grito!
E
é amar-te, assim, perdidamente...
É
seres alma, e sangue, e vida em mim
E
dizê-lo cantando a toda a gente!
Os versos que te fiz
Florbela Espanca
Deixa
dizer-te os lindos versos raros
Que
a minha boca tem pra te dizer!
São
talhados em mármore de Paros
Cinzelados
por mim pra te oferecer.
Têm
dolência de veludos caros,
São
como sedas pálidas a arder...
Deixa
dizer-te os lindos versos raros
Que
foram feitos pra te endoidecer!
Mas,
meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que
a boca da mulher é sempre linda
Se
dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te
tanto! E nunca te beijei...
E
nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo
os versos mais lindos que te fiz!
Canção grata
Florbela Espanca
Por
tudo o que me deste
inquietação
cuidado
um
pouco de ternura
é
certo mas tão poucas
Noites
de insónia
Pelas
ruas como louca
Obrigada,
obrigada
Por
aquela tão doce
e
tão breve ilusão
Embora
nunca mais
Depois
de que a vi desfeita
Eu
volte a ser quem fui
Sem
ironia aceita
A
minha gratidão
Que
bem que me faz agora
o
mal que me fizeste
Mais
forte e mais serena
E
livre e descuidada
Sem
ironia amor obrigada
Obrigada
por tudo o que me deste
Por
aquela tão doce
e
tão breve ilusão
Embora
nunca mais
Depois
de que a vi desfeita
Eu
volte a ser quem fui
Sem
ironia aceita
A
minha gratidão
Este poema foi musicado por Teresa Silva Carvalho e abre o album
"Meu Fado" da Fafá de Belém.
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