segunda-feira, 30 de setembro de 2013

mulher, francisco vaz brasil



mulher
francisco vaz brasil

          - para você, Baby


ah!
esse teu corpo
retilíneo
escultural
que se forma
de parede a parede
em linhas tropicais
-fenômeno
estrutural
entrelaçando
curvas e concavidades
em que me perco
em suspiros:
perplexo
labiríntico
como um rio
marmóreo, límpido,
oniricidade,
perplexidade,
loucuricidade
mulher!

VIAJAANTES: VIAJANTES! Paulo Guedes



VIAJAANTES: VIAJANTES!
                      
Paulo Guedes

 
Meu olhar
mira como seta no céu
Minha íris
reflete o arco ao léu
Meu amar
paisagens poetizam
E os meus versos
a bem viajar...
Uma curva à direita
Uma palavra à espreita
Uma estrofe a acelerar
Disparo
encurto distancia
Espero
sutil substancia
a bem declamar...
O que fazer
além de vender?
Escrever?
Negociar?
Barganhar prosas?
Fornecer...
Rimas ou rosas...

(Paulo Guedes, Parauapebas, 25/08/2013).

Último sonho juvenil, Paulo R. C. Guedes



Último sonho juvenil
Paulo R. C. Guedes



Curicas, cangulas, rabiolas, piruetas,
perseguíamos borboletas,
até hoje elas nos seguem!

Chuteiras, gandulas, padiolas, muletas,
pulávamos roletas,
até hoje elas nos contam!

Chaveiros, bulas, gaiolas, amuletos,
entupíamos maletas,
até hoje elas nos guardam!

Caveiras, mandíbulas, violas, guetos,
enchíamos viletas,
até hoje elas nos sonham...

Ainda bem que o relógio despertou!


 
(Paulo R. C. Guedes, Belém do Pará, 1975).

domingo, 29 de setembro de 2013

palavrório Francisco Vaz Brasil



palavrório
Francisco Vaz Brasil


Quando estou pra traquinagem
Eu caio na sacanagem:

Mordo rabo de fila de banco
Puxo orelha de xícara
Amarro gato em pé de mesa
Piso no pé da cadeira
Arranco o pé do chinelo
Calço sapato na cobra
Arranco os dentes do alho
Dou nó em trilho
Enfio prego sem estopa
Mijo fora do caco
Boto chifre na cabeça do cavalo
Piso nos cascos
Dou rasteira em elefante
Molho o pé da planta
que será almoço e janta
Gramaticalizo o pé da letra
Fujo do pé de briga
Subindo no pé do pau
Sigo o rastro do pé da moça
Enfio o pé na poça
Fico a um pé da fossa
Dou bom dia a cachorro
E descanso no pé do morro

Ah, depois, eu pinto o sete
Saio mascando chiclete
E vou-me embora pro sertão
Vou criar cabras no sertão
E viva os cabra de Lampião!

Isso aqui tá muito bão
Ão, ão, ão
Ão, ão, ao!

Isso aqui tá muito bão
Ão, ão, ão
Ão, ão, ao!

Chiquin foi às compras - Francisco Vaz Brasil



Chiquin foi às compras
                                                          Francisco Vaz Brasil



Só sendo papapaxibé pra entender o texto!

   Um dia eu tava buiado, pensei em ir “lá em baixo” comprar uns Tamatá e uma farinha de Bragança. Sá cume né... uns boró na mão, porreta. Tava numa murrinha tão grande, mas criei coragem, peguei o Sacrabala e fui. Cheguei tarde. Os urubus já tavam sobrevoando a área perto dos barcos. Tinha inté garça pur ali, sumano. Era fim de feira. É bem na hura dos preço baixarem. Fui atrás dos peixe. Só tinha peixe dispré. O maninho que estava vendênu tinha uma teba de orelha, do tamanho dum bonde.
  Cacete... O “gala-seca” espirrou em  cima do Mapará que o moço que tinha acabado de comprar, e no meu Tamatá e na Piramutaba também.
   Ficou tudo cheio de bustela...Axiiiiiii, porcaria! Não é potoca, não! O dono do Mapará se emputeceu e logo disse: “pô mermão porque tu fizesse isso?” e muquiou o orelha-de-nós-todos, mar malinou mermo, deu muita porrada no sacristão, pra ele aprender a fechar a boca e virar o focinho quando espirrar.
   Saí Dalí. Eu tava cum uma fome danada e fui cumê uma unha. Escolhi uma porruda! Égua, quase levei o farelo depois. Me deu um pirríqui do carái. Prucurei ali cum os sumano adonde era o cagadô. Peguei rápido uns jorná véio que tava no chão e curri pra cintina. Aliviô o aperreio... Alimpei as parte e vortei pras compra... Também, né, parece leso, querê cumê unha no veropa. Além do Tamatá e da Piramutaba, comprei uns mexilhão, um cupu e metá de um pirarucu, muito fiiiiiirme, mas um pouco pitiú. Ih, sumano, paresque já tava passânu da hora, mas num tava não - era o chêro dele mermo. A grana mirrô e antão arresorvi vortá pra casa.

   Fui pra parada esperar o busão e o saco cum as coisa - e o pirarucu fedênu. Lá, na parada, tinha duas pipira varejeira – as pirigueti eram muito bua sumano só quiria que tu visse os pernão delas! Elas tavam fazênu graça, olhâno prum celular. Eu pensando com meus botões...ÊEEEE, paresque que elas já qué fuscar... Mas, veio um Paar-Ceasa sequinho e elas entraram...Fiquei na roça; levei o farelo. Finarmente o Sacrabala chegô. Veio cheio pra caramba e ainda começou a cair um toró daqueles. Éééégua muleque, pensa num bonde lotado. Eu disse: éguaaaaaaaa, vomimbora logo.
   No Sacrabala lotado, com o vidro fechado por causa da chuva, começou aquele calor muito palha. Caraca meu, muito calor. Uma velhinha 'tava quase despombalecendo. Daí o velho que tava com ela gritava “arreda aí mininu pra senhora sentar aí no teu lugá. O menino falou: Hummmm, tá, cheroso... Mas o muleque se alevantô... Inda bem!
   Depois de muito empurra, empurra, nego passando por trás sem pedir licença, se esfreganu discaradamente nos trasêro nas dondoca, resorvi antão andar para a porta de saída. Putaquipá... O busão tava mermo cheio pacas e lá fui eu empurrando e os cara olhando cum a cara feia e as madami tapanu o nariz (pô, que porcaria fidida é essa?) Finarmente cheguei na porta do busão, prunto pra descer. Tava perto da parada. Puxei o siná de parada. O surdo do motora não parou. Ah, que cuisa que me dá uma raiva... “Aquele um” su pódi ser daquelas banda de lá, pensei. Dei mais um puxão no cordão pro busão parar. Finarmente, depois de uns bom esculacho, o sacripanta do chofer parô. Desci duas paradas depois. E o toró arriando lá fora... Corri pacas. As rua távam alagada pra caramba. Muiiita água! Cheguei em casa todo molhado, com as carça toda sabrecada de lama. Entreguei as coisa pra Dona Mocinha. Fui lá pra baixo da calha. A água tava fria pacas.    Assim mermo inda fui lá na baiúca do Nezinho e comprei um litro de açaí pra dá aquele gusto no armoço. Ao chegar, encharcado, cumprimentei o Nezinho:  E aí sumano: acuma é qui as coisa pra cá tão?” –As coisa pra cá tá tudo porreta sumano. Su essa chuva que intrapáia um  mucado, mas nós taí na parada”.    Quanto é sumano? – “Só cinco pau, mermão”. Falô Nezinho. Depois nóis si fala. Cheguei em casa co’ o  açaí. Foi num tapa. Cumemo paca... Depois tirei uma suneca na rede, qui ninguém é de ferro, inda mais co’ aquela chuva, n’é?