TENHO FRIO E ARDO EM FEBRE!
Olavo Bilac
E tremo a mezza state,
Ardendo inverno
(Petrarca)
Tenho frio e ardo em febre!
O amor me acalma e me
endouda! O amor me eleva e abate!
Quem há que os laços, que me
prendem, quebre?
Que singular, que desigual
combate!
Não
sei que ervada flecha
Mão
certeira e falaz me cravou com tal jeito,
Que,
sem que eu a sentisse, a estreita brecha
Abriu,
por onde o amor entrou meu peito.
O amor me entrou tão cauto
O incauto coração, que eu bem
cuidei que estava, ao recebê-lo, recebendo o arauto
Desta loucura desvairada e
brava.
Entrou.
E, apenas dentro,
Deu-me
a calma do céu e a agitação do inferno...
E
hoje... ai! de mim, que dentro concentro
Dores
e gostos num lutar eterno!
O amor Senhora, vede:
Prendeu-me. Em vão me
esforço, e me debato e grito;
Em vão me agito na apertada
rede...
Mais me embaraço, quanto mais
me agito!
Falta-me
o senso: a esmo,
Como
um cego, a tatear busco nem sei que porto:
E
ando tão diferente de mim mesmo,
Que
nem sei se estou vivo ou se estou morto.
Sei que entre as nuvens paira
Minha fronte, e meus pés
andam pisando a terra;
Sei que tudo me alegra e me
desvaira,
E a paz desfruto, suportando
a guerra.
E
assim peno e assim vivo:
Que
diverso querer! Que diversa vontade!
Se
estou livre, desejo estar cativo;
Se
cativo, desejo a liberdade!
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