CHAMA E FUMO
Manuel
Bandeira
Amor
– chama, e, depois, fumaça...
Medita
no que vais fazer:
O
fumo vem, a chama passa...
Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça...
Tanto
ele queima! E, por desgraça,
Queimado
o que melhor houver,
O
fumo vem, a chama passa...
Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça...
A
cada par que a aurora enlaça,
Como
é pungente o entardecer!
O
fumo vem, a chama passa...
Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder
Amor – chama, e, depois, fumaça...
Porquanto,
mal se satisfaça,
(Como
poderei dizer?...)
O
fumo vem, a chama passa...
A chama queima... O fumo embaça.
Tão triste que é!... tem que ser...
Amor?... – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa...
In: Estrela da vida inteira – poesias
reunidas
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