terça-feira, 17 de abril de 2012

Amar, verbo intransitivo - Mário de Andrade, techo


Amar, verbo intransitivo - Mário de Andrade
-trecho-

Publicado em 1927, o Idílio causou impacto.   Desafiou preconceitos, inovou na técnica narrativa. Sem nenhum prêambulo, Souza Costa e Elza surgem no livro. Souza Costa é o pai de uma típica família burguesa paulista do início do século. Elza, uma alemã que tinha por profissão iniciar sexualmente os jovens. Professora de amor. Souza Costa contrata os ?serviços; de Elza ,que por todo o livro é tratada por Fräulein – senhora em alemão; com o intuito de que seu filho inicie sua vida sexual de forma limpa, asséptica, sem se -sujar- com prostitutas e aproveitadoras. Ela afirma naturalmente que é uma profissional, séria, e que não gostaria de ser tomada como aventureira. Oficialmente, Fräulein seria a professora de alemão e piano da família Souza Costa.
     Carlos aparece brincando com as irmã, ainda muito -menino. Fräulein se ressente por não prender a atenção de Carlos no início, ele era muito disperso, mas gradualmente vai envolvendo-o na sua sedução. Eles tinham todas as tardes aulas de alemão e cada vez mais Carlos se esforçava para aprender -o alemão?!; e aguardava ansioso as aulas.
     Fräulein, em momentos de devaneios, criticava os modos dos latinos, se sentia uma raça superior, admirava e lia incessantemente os clássicos alemães, Goethe, Schiller e Wagner. Compreendia o expressionismo mas voltava à Goethe e Schiller. A esposa de Souza Costa, vendo as intimidades do filho para com ela, resolve falar com Elza e pedir para que deixem a família. Fräulein esclarece seu propósito de forma incrivelmente natural, e após uma conversa com o marido, a mãe decide que é melhor para seu filho que ela continuasse com suas lições.
     O livro é permeado de digressões. Mário de Andrade freqüentemente justifica alguns pontos (antes que o critiquem), analisa fatos, alude à psicologia, à música e até mesmo à Castro Alves e Gonçalves Dias. Mário compara a vida dos extrangeiros nos trópicos, entre Fräulein e um copeiro japonês. Mostra a dicotomia de pensamento de Fräulein entre o homem-da-vida ;prático, interessado no dinheiro do serviço; simbolizado por Bismarck – responsável pela unificação da Alemanha em 1870 à ferro e fogo e Wagner, retratando o homem-do-sonho. O homem-do-sonho representa seus desejos, suas vontades, voltar a terra natal, casar e levar uma vida normal. Mas quem vence em Fräulein é o homem-da-vida, que permite que ela continue o serviço sem se questionar.
     Carlos após ter tido ;a; aula mestra, começa a viciar-se em -estudar;. Certamente a didática de Fräulein era muito boa. Era tempo para Fräulein se despedir, tendo este trabalho concluído. Ela sabia que os afastamentos eram sempre seguidos de muitos protestos e gritos. Souza Costa surpreende Carlos com Fräulein ;tudo já armado; e utiliza-se deste pretexto para separá-los. Carlos reage defende Fräulein, mas mesmo ele fica aturdido diante do argumento do pai: e se ele tivesse um filho? Ainda relutante, ele deixa-a ir.
     Depois algumas semanas apático, Carlos volta a viver normal. O livro acaba mas continua. Escreve Mário de Andrade – ;E o idílio de Fräulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro está acabado. Fim. … O idílio acabou. Porém se quiserem seguir Carlos mais um poucadinho, voltemos para a avenida Higienópolis. Eu volto.
     Após se recupear, Carlos avista acidentalmente Fräulein, já em um novo trabalho, e apenas saudou-a com a cabeça. A vida continua para Carlos. Fräulein ainda iria seguir com 2 ou mais trabalhos para voltar à sua terra.

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