O CONGRESSO NOS REPRESENTA,
ELIAS RIBEIRO PINTO
COLUNA DESTA QUARTA (20/4/16)
Nem sempre é agradável nos
enxergarmos no espelho. À nossa porção Dr. Jekyll & Mr. Hyde. Médicos e
monstros se alternando em suas falas, em seus comportamentos. O circo expôs
suas aberrações (ou o sinônimo, wladimires), atrações, palhaços, malabaristas,
trapezistas.
Bem-vindos
ao Brasil. Por isso a sessão de domingo passado da Câmara Federal foi
instrutiva, didática, pedagógica. Abrangendo de um extremo a outro, digamos, de
Jean Wyllys a Jair Bolsonaro (mas outras extremidades também poderiam ser
alcançadas), o Brasil estava (e está) representado naquele plenário.
Sim.
Eleitos democraticamente, os políticos nos representam. A mim, a você, ao país.
Ainda que o deputado federal que recebeu seu voto não tenha sido eleito. Quem
votou em Dilma, Aécio e Marina também votou para o Congresso. A propósito, você
lembra em quem votou?
Dos
ditos progressistas aos visceralmente canalhas, dos panfletários (incluindo os
bíblicos) aos nauseantes (ou os dois somados), dos (raros) sensatos aos
tendenciosos (que só enxergam o que lhes interessa, à esquerda, à direita), era
o Brasil que se expressava no microfone. Inclusive, independente de cada
parlamentar a emitir seu voto, o que tivemos, ao final da votação, foi o
correspondente retrato da população – revelado em pesquisas – em sua rejeição
ao governo de Dilma Rousseff.
Nem
sempre é agradável nos enxergarmos no espelho. À nossa porção Dr. Jekyll &
Mr. Hyde. Médicos e monstros se alternando em suas falas, em seus
comportamentos. O circo expôs suas aberrações (ou o sinônimo, wladimires),
atrações, palhaços, malabaristas, trapezistas. Mas como o espetáculo não pode
parar, a lona continua armada. De domingo a domingo, no dia a dia brasileiro.
Você faz parte desse circo (na plateia?).
É
da mecânica comportamental, psicológica. Basta reunir centenas de pessoas em um
ambiente, compartilhando visões extremas, por horas, dias seguidos,
intercalando pronunciamentos, palavras de ordem. Depois de um tempo (vimos no
domingo passado), a bizarrice tende a se acentuar, em conluio com o pragmatismo
populista (estamos nos referindo a políticos). Daí também “aquilo” nos parecer
uma sala de aula em seus piores momentos, com alunos se atirando objetos, se
prometendo brigas “lá fora”, chutes na canela e bulinagens em geral. Quem já
viu um plenário em “esforço concentrado” sabe do que estou falando.
Ao
ver os deputados solando (inclusive na acepção futebolística do termo) sob a
regência de Eduardo Cunha (olimpicamente indiferente às facas que lhe eram
atiradas por integrantes da orquestra, do circo, como se ele fosse aquela
mocinha que fica impassível no alvo), lembrei-me de diversos artistas e
pensadores que buscaram representar o Brasil em suas obras.
Lembrei
de Mário de Andrade e sua síntese macunaímica (e Lula estava ali próximo), de
Cazuza exortando o Brasil a mostrar sua cara, da cordialidade polimórfica de
Sérgio Buarque de Holanda, da metamorfose ambulante de Raul Seixas (com seu
ouro de tolo), dos dissimulados e bacharelescos, de Machado de Assis a Jorge
Amado, do Brasil passado a limpo e a sujo, em Antonio Callado, João Ubaldo
Ribeiro, da hora espandongada da volta, de Drummond, em que homens e mulheres
imaginam esperar qualquer coisa, e se quedam mudos, últimos servos do negócio.
Mas
lembrei, principalmente, de Glauber Rocha. Claro, de “Deus e o Diabo na Terra
do Sol”. Óbvio, de “Terra em Transe”. Mas, no resumo da ópera, do circo, o que
me veio à lembrança foi o caos polifônico de “A Idade da Terra”, com o melhor e
o pior do cineasta. Foi um dos filmes mais rejeitados de Glauber. Em sua
profecia já quase póstuma, às portas da morte, o diretor vaticinou que sua obra
final era o Brasil. A profecia se cumpre no que o país tem (ou poderia ter) de
melhor e (com certeza) de pior.
Devemos
seguir até o enjoo, vomitar essa dor? Não, o tempo ainda não chegou de completa
justiça. Fundimo-nos no mesmo impasse.
Moreira
Franco, porta-voz do quase-ex-atual (vice-)presidente Michel Temer, disse que o
problema com que de imediato se defrontará o Temer presidencial será, em
primeiro lugar, a economia, em segundo, a economia, e em terceiro, idem. Pode
ser, diante da terra arrasada que o terrível governo de Dilma legará. Mas o
problema do Brasil, hoje e sempre (até quando?), será educação, educação,
educação. Pátria educadora? Como diria minha cunhada, é só capa. Fachada
cenográfica.
Que
a flor da democracia venha romper o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
https://www.facebook.com/elias.ribeiropinto/posts/10206307574909900
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