A LUZ NÃO SE APAGOU DENTRO DO LIVRO
Edmir Carvalho Bezerra
Saiu o garimpeiro em busca de diamantes de papel
percorreu milhas de terras,
sombras e mares
o ouro
o diamante
para sua amada
para o cinzel.
Lapidação tocante intocável,
depois a via láctea o acolheu,
mirou constelações, a gênese dos astros
invisíveis folheações minerais brilhavam,
uma fileira de luas
abandonadas
desacordadas
gordas
magras
corcundas
feito bananas amarelas.
Um planeta errante mapeado
sofre mais a solidão - tem sede esse planeta -
Cabeleiras de cometas lumiavam,
revoações coreografadas de meteoros
não se escondiam,
eram de vidro as portas escarlates.
A luz de um pássaro tempo
suspirava nas fronteiras do rio celeste,
no chão de papiro
de celofane
de seda sensível
de manteiga
de sabão
melofones e guitarras
embriagavam-se naquele fulgor liquido,
lousas verdes com limos de palavras esquecidas,
desencadernações metrificadas,
epístolas de algodão.
O rosto magnífico de um deus criança
brincava de sofrer de versos,
um deus enlouqueceu de amar.
Foi o garimpeiro gari
ancinhando as folhagens,
tanto juntou folhas e folhas
que teceu mais um planeta
redondo? Não!
Em forma de livro,
uma brochura abarrotada de imagens
costuradas a mão pelo fio de Ariadne,
a luz não se apagou dentro do livro.
O encadernador de folhas viu aquilo,
guardou dentro do infinito,
o planeta livro
planeta palavra
planeta letra
planeta música
planeta alma
estrelas pequenas
e grandes vieram
anjos, arcanjos e querubins vieram,
definitivamente Deus havia enlouquecido de amar.
O cruzeiro do sul inclinou-se mais um pouco,
as três Marias deram-se as mãos,
um girassol ficou perplexo,
paralisado,
um sol dentro de um livro?!
soletrando
soletrado
solivre
solivro
os anéis de saturno
ah! esses anéis sem dedos,
anéis em vão!
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