sexta-feira, 22 de abril de 2016

Lula: ascensão e queda, Lúcio Flávio Pinto



Lula: ascensão e queda
Lúcio Flávio Pinto



21 de abril de 2016 

     O artigo (Lula, ascensão, apogeu, declínio) que Almir Pazzianotto Pinto publicou ontem no Correio Braziliense, de Brasília, merece ser lido e meditado por todos que se preocupam com a situação atual e o futuro do Brasil.
     Pazzianootto tem currículo para legitimar as críticas contundentes que faz ao PT, a Lula e a Dilma. Foi advogado de sindicatos, atuando ao lado de líderes emergentes, como Lula, e os acompanhando nas lutas trabalhistas incrementadas no último período da ditadura. Depois fez carreira no topo do executivo federal e da justiça trabalhista, continuando a ser respeitado e acatado.
     Sua autoridade moral reforça o valor das observações que faz no artigo, reproduzido abaixo.
     O Partido dos Trabalhadores surgiu nos anos 80, como esperança de redenção das esquecidas classes trabalhadoras.
     O fundador, Luís Inácio Lula da Silva, nunca havia lido o “Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels, a “História do Primeiro de Maio” de Maurice Dommanget, “A Evolução da Classe Operária”, de Jürgen Kuczynski, “Greves de Ontem e de Hoje”, de Georges Le Franc,”História das Lutas Sociais” de Everardo Dias, algum livro de Caio Prado Júnior, ou obra que tratasse da revolução industrial.  Passava os olhos pelo “Diário do Grande ABC”, o que lhe bastava.
     Jamais se interessou pela história ou em conhecer a biografia de ex-presidentes, como Getúlio Vargas, o pai do trabalhismo, e Juscelino Kubitschek, o construtor de Brasília. Ainda sindicalista deixava transparecer traços de arrogância e autossuficiência.
     Quem conviveu com ele, nos duros tempos do regime militar no Sindicato dos Metalúrgicos, esteve ao seu lado em memoráveis assembleias de Vila Euclides, participou de intermináveis negociações com os empresários do Grupo 14, passou pelas intervenções do Ministério do Trabalho em 1979 e 1980, não poderá lhe negar aguda inteligência, sensibilidade social à flor da pele, espírito de luta, resistência nas adversidades, e capacidade única de converter derrotas em vitórias. Sentia, como os grandes políticos, “o cheiro do vento”.
     Lula foi o antipelego. Ao assumir a presidência do Sindicato em 21 de abril de 1975, como sucessor de Paulo Vidal Neto, o cenário trabalhista era dominado por Ary Campista, Argeu Egydio dos Santos, Joaquim dos Santos Andrade. O primeiro presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNI, o segundo presidente da Federação dos Trabalhadores dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, o terceiro, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Lula surgiu repentinamente como ameaça real ao peleguismo, por não prestar vassalagem aos dois primeiros, e disputar, com Joaquinzão, a liderança do sindicalismo paulista.
     Defensor da reforma trabalhista, e declarado adversário do Imposto Sindical, Lula passou a ser encarado pelos empresários da FIESP como algo novo e merecedor de atenção. Atraiu olhares de jornalistas, professores universitários, estudantes, donas de casa. Em poucos meses se converteu no líder capaz de dominar centenas de ouvintes em palestras realizadas nas principais capitais do País. Recordo-me, por exemplo, do encontro com artistas e a juventude carioca no Teatro Casa Grande, convidado que fora para expor seu pensamento quase revolucionário.
     A linguagem do metalúrgico era tosca, mas convincente. Logo se tornou companheiro de Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Teotônio Villela, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Pedro Simon, na campanha pelas eleições diretas.
     Não se lhe pode ignorar o relevante papel desempenhado na redemocratização. Pela primeira vez, após o golpe de 1964, a classe operária voltava às ruas como protagonista principal da vida pública. Algo, porém, sucederia ao se converter de oposição agressiva, incansável, aguerrida (que conheci quando Secretário do Trabalho do Governo Montoro e Ministro do Trabalho do Governo Sarney), em presidente da República.
Imagino que se deixou seduzir pela ambição. Faltaram-lhe humildade, cultura, experiência e sagacidade para entender Brasília e compreender que seus limitados recursos não bastavam para protegê-lo das artimanhas da política.
     A lua de mel com a economia, artificialmente inflada pelo consumismo desenfreado, durou 12 longos anos. As contas chegariam no segundo mandato de sua preferida, a presidente Dilma Roussef, e o saldo devedor é terrivelmente negativo.
     Milhares de empresas fecharam as portas. Tradicionais indústrias e milhares de negócios encerraram as atividades. A Petrobrás está em cacos. Grandes empreiteiras em recuperação judicial ou falidas. Mais de 10 milhões estão desempregados, sem dinheiro e endividados. Como será o segundo semestre?
     É a pergunta que todos fazem e ninguém é capaz de responder. Lula, Dilma, e o PT não podem se eximir das responsabilidades pelo fracasso. Será ridículo e inútil tentar responsabilizar adversários. Se lhes restar algum patriotismo e dignidade deverão ensarilhar armas e ajudar na recuperação da economia, sem atitudes temerárias e revanchistas.

https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2016/04/21/lula-ascensao-e-queda/

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