Lula: ascensão e queda
Lúcio Flávio Pinto
21 de
abril de 2016
O artigo (Lula, ascensão, apogeu, declínio) que Almir
Pazzianotto Pinto publicou ontem no Correio Braziliense, de Brasília,
merece ser lido e meditado por todos que se preocupam com a situação atual e o
futuro do Brasil.
Pazzianootto tem currículo
para legitimar as críticas contundentes que faz ao PT, a Lula e a Dilma. Foi
advogado de sindicatos, atuando ao lado de líderes emergentes, como Lula, e os
acompanhando nas lutas trabalhistas incrementadas no último período da
ditadura. Depois fez carreira no topo do executivo federal e da justiça
trabalhista, continuando a ser respeitado e acatado.
Sua autoridade moral reforça
o valor das observações que faz no artigo, reproduzido abaixo.
O Partido dos Trabalhadores
surgiu nos anos 80, como esperança de redenção das esquecidas classes
trabalhadoras.
O fundador, Luís Inácio Lula
da Silva, nunca havia lido o “Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Friedrich
Engels, a “História do Primeiro de Maio” de Maurice Dommanget, “A Evolução da
Classe Operária”, de Jürgen Kuczynski, “Greves de Ontem e de Hoje”, de Georges
Le Franc,”História das Lutas Sociais” de Everardo Dias, algum livro de Caio
Prado Júnior, ou obra que tratasse da revolução industrial. Passava os
olhos pelo “Diário do Grande ABC”, o que lhe bastava.
Jamais se interessou pela
história ou em conhecer a biografia de ex-presidentes, como Getúlio Vargas, o
pai do trabalhismo, e Juscelino Kubitschek, o construtor de Brasília. Ainda
sindicalista deixava transparecer traços de arrogância e autossuficiência.
Quem conviveu com ele, nos
duros tempos do regime militar no Sindicato dos Metalúrgicos, esteve ao seu
lado em memoráveis assembleias de Vila Euclides, participou de intermináveis
negociações com os empresários do Grupo 14, passou pelas intervenções do
Ministério do Trabalho em 1979 e 1980, não poderá lhe negar aguda inteligência,
sensibilidade social à flor da pele, espírito de luta, resistência nas
adversidades, e capacidade única de converter derrotas em vitórias. Sentia,
como os grandes políticos, “o cheiro do vento”.
Lula foi o antipelego. Ao
assumir a presidência do Sindicato em 21 de abril de 1975, como sucessor de
Paulo Vidal Neto, o cenário trabalhista era dominado por Ary Campista, Argeu
Egydio dos Santos, Joaquim dos Santos Andrade. O primeiro presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNI, o segundo
presidente da Federação dos Trabalhadores dos Metalúrgicos do Estado de São
Paulo, o terceiro, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Lula
surgiu repentinamente como ameaça real ao peleguismo, por não prestar
vassalagem aos dois primeiros, e disputar, com Joaquinzão, a liderança do
sindicalismo paulista.
Defensor da reforma
trabalhista, e declarado adversário do Imposto Sindical, Lula passou a ser
encarado pelos empresários da FIESP como algo novo e merecedor de atenção.
Atraiu olhares de jornalistas, professores universitários, estudantes, donas de
casa. Em poucos meses se converteu no líder capaz de dominar centenas de
ouvintes em palestras realizadas nas principais capitais do País. Recordo-me,
por exemplo, do encontro com artistas e a juventude carioca no Teatro Casa
Grande, convidado que fora para expor seu pensamento quase revolucionário.
A linguagem do metalúrgico
era tosca, mas convincente. Logo se tornou companheiro de Ulysses Guimarães,
Franco Montoro, Teotônio Villela, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Pedro Simon,
na campanha pelas eleições diretas.
Não se lhe pode ignorar o relevante papel desempenhado na redemocratização. Pela primeira vez, após o golpe de 1964, a classe operária voltava às ruas como protagonista principal da vida pública. Algo, porém, sucederia ao se converter de oposição agressiva, incansável, aguerrida (que conheci quando Secretário do Trabalho do Governo Montoro e Ministro do Trabalho do Governo Sarney), em presidente da República.
Imagino que se deixou seduzir pela ambição. Faltaram-lhe humildade, cultura, experiência e sagacidade para entender Brasília e compreender que seus limitados recursos não bastavam para protegê-lo das artimanhas da política.
A lua de mel com a economia, artificialmente inflada pelo consumismo desenfreado, durou 12 longos anos. As contas chegariam no segundo mandato de sua preferida, a presidente Dilma Roussef, e o saldo devedor é terrivelmente negativo.
Não se lhe pode ignorar o relevante papel desempenhado na redemocratização. Pela primeira vez, após o golpe de 1964, a classe operária voltava às ruas como protagonista principal da vida pública. Algo, porém, sucederia ao se converter de oposição agressiva, incansável, aguerrida (que conheci quando Secretário do Trabalho do Governo Montoro e Ministro do Trabalho do Governo Sarney), em presidente da República.
Imagino que se deixou seduzir pela ambição. Faltaram-lhe humildade, cultura, experiência e sagacidade para entender Brasília e compreender que seus limitados recursos não bastavam para protegê-lo das artimanhas da política.
A lua de mel com a economia, artificialmente inflada pelo consumismo desenfreado, durou 12 longos anos. As contas chegariam no segundo mandato de sua preferida, a presidente Dilma Roussef, e o saldo devedor é terrivelmente negativo.
Milhares de empresas fecharam
as portas. Tradicionais indústrias e milhares de negócios encerraram as
atividades. A Petrobrás está em cacos. Grandes empreiteiras em recuperação
judicial ou falidas. Mais de 10 milhões estão desempregados, sem dinheiro e
endividados. Como será o segundo semestre?
É a pergunta que todos fazem
e ninguém é capaz de responder. Lula, Dilma, e o PT não podem se eximir das
responsabilidades pelo fracasso. Será ridículo e inútil tentar responsabilizar
adversários. Se lhes restar algum patriotismo e dignidade deverão ensarilhar
armas e ajudar na recuperação da economia, sem atitudes temerárias e
revanchistas.
https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2016/04/21/lula-ascensao-e-queda/
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