Metamorfoses de James Joyce
Fabio Akcelrud Durão
A cada
releitura, sua obra suscita novas discussões e descobertas
James Joyce não é um clássico – se você
entender o termo em seu sentido usual, significando algo dotado de notável
constância, possuidor de uma verdade eterna, atemporal e universal. Os textos
de James Joyce não são clássicos, quando se imagina com isso que pertenceriam a
uma galeria de grandes obras intocáveis e dignas da maior reverência,
possuidoras cada uma de um sentido que seria importante preservar e difundir. A
verdade é o justo oposto: Joyce só vale a pena ser lido e interpretado enquanto
for capaz de suscitar questões e se mostrar como instrumento de descoberta:
enquanto sua obra não for igual a si mesma. Este dossiê traz quatro exemplos
disso.
No primeiro texto, Caetano Galindo
aceitou o desafio de tentar responder à pergunta que fiz a ele: “afinal de
contas, o que é o Finnegans Wake?”. Ele salienta que o Wake é mais do que um
livro, é um mito. Robert Brazeau confronta a crise na qual Ulysses nos coloca,
e ainda que defenda um certo tipo de esquecimento – fazer “como se” não
tivéssemos lido o romance – ele deixa entrever a postura oposta, o desconforto
de quem insiste em usar Ulysses como medida para todas as narrativas. Omar
Rodovalho, por sua vez, faz uma apreciação crítica da tradução de Galindo desse
épico moderno, o acontecimento literário de 2012. Apontando para a genialidade
do texto, não deixa de mencionar algumas insuficiências (inevitáveis!) nessa
obra que enriquece a literatura brasileira. Finalmente, Jonathan Goldman
sublinha o quanto a ficção de Joyce não apenas é permeada de elementos da
cultura popular, mas também o quanto esta apropriou-se dela. O artigo levanta
um problema que não soluciona (nem poderia): se as referências ao modernista
irlandês são uma mera estratégia de obtenção de prestígio, ou se abolem a
divisão entre alta e baixa cultura.
Em todos os textos deste dossiê, o
objetivo é fazer pensar sobre uma obra que pede exatamente isto: que façamos
algo com ela.
Fabio Akcelrud Durão é professor de Teoria Literária na
Unicamp e autor de Teoria (Literária) Americana e Modernismo e Coerência: Quatro
Capítulos de uma Estética Negativa, entre outros
http://ht.ly/X1tm8
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