A INTELIGÊNCIA DOS HOMENS SEMPRE PRECISARÁ DE PARÁBOLAS E DE FANTASMAS
[vontade de ser lido de novo.]
Edmir Carvalho Bezerra
Por de trás da minha voz há pequenos insetos que falam uma língua que só meu olho esquerdo entende. Uma água seduz a luz enquanto percorre o caminho até minha garganta.
Em latas eu sussurrava meus segredos adolescentes; as que se transformaram em lamparinas acendem suas línguas que murmuram; as outras criaram raízes que se enroscam nas pernas da noite e a penetram com meus pensamentos eróticos.
Eu sei. Todos têm segredos de fogo, mas a mão que olha a nudez das árvores, revela o desejo que botamos no pão. Sei que todos já ouviram os gemidos das abelhas quando se lambuzam nos orgasmos das flores.
Há uma história antiga escrita num papel pregado atrás da porta das casas onde nascem poetas. - Havia homens primitivos que se escondiam das feras mais terríveis. Por serem pequenos como gafanhotos, fugiram para as montanhas e vagaram anos até aprenderem a cantar com os pássaros e a falar à maneira da água que nasce com a língua escrevendo nas pedras. Suas leis iniciais foram a nudez e a música noturna. -
Não há nada em mim que não tenha conversado com memórias antigas. Então, você ainda não ouviu a oração dos meus dedos que nasceram em Tróia? Você não sabe a perfeição de cantar na floresta? Não sabe ser essa a razão que levou os pássaros coloridos a fazerem morada lá?
Escute, pois, só mais uma parábola: Numa noite meu pai burilava as alianças para as núpcias de um rei e uma rainha. O pó do ouro formava a nuvem onde escondi meus primeiros desejos íntimos, até chegar os tempos deles se abrirem nos olhos das plantas. Então comecei a escrever as palavras que eles diziam para mim:
- Seja delicado para resolver serenos; seja suficiente para cumprimentar os silêncios; invente deuses com feições de crianças; cultive a habilidade de encadernar sons; desenhe mulheres e homens iluminados; domine as asas das bocas onde nascem cantigas de ouro; guarde os livros na memória, pois homens estúpidos os jogarão fora; e aprecie sempre os contadores de histórias. As tempestades não se salvarão.
Edmir Carvalho Bezerra, em uma postagem no facebook