CHRONICLE ANDO
francisco vaz brasil
francisco vaz brasil
naquela
quinta, na kamara kó, danielle disse: “contraia os olhos subitamente o ar
parece estar mais salgado”. lembrei-me então ah... é agosto! minhas trezentas
rosas morenas retornam dos balneários tostadinhas pelo sol, mês em que getúlio
deu-se um tiro e entrou para a história, Jânio renunciou e kubitschek sofreu o
inexplicado acidente. O acendedor de lampião do solitário planeta esqueceu
justo naquela noite, de trabalhar, quando o princepezinho
de saint-exupèry ouviu da raposa que “tu és responsável por aquilo que
cativas”. corri aos sertões euclidianos e, as vidas secas daquela terra em
prosa de graciliano em suas memórias do cárcere. seguida vi o sal sobre os
corpos dos cangaceiros de lampião, os mortos de canudos e dos 111 corpos de
carandiru, sem contar as mortes a sangue frio da família clutter, em holcomb,
pelas palavras de capote. os dias passam correndo e, então, aprendo que copiar
de um é plágio, mas copiar de muitos é pesquisa. ora vamos, sim senhor:
ctrlc+ctrlv e eis que às proximidades do louvre, wilde mostra retrato de dorian
gray e na riviera escocesa aparece Joyce e seu retrato do artista quando jovem
sendo mostrado aos dublinenses. bate-me uma saudade enorme de o quinze de
Raquel e vejo que ninguém escreve ao coronel Gabriel. A angústia aumenta. volto
à minha infância na busca dos três mosqueteiros de dumas, nas aventuras de
huckleberry finn, dou umas voltinhas com moby dick, do Twain e passo direto a
uma visita a truman capote à breakfast at tiffany’s junto com audrey hepburn e
finalmente deleito-me em memórias de um natal de capote, nos contos de grimm,
espanto o corvo de poe, nos poemas walt whitman, vuelvo a los diecisiete e ouço
violeta parra, tropeço na pedra de Drummond e caio nos versos de soneto da
fidelidade, com vinícius. a noite vai chegando. Ah, como suave é a noite de
fitzgerald quando me deparo com o grande gatsby. o tempo passa, passa depressa,
então percebo o hemingway – ele, o velho e o mar. então ligo a vitrola e ouço
edith piaf, sinatra, beatles oh, yesterday, imagine, hey jude... armo a rede de
intrigas e finalmente durmo o sono dos inocentes...
Mas, antes, para
satisfazer uma vontade antiga, como em oração, vem-me à mente...
para
quem amou
nele está o segredo, ou no umbigo,
o silêncio antigo, o ruído das palavras
o atrito e a entrada da lâmina
no subterrâneo do prazer!
e o museu com o que se disse
e o que não se disse
e o passado em retângulos de mármore
vê a vida como paralelos
cravados sobre o chão...
nele está o segredo, ou no umbigo,
o silêncio antigo, o ruído das palavras
o atrito e a entrada da lâmina
no subterrâneo do prazer!
e o museu com o que se disse
e o que não se disse
e o passado em retângulos de mármore
vê a vida como paralelos
cravados sobre o chão...
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