Indizíveis
Francisco Vaz brasil
No instituto médico-legal
Dissecaram o corpo da palavra
Com um ereto cinzel
diamantado...
- a placa de Petri, horrorizada
observa
Paredes hirtas, tijolos
escarlates
Espectros imemoriais, silêncios
lancinantes
(gritos, lascívia, preguiça,
prazer...)
De gesso, tosco pensamento urge:
A palavra, sonora e fria
solenemente
Reage, nega, renega, sonega,
protesta,
Em súplicas, réplicas e
tréplicas;
Mexe, remexe, fragmenta-se em
sóis:
Pedaços de literariedades e sons
de cítara escorraçada...
E o meu computador insiste em
escondê-la
E agora multiplicam-se, saltando
como uma matrix
Projetando-se na tela (e não sei
como ordená-las
Em frases para dizer que te amo,
Nem canções que explicitem
adeus)
- puras reflexões incorpóreas,
sem arquitetura.
Murmúrios, marulhos, lamúrias,
entretendendo-se,
Originam a frase (?)
Travestida, mal-acabada entre
grãos de areia multicolor,
entre verbos e pronomes,
sujeitos mal-predicados,
Predicativos de erros e
metáforas sem rumo,
Intertextualidade arrítmica
( um rosto novo, pele nova e
opressora)
A geografia de teu corpo,
palavra,
Inacessível-sensaborosa-transcendental,
Está na curva, inscrita na íris
do olho,
Circunspecta, onde dúvida e
incerteza pairam
Numa canção do aonde se insere o
onde
E o quando se faz porque,
E a seta de um seio duro aponta
a direção
Do pensamento incoeso/perplexo,
sem
Amparo, Nexo, plexo, ponto
em desconexão...
Silêncios perniciosos de fonemas
inservíveis,
Cobras y lagartos mudos – e tu,
palavra, não sais
- você não sabe o que é
sentir-se
hirto como um morto,
Náufrago do pensamento perdido:
- parir um poema é mais fácil
que criá-lo.
Se bem que além-mar os peixes
combinam danças
E seus colares de letras
indizíveis
projetam meu olhar em tua
direção, palavra...
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