A VIOLÊNCIA NO PARÁ ENGORDA
Elias Ribeiro Pinto
Com medo de ser assaltado nas ruas paraenses, leitor diz ter ganhado 69
quilos ao deixar de se exercitar.
Publicado
no jornal Diário do Pará em 21/8/2014
1 Ainda que eu tente variar de assunto, puxando a conversa para temas
culturais – afinal, este é um caderno cultural –, ao comentar lançamentos
literários recentes ou rememorando eco de baladas perdidas nessa velha estrada
batida, a violência que nos assola o dia a dia sempre acaba se impondo em meio
ao papo, atravessando o samba e, literalmente, a avenida.
2 Você sabia que violência engorda? Isto, claro, se você não levou um
tiro, uma facada ou foi atropelado. Trocando (não falei “tocando”) em miúdos,
se você levou o farelo e já virou cadáver, que me perdoe o humor negro
involuntário. Que aí, o companheiro ou a companheira já deve estar só osso.
3 Mas sim, você sabia que a violência de Belém engorda? É, de Belém. Ao
menos é a justificativa para os 69 quilos a mais que Marco Antônio Veiga Jardim
adquiriu em sua passagem entre nós.
4 Explico. Na edição mais recente da revista “Época”, essa que está nas
bancas (que traz na capa o Eduardo Campos, assim como “Veja”, “Isto É”, “Carta
Capital”), o cidadão acima mencionado escreve uma carta para Marcio Atalla.
Professor de educação física e consultor do quadro “Medida certa”, do
Fantástico, Atalla assina uma coluna na “Época”.
5 O citado Marco Antônio informa pesar 169 quilos distribuídos em 1,82
metro de altura. Bem acima do peso recomendável, os médicos, diz ele a Atalla,
aconselharam-no a operar o estômago. “Sempre fui atleta. Nunca bebi e nunca
fumei”, garante. E acrescenta com um toque, digamos, não prostático, mas
geogastronômico pós-conjugal: “Engordei quando me separei e fui morar no Pará”.
6 Isso mesmo. E sabe por que ele engordou? “Lá [ou seja, aqui], parei
com as atividades físicas, porque tinha medo de assaltos na rua. Passei a beber
muito refrigerante. Ganhei 69 quilos. Tenho medo de operar. Você acha que, aos
52 anos, posso acabar com tanto sobrepeso somente com dieta?”
7 Certamente escolado com as mais absurdas e alopradas (vide Ronalducho)
desculpas de seus alunos fofinhos, Atalla responde que, com certeza, “não foi
só o refrigerante” que fez o Marco Antônio “ganhar tanto peso” – além, como
deixa subentendido o leitor, de “compensar alguma necessidade emocional com a
alimentação”.
8 Marco Antônio remete sua mensagem de Minaçu, cidade de pouco de mais
de 30 mil habitantes, situada no norte goiano. Não sei se é o seu torrão natal.
Ele também não diz se, no Pará, morou em Belém. É verdade que a violência nas
ruas das cidades paraenses, na capital, em particular, deve intimidar a quem
pretenda caminhar ou correr ao ar livre (e não deve ser muito diferente em
Goiânia, por onde circula o motoqueiro matador de mulheres e mocinhas). Mas
sempre haverá academias. Agora, a violência não poupa nem pedestres nem
motoristas, a exemplo do médico Antonio Cerejo, baleado em seu carro, em
tentativa de assalto, logo depois de sacar dinheiro de um banco em plena
avenida Nazaré, em frente à Basílica. Uau.
9 Que a violência engorda, ficamos sabendo (junto com os leitores de
“Época”) agora pelo Marco Antônio. Mas além do medo de se exercitar pelas ruas,
certamente um açaí do bom, do papa, adubado na tapioca, uma maniçoba, um
patinho no tucupi, huuum, devem ter contribuído para os 69 quilos excedentes do
leitor carente e descompensado.
10 E agora? Se correr, o bicho pega; se ficar (e sabemos, tomou açaí,
ficou), o bicho come. E come até beirar os 200 quilos.
https://www.facebook.com/elias.ribeiropinto/posts/10202666941736346
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