A atividade madeireira chegou ao fim?
Francisco Augusto Vaz Brasil*
Ficaste triste quando ao passar pela Av. Bernardo Sayão viste as portas das estâncias que ali funcionam, devidamente fechadas. Ali, muitas pessoas compravam tábuas para construírem ou reformarem seus barracos ou fabricarem móveis. No outro dia havia uma grande quantidade de barcos, com tábuas, ripas e outros produtos de madeira que foram apreendidos pela fiscalização do Ibama. O cenário era, visto de longe, o de que haveria uma regata, um evento esportivo. Que tristeza. O que os barqueiros, os estancieiros e carpinteiros farão agora, Francisco? Lembras do Sr. Leopoldo Pantaleão de Araújo, que era dono da Masmical, ali no Repartimento? Aquele era um dos homens mais íntegros que conheceste na atividade madeireira. Lembras quando o pessoal do IBDF, que junto com a polícia invadiram sua serraria como se estivessem procurando o pior assassino ou traficante e o humilharam tanto, que ele deixou o Pará só com a roupa do corpo? É assim que se acaba com uma atividade. Taxando todos de malfeitores, delinqüentes. Tu sabes que na Terra do Já Foi, os madeireiros foram os que se atiraram de corpo e alma para desenvolver estas paragens, criando empregos, construindo estradas, dando apoio à construção das primeiras escolas, postos de saúde, levando a comunicação e outras benfeitorias. Lembras qual era a população de Altamira, Uruará, Medicilândia, São Geraldo do Araguaia, Xinguara, Conceição do Araguaia, São Félix do Xingu e outros mais? Pois é: estas cidades nem existiam. Ali, só alguns índios, completamente esquecidos pela civilização. Lembras qual era a atividade dos habitantes das muitas localidades espalhadas pela Terra do Já Foi? Culturas de subsistência e a ajuda de Deus. Alguma vez tu viste o falecido ibdf ou o todo poderoso ibama plantando uma mudazinha, apesar de todos pagarem taxas disso e daquilo e fundo florestal? Tu bem sabes que quem trabalha a floresta não a derruba, não a devasta. Utiliza-a de forma racional, dentro de técnicas que permitem retirar apenas as árvores em condições de corte. Sabes que quem cria normas e leis nunca esteve em um acampamento, no mato, com a rede armada, sentindo a brisa, as chuvas, o farfalhar das folhas sob o vento, o pouso de um mutum, ou tomou café às 4 e meia, feito na lata mais enfumaçada e no saco mais fundo e roto. E jamais viu carregar um caminhão na catraca. A floresta, tu o sabes, se regenera e rapidamente. Quando retiras algo de um lugar ou abres uma estrada, por mais longa que seja, em pouco tempo estará o caminho tomado pelas plantas. Só o pessoal das ongs e os desinformados não sabem disso. Tu lembras do dia em que o Raimundo Pega Velha (que Deus o tenha) foi carregado mato adentro por uma onça que deixou apenas a rede rasgada? Pois é. Bem que o madeireiro tenta, mas as terras são da União. E por causa do desencontro de informações, e da não legalização das terras, os projetos florestais empacam nas gavetas, mas os impostos são cobrados – e pagos. E os executores da política florestal trocam de sigla todo ano e são os que menos entendem de floresta, rio e montanha e não tem um direcionamento de como gerenciar o problema. Mas entendem de confiscar, multar, denegrir, humilhar. Daí que os projetos florestais enfeitam escrivaninhas. Quem deveria ajudar a desenvolver, a mostrar a melhor técnica, desemprega em massa, confisca e faz apodrecer o produto apreendido. Agora é moda falar em desmatamento, destruição. Mas as fotos mostradas são as mesmas. E o tapete verde, visto a 500m de altura, de um avião é o mesmo. Não é estranho? E o resgate do carbono, a nova moda de pegar dinheiro de trouxa? Estes investimentos são louváveis, e funcionam como paliativo, como parte de um perdão para os que dilapidam o bolso do povo de quem trabalha. Quem espalha fumaça pelas descargas de veículos e lança o carbono pelas chaminés, emporcalha os rios com produtos químicos e rasga a terra em busca de tesouros, estes, sim, deveriam pagar a conta. Francisco, um dia falaste que a Terra do Já Foi voltará a ser como na época do Forte Feliz Luzitânia, para deleite dos que dizem que estão acabando com a Amazônia: só mato, papagaios e os primeiros habitantes do lugar. E isso será bom para o turismo, pois os gringos ficarão extasiados com a beleza natural da região, com os macacos pulando de galho em galho e os carapanãs e piuns lhes aplicando uma injeção de ânimo e malária, coisa corriqueira entre os que conhecem e amam de verdade estas matas. Não fique triste, Francisco. Há muito os madeireiros já fazem o plantio de mudas nas matas e implantam e reflorestam e, enfim, fazem a sua parte. Tua neta ainda há de ver teus pés de mogno e cedro em ponto de corte, com aprovação de um órgão competente, que realmente saiba como fazê-lo.
* Engenheiro florestal e Agente de Transações de Comércio Internacional
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